'Um ato irresponsável por parte do governo do Estado', dizem pecuaristas
Novo status de área livre da aftosa sem vacinação preocupa produtores paranaenses
PUBLICAÇÃO
sábado, 25 de maio de 2019
Novo status de área livre da aftosa sem vacinação preocupa produtores paranaenses
Reportagem local
Desde 2008, o Paraná é reconhecido pela OIE (Organização Mundial de Saúde Animal) como área livre da febre aftosa com vacinação. Agora, contudo, ele caminha para receber um novo status: livre da doença sem a vacinação. Santa Catarina é atualmente o único estado do País com tal reconhecimento, que gera ainda muito impasse entre produtores e algumas sociedades rurais. O Multi Agro deste domingo (26) traz detalhes sobre o assunto.
A última etapa da campanha da vacinação contra a doença teve início no dia 1º de maio e termina no próximo dia 31. Uma novidade deste ano foi a redução na dosagem de 5 ml para 2 ml, além da especificidade do vírus. “Antes eram três sorovares, agora são apenas dois”, explicou o fiscal de defesa agropecuária da Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná), Walter Piola Júnior.
O Estado já vem se preparando há vários anos para obter o novo status. No ano passado o Paraná recebeu auditorias do Ministério da Agricultura e o serviço de defesa daqui foi considerado o melhor do Brasil. “Isso será um avanço para a nossa pecuária, porque novos mercados serão abertos para a exportação, não só de carne bovina, como também suínos e aves”, explicou Piola Júnior.
O reconhecimento pelo Mapa (Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento) e a OIE será oficializada em 2021. Um dos desafios, contudo, será quanto à fiscalização, já que o Paraná faz fronteira com os estados de São Paulo, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul, além do Uruguai, Paraguai e Argentina. “A Adapar já vem se preparando para isso. Temos os postos fixos de fiscalização em rodovias e as barreiras volantes também serão intensificadas”, declarou.
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VISÃO DO PECUARISTA
Essa nova posição que o Paraná assumirá de livre de aftosa sem vacinação não está agradando a todos. “Nós não somos contra o desenvolvimento do nosso Estado. Mas, por enquanto, não estamos preparados para isso”, disse o pecuarista José Moacir Turquino. A maior preocupação, de acordo com ele, é o intercâmbio que acontece, principalmente, entre o Paraná e os estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul, pois aqui a agricultura é mais forte que pecuária.
O fato de o Estado adquirir o status sozinho também é motivo de preocupação. “Eu acho que sair sozinho, antes dos blocos, chama muito a atenção. Além de não estamos preparados, o mercado também não está exigindo isso”, reclamou o veterinário Luciano Penteado.
Outro ponto abordado pelos pecuaristas que são contra essa decisão é que o Paraná não é autossuficiente na produção de bezerros. “Como técnico da área de reprodução, isso me preocupa muito. E o produtor tem que se conscientizar. Pois, alguns podem achar que o valor da arroba vai chegar a mais de duzentos reais e isso não vai acontecer”, garantiu Penteado.
O pecuarista Clayton Lopes de Paula também considera a decisão precipitada, já que, inevitavelmente, os outros estados também receberão o status, é só questão de tempo. “Por que não esperar? Vejo isso como um ato irresponsável por parte do governo do Estado. Eles não estão pensando em seus produtores de bovinos” afirmou.
O Multi Agro vai ao ar no domingo (26), a partir das 8 da manhã, na MultiTV (Canais 20 e 520 da Net), com reprises diárias durante a programação.