O produtor Fredy Nicolaas Biersteker destaca a valorização do trigo, mas preço de produção também cresceu
O produtor Fredy Nicolaas Biersteker destaca a valorização do trigo, mas preço de produção também cresceu | Foto: Arquivo pessoal

O maior produtor de trigo do Brasil está na região dos Campos Gerais. Tibagi colheu 111 mil toneladas do cereal em 2020, em uma área total de 30 mil hectares. Isso representa pouco mais de 15% de toda a produção paranaense de trigo. A potência na cultura rendeu o codinome ao município, com população de 20,6 mil habitantes, de Capital Nacional do Trigo.

Imagem ilustrativa da imagem Tibagi, nos Campos Gerais, é destaque nacional no trigo

O secretário municipal da Agricultura de Tibagi, Agérico Aníbal Carneiro Prestes, explica que o clima favorável, com inverno frio e chuvas regulares, além da altitude que varia entre 800 e 1.300 metros, são ingredientes que favorecem o desenvolvimento da cultura.

“O sucesso na cultura do trigo ocorre em função dos produtores que adotam boas práticas de manejo e tecnologias de produção eficazes. O cereal se adapta aos sistemas de rotação de culturas e de plantio direto. Isso favorece a correção e a fertilidade do solo, além do controle de pragas e doenças”, enumera.

O secretário da Agricultura de Tibagi acrescenta que, pelo sistema de rotação adotado nas propriedades do município, a plantação do trigo é entremeada com culturas de verão, como soja, milho e feijão.

O trigo é responsável hoje pela geração de aproximadamente 600 empregos diretos e indiretos em Tibagi. Ao todo, são cerca de 500 produtores trabalhando no município com essa cultura.

Trigo gera hoje cera de 600 empregos diretos e indiretos, segundo a Secretaria Municipal da Agricultura
Trigo gera hoje cera de 600 empregos diretos e indiretos, segundo a Secretaria Municipal da Agricultura

O secretário acrescenta que os maiores desafios dos produtores de trigo hoje em Tibagi são ter acesso a linhas de crédito e a um seguro agrícola adequado, além de vencer gargalos na colheita, no armazenamento e no transporte dos grãos.

Impulsionado pelo trigo, Tibagi passou a figurar no seleto grupo dos 14 municípios bilionários no somatório das riquezas produzidas pelo campo no Paraná em 2020 – conjunto formado pelos municípios que alcançaram valores superiores a R$ 1 bilhão no VBP (Valor Bruto da Produção Agropecuária).

O município na região dos Campos Gerais está na 10ª colocação, com VBP de R$ 1,26 bilhão. Em primeiro lugar está Toledo, com R$ 3,48 bilhões.

CHUVAS

O representante do Paraná na Câmara Setorial da Cadeia Produtiva de Culturas de Inverno no Ministério da Agricultura, Ivo Carlos Arnt Filho, declarou que o excesso de chuvas no início de outubro poderá prejudicar a produção de trigo no Estado.

“O trigo que já está pronto para colher pode ter sido prejudicado. A quantidade não deve ser afetada, mas a qualidade do grão sim. Caso a qualidade seja prejudicada, o preço do principal produto proveniente do trigo consumido pela população, o pão francês, poderá subir”, alertou.

DESAFIO

“A qualidade deverá ser inferior neste ano. O nosso maior desafio tem sido o clima, extremamente adverso. Tivemos três geadas, temperatura negativa, seca. E depois da seca, quando começamos a colher, começou a chover”, destaca o engenheiro agrônomo e produtor de trigo Fredy Nicolaas Biersteker. Hoje, ele tem 160 hectares plantados de trigo na sua propriedade em Tibagi.

O produtor acrescenta que outro desafio é encarar a alta de insumos. “Está faltando desde embalagem plástica até fertilizantes e defensivos. A tendência é aumentar o preço ainda mais e isso deverá encarecer o custo da lavoura”, projeta. Hoje, o custo total estimado de produção é de R$ 3,5 mil por hectare.

O produtor Fredy Nicolaas Biersteker destaca a valorização do trigo, mas preço de produção também cresceu
O produtor Fredy Nicolaas Biersteker destaca a valorização do trigo, mas preço de produção também cresceu | Foto: Arquivo pessoal

Há 19 anos se dedicando à cultura, Fredy escolheu o trigo por ser a melhor opção de cultivo de inverno para a região. Segundo ele, a atividade é mais rentável do que produzir aveia branca e cevada, por exemplo.

Toda a produção hoje é comercializada para uma cooperativa. O trabalho na lavoura é feito essencialmente pelo produtor e por mais cinco funcionários.

VALORIZAÇÃO

De 2019 para este ano, Fredy viu o preço da tonelada do trigo subir mais de 75%, saltando de R$ 850 no ano retrasado, para R$ 1.250 em 2020 e R$ 1.500 neste ano. “A atividade está se tornando lucrativa por causa da alta do dólar, além da situação de baixo estoque mundial.”

Segundo o produtor, a produtividade neste ano deverá se aproximar à obtida no ano passado, alcançando 3.700 kg de trigo por hectare.

Para obter o máximo de desempenho na produção, Fredy explica que tudo começa com uma boa correção de solo e com a rotação de culturas no verão, plantando milho e soja. A prática diminui a quantidade de plantas daninhas no verão e protege o solo da erosão.

“O inverno costuma ter períodos mais longos de estiagem e para isso o solo precisa estar bem corrigido e com boa cobertura”, conclui.

ESTADUAL

Segundo dados do Deral (Departamento de Economia Rural), órgão da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento, o Paraná produziu 3,2 milhões de toneladas de trigo no ano passado, volume que representa quase 52% de tudo o que foi colhido no país – 6,2 milhões de toneladas.

Entre as culturas paranaenses, o trigo foi o que teve o maior incremento no VBP (Valor Bruto da Produção), passando de R$ 1,77 bilhão em 2019 para R$ 3,58 bilhões em 2020, um crescimento real (com correção da inflação) de 87%.

Isso foi impulsionado pela produção 39% superior aliada aos preços valorizados, cuja média da saca passou de R$ 46,93 em 2019 para R$ 67,99 no ano passado.

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