Uma produção mais sustentável, com a aplicação de menos inseticidas nas lavouras, pode ser obtida com o uso de técnicas simples de manejo de pragas por parte dos produtores. O alerta é de Bruno Vizioli, técnico do Departamento Técnico e Econômico do Sistema Faep/Senar-PR.

“O uso de inseticida é recomendado se a quantidade de pragas é suficiente para gerar dano econômico à lavoura, visto que os defensivos também matam insetos benéficos”, destaca.

O produtor rural Marcio Nakahara utiliza o pano de batida para detectar pragas na soja
O produtor rural Marcio Nakahara utiliza o pano de batida para detectar pragas na soja | Foto: Arquivo pessoal

Entre as técnicas de manejo de pragas recomendadas, especialmente quando se fala em soja, figuram o pano de batida (pano branco), o monitoramento dos inimigos naturais das pragas, o monitoramento de pragas nas folhas da planta, o Sistema de Plantio Direto, o coletor de esporos, a inoculação de nitrogênio e o terraceamento.

EXEMPLO NA REGIÃO METROPOLITANA DE LONDRINA

Marcio Noboru Nakahara é um exemplo de produtor que adota práticas sustentáveis nas suas propriedades em Assaí e Jataizinho, ambas cidades na Região Metropolitana de Londrina. Há seis anos, desde a safra de soja 2017/18, o agricultor implantou uma série de ações com resultados extremamente positivos.

Marcio faz o monitoramento semanal com a utilização do pano de batida. “Tomo decisão de somente aplicar inseticida quando necessário. Assim, os inimigos naturais têm mais tempo para poder ajudar a controlar as pragas. Inclusive já colhi soja sem nenhuma aplicação de inseticida”, destaca.

O agricultor também faz o monitoramento semanal da lavoura, além da coleta e leitura da lâmina do coletor de esporos (feitas por um técnico habilitado do IDR-Paraná). “Através dos resultados é que tomo decisão de aplicar fungicida quando necessário", explica.

As práticas que adotou no manejo de soja fez o agricultor reduzir em 50% a aplicação de inseticida e diminuir em 69% a aplicação de fungicida.

Imagem ilustrativa da imagem Seminário ensina técnicas de produção agrícola mais sustentável
| Foto: Gustavo Pereira Padial

“Além de aumentar o custo de produção, a aplicação desnecessária de inseticida é prejudicial à natureza. Nas minhas áreas de produção, existe uma grande variedade de insetos e de fungos benéficos que nos ajuda no controle de pragas”, destaca.

O manejo integrado de pragas e doenças é definido por especialistas como o uso de táticas de controle, isoladamente ou associadas, numa estratégia baseada em análises de custo-benefício que levam em conta o impacto sobre os produtores, a sociedade e o ambiente.

RESULTADOS

Entre os 1.639 produtores paranaenses que adotaram o MIP (Manejo Integrado de Pragas) na safra 2021/22, houve redução de 53% no índice de pulverização de inseticidas nas plantações. “A redução na aplicação de fertilizantes significa maior renda, já que reduz o custo de produção”, destaca o técnico da Faep.

A média entre produtores que adotaram o MIP foi de 1,7 aplicação, enquanto quem não adotou as boas práticas chegou a fazer, em média, 3,6 aplicações de inseticidas.

Na safra 2022/23, os resultados foram ainda mais expressivos. O número de aplicações de inseticidas caiu de três para uma, durante todo o ciclo da lavoura. Em média, os produtores que adotaram o MIP entraram com inseticidas nas plantações 25 dias depois dos agricultores que não utilizaram a técnica.

FUNGICIDAS

Segundo o IDR (Instituto de Desenvolvimento Rural)-Paraná, nas últimas sete safras, o número médio de aplicação de fungicidas foi de 1,6 entre produtores que adotaram o conjunto de boas práticas do MID (Manejo Integrado de Doenças) e de 2,6 entre os que conduziram a lavoura de forma convencional.

Entre os agricultores que utilizaram as boas práticas, a rentabilidade registrou um aumento médio de 1,5 saca por hectare, graças à redução dos custos de produção.

FERRUGEM ASIÁTICA

No caso da soja, a principal doença que acomete a cultura é a ferrugem asiática. O técnico Bruno Vizioli explica que não há aplicação de fungicidas de maneira preventiva que evitem a proliferação da doença.

Uma das dicas para os produtores é monitorar a proliferação da ferrugem asiática na soja em sites oficiais, como da Embrapa Soja, por exemplo.

Lá há um mapa descrevendo onde a praga está presente, de maneira que o produtor pode monitorar com frequência quais as áreas infectadas e se estão próximas da sua propriedade. “É uma ferramenta gratuita pública”, frisa o técnico.

SOLO

Outra prática essencial para proporcionar mais saúde à cultura é manter o solo coberto na entressafra da soja.

“Conservar a área toda faz com que a água permaneça por mais tempo no solo. Agora estamos entrando na safra de verão da soja. O produtor pode colher a safra de inverno (março) e já plantar a cobertura, como aveia e nabo, por exemplo. A palha sobre o solo, ao se decompor, joga os nutrientes para cima.”

Sobre a produção sustentável na propriedade como um todo, o técnico reforça que essa prática vai além do controle de pragas, doenças e manejo do solo.

“A comercialização é uma parte importante. O produtor deve ter bem definido para quem vender, amarrar melhor os contratos, fazer seguro, garantir preço, ter uma visão comercial”, conclui.

SEMINÁRIOS

Uma série de eventos realizada em agosto levou informação qualificada sobre produção sustentável a agricultores e técnicos de sete polos produtivos do Paraná (Pato Branco, Cascavel, Campo Mourão, Cianorte, Londrina, Tibagi e Cornélio Procópio).

Promovido pelo Sistema Faep/Senar-PR, IDR-PR e Embrapa Soja, o Seminário de Produção de Grãos Sustentáveis contou com mais de 780 participantes, que tiveram contato com conceitos e resultados de pesquisas em MIP (Manejo Integrado de Pragas), MID (Manejo Integrado de Doenças) e conservação do solo.

“Ainda estamos longe de termos no Estado um conjunto de práticas para termos uma produção sustentável no campo. Dentro desse contexto, estamos promovendo o seminário todos os anos para ampliar a conscientização dos produtores”, destaca Débora Grimm, diretora técnica do Sistema Faep/Senar-PR.

ORIENTAÇÃO

O produtor que deseja tornar a propriedade mais sustentável deve procurar a unidade do IDR (Instituto de Desenvolvimento Rural) mais próxima ou a Embrapa. Há também disponíveis diversos cursos do Senar (Serviço Nacional de Aprendizagem Rural) sobre o tema. (Com informações da Faep)