Imagem ilustrativa da imagem `Segure na minha mão e não tenha medo, filho´
| Foto: Marco Jacobsen

Eu tinha por volta dos dez anos de idade quando aconteceu a história que agora compartilho com vocês. E se hoje estou mais próximo dos cinquenta, é porque já se passaram quase quarenta anos então!

Não me lembro o porquê, mas naquele final de tarde, ao contrário de irmos ver o gado montados a cavalo como sempre fazíamos, meu pai optou por ir caminhando até o pasto próximo da sede onde o gado pastava naquele fim de tarde ensolarado.

Por volta desta mesma época e apesar da minha pouca idade, meu pai já tinha me presenteado com uma espingarda de pressão (uma CBC calibre 5 mm, que eu usava com chumbinho Diabolô, Rossi ou Gamo que eu guardo até hoje), e que eu levava comigo pra cima e pra baixo. Adorava caçar, e, para dizer a verdade, caçava o dia inteiro! Na minha tenra idade e com a inocência de criança, eu me sentia imbatível com aquela espingarda.

Com a prática, acabei ficando bom de mira e confesso que matei muitos passarinhos. Algumas centenas eu acho que matei no período final da minha infância e início da adolescência. Depois vieram outros atrativos, mas aquela espingarda de pressão foi talvez o melhor presente que meu pai já me deu.

Naquela tarde em que caminhávamos pelo pasto, eu me distraí enquanto procurava passarinhos, quando então meu pai começou a chamar o gado. Quando me dei conta eles começaram a chegar e nos rodearam. Literalmente fizeram um círculo ao nosso redor de modo que não tinha por onde atravessar.

Naquela época meu pai criava gado nelore. Quem é do ramo sabe que o temperamento do nelore não é dos mais afáveis, mesmo criado a pasto e especialmente se a vaca tiver com bezerro no pé. Fiquei com muito medo de ser atacado pois não tinha para onde correr. O gado ficou entre nós e a cerca.

Quando se é criança a dimensão corporal de um cavalo, um touro ou uma vaca, proporcionalmente, é diferente do que é para um adulto. Assim, às vezes aqueles animais pareciam enormes aos olhos de uma criança!

Então comentei com meu pai que estava com medo. Foi quando ele disse:

“Não tenha medo filho, segure na minha mão e fique bem quietinho ao lado do papai que nada vai acontecer”.

Então segurei firme na mão do meu pai e naquele mesmo instante, uma sensação de segurança se apoderou de mim e imediatamente o medo que eu sentia diminuiu e eu me senti totalmente protegido pelo meu pai.

Parece que, de algum modo, meu pai conversava com os animais. Ficamos ali um bom tempo enquanto o sol ia se pondo no horizonte e meu pai ficou me ensinando a observar as características dos animais.

Depois disso, fomos saindo e o gado abriu uma passagem e caminhamos lentamente por entre eles até sairmos daquele pasto.

Há alguns dias meu pai escorregou no pasto enquanto caminhava, caiu e quebrou o ombro. Recebeu os cuidados médicos inerentes e teve o ombro imobilizado. Alguns dias depois fomos caminhar novamente pelo pasto, mas desta vez era na minha mão que meu pai segurava para se sentir seguro.

No dia 16 de julho de 2022 meu pai, Mário Montemór, Filho completou 86 anos de idade. Escrevo esta lembrança porque ela me veio à mente depois de quase 40 anos e dedico este texto ao meu querido pai e a todos os leitores deste jornal que apreciam coisas simples como estes causos da roça!

Gregório A. Thanes Montemór, leitor da FOLHA

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