Projeto incentiva compostagem do lixo orgânico nas escolas públicas: "irmã gêmea" da horta
Projeto incentiva compostagem do lixo orgânico nas escolas públicas: "irmã gêmea" da horta | Foto: Arquivo pessoal

Uma parceria entre a UEL e as prefeituras de Londrina e Rolândia tem levado às escolas públicas a compostagem do lixo e a criação de hortas nesses espaços. Desenvolvido há 17 anos, o projeto “Compostagem comunitária: gerando fertilizantes e engajamento ambiental a partir do lixo” envolve ao menos oito escolas dos dois municípios.

A ideia do projeto partiu do professor de recursos naturais do Departamento da Agronomia da UEL, Efraim Rodrigues, que já transformava o lixo em adubo no seu apartamento muitos anos antes.

LEIA TAMBÉM:

Tempo seco alerta para prevenção contra incêndios nas áreas rurais

“Ao longo desses quase 20 anos, aprendemos que a compostagem deve acompanhar uma horta, que é como uma irmã gêmea da composteira”, destaca. A composteira é a estrutura própria para o depósito e a compostagem do lixo orgânico, onde será transformado em adubo natural.

O professor explica que o lixo de cozinha se transforma em adubo espontaneamente. “Tomando mínimos cuidados, isso ocorre sem odores ou moscas. A maneira usual de lidar com o lixo, ensacar e colocar na calçada é, na verdade, mais trabalhosa e causadora de problemas do que transformá-lo em adubo”, defende.

LEIA MAIS:

Pesquisa da UEL desenvolve método para produção de amônia

A parceria com a UEL parte da iniciativa das escolas que desejam implantar a compostagem e as hortas nas unidades de ensino. “Vamos ao encontro da escola que pede uma visita, levantamos juntos o que está fácil e difícil para a escola fazer e como vamos proceder”, explica.

O professor acrescenta que o processo de compostagem vem sendo incorporado aos conteúdos de sala de aula. “A compostagem pode ser usada como o que os pedagogos chamam de tema transversal”, explica.

TÉCNICA

O docente diz que, agronomicamente, tudo que é necessário fazer para o lixo virar adubo sem cheiro é prover ar para ele não fermentar. “Quando fechamos o lixo para ele não cheirar mal, estamos exatamente criando as condições para que ele cheire mal”, esclarece.

Um dos principais objetivos da implantação das hortas nas escolas é incentivar a alimentação saudável
Um dos principais objetivos da implantação das hortas nas escolas é incentivar a alimentação saudável | Foto: Arquivo pessoal

Participam hoje do projeto oito escolas municipais de Londrina: escolas municipais Armando Rosário Castelo, Prof. Hélvio Esteves e Maria Carmelita Vilela Magalhães; Centros Municipais de Educação Infantil Laura Vergínia de Carvalho Ribeiro, Clelia Regina Guilherme de Almeida Zotelli, Marisa Arruda dos Santos, Vanderlaine Aparecida Rodrigues Ribeiro e Water Okano.

LEIA MAIS:

Paraná responde por 1/4 da produção de feijão no país

Recentemente, estudantes do 3º ano do curso de agronomia que integram o projeto levaram as hortas para Rolândia, cidade onde moram. Após receberem apoio da prefeitura, conseguiram apoio para comprar as mudas e fazer a horta, nas escolas Terezinha Bertochi e Dr. Vitorio Franklin.

“Nos tornamos uma presença constante nas escolas de Londrina e mais recentemente, de Rolândia. Somos conhecidos pelos professores, o que tem feito com que eles iniciem a compostagem sem precisar de nossa intervenção”, destaca o professor.

Processo de transformação do lixo orgânico

O professor Efraim Rodrigues explica que o processo de compostagem do lixo orgânico deve começar pela secagem, visto que ele verte água especialmente enquanto está fresco.

“Então precisa misturar um material seco, como grama cortada ou serragem. Outra dica é que o processo precisa de ar, então precisa revirar o lixo e evitar chover em cima” ensina.

O docente explica que esse modelo de compostagem sem minhocas é interessante porque aceita tudo que seja resíduo orgânico, inclusive restos que estão no prato, como as carnes, por exemplo.

“O custo mínimo é zero, mas querendo melhorar um pouco pode-se fazer uma estrutura mínima para secar e arejar com menos trabalho. Uma estrutura feita de madeira, por exemplo, para otimizar a ventilação” diz.

O docente explica que, além de ser produzido a custo zero, o adubo orgânico natural melhora o solo de maneira que o NPK, fertilizante com preço atrelado ao dólar, nunca poderá fazer. “O composto orgânico retém água, amacia e retém os próprios nutrientes, enfim, reaviva o solo”, conclui.

PARCERIA

A Escola Municipal Hélvio Esteves começou a participar do projeto há cerca de seis anos, a partir da necessidade de reaproveitar os restos de resíduos produzidos na merenda escolar. A escola buscou parceria com a UEL, com o objetivo de aprimorar os conhecimentos para poder melhorar o manejo dos detritos.

A equipe escolar diretamente envolvida no projeto compreende a professora Neila da Silva Biazotto, o colaborador Irineu Francisco de Souza, a coordenadora pedagógica Ana Claudia Dezuo do Carmo e a diretora Simone dos Santos Aguiar Adati.

As atividades abrangem a reutilização dos resíduos não aproveitados e a conscientização em relação ao desperdício de alimentos, levando em conta a preservação do meio ambiente.

A horta escolar, por sua vez, conta com a participação dos 239 alunos, com o principal objetivo de incentivar os estudantes e a comunidade a terem uma alimentação saudável e de qualidade. “Os resíduos que não são utilizados da horta e da cozinha da escola são reaproveitados para a compostagem realizada frequentemente”, explica a professora Neila Biazotto.

A coordenadora Ana Claudia Dezuo do Carmo explica que o projeto perpassa por diversas disciplinas. “Todas as áreas do conhecimento podem se beneficiar de alguma forma de uma horta na escola”, destaca.

Ela cita alguns exemplos: o professor de matemática poderá trabalhar as formas dos alimentos cultivados, os pesos dos alimentos colhidos e os que serão reutilizados na compostagem. Poderá associar o tempo de fermentação, cultivo, floração e frutificação com o desenvolvimento dos alunos.

Na área de português, os professores podem sugerir temas de redações ligados ao consumo de frutas e verduras. Professores da área de história, por sua vez, podem trabalhar as origens dos nomes de frutas e verduras, como são consumidas e se são empregadas na medicina popular.

O professor de geografia pode trabalhar as frutas e verduras típicas de cada região do país, resgatando a cultura culinária de cada região.

A diretora Simone Adati explica que a horta e a compostagem levam o aluno a vivenciar as transformações que ocorrem desde o preparo da terra adubada com a compostagem, o plantio de mudas, cuidados com pragas, até a colheita e o consumo do que foi plantado.

“Os alunos podem verificar a transformação do resíduo orgânico através do manuseio e observação, o que antes parecia algo sem valor e iria ser jogado no meio ambiente, em um novo produto com utilização sustentável e também ver o fruto desse trabalho realizado por eles, por meio do composto que é produzido e utilizado na horta escolar, com o auxílio da professora Neila e do funcionário Irineu. É muito gratificante trabalhar a interdisciplinaridade com os alunos por meio desse projeto”, conclui.