O Paraná lidera hoje o ranking nacional de produtores rurais orgânicos. Até 1º de julho deste ano, 3.737 agricultores faziam parte do cadastro nacional do Ministério da Agricultura, o que representa um crescimento de 13 vezes em 9 anos – em abril de 2012, havia 277 produtores certificados no Estado. O Rio Grande do Sul figura em segundo lugar, com 3.650 produtores, e na terceira colocação está São Paulo, com 1.904.

Imagem ilustrativa da imagem PR lidera ranking nacional de produtores orgânicos

O coordenador estadual do programa Paraná Mais Orgânico, Rogério Barbosa Macedo, explica que são inúmeros os fatores que alavancam a produção orgânica no Paraná.

“Aqui no Neat (Núcleo de Estudos de Agroecologia) da Uenp (Universidade Estadual do Norte do Paraná) em Bandeirantes, costumamos dizer que nosso trabalho é orientado pela ideia de que só haverá crescimento na produção de orgânicos se tivermos mais produtores dispostos a converter seu processo produtivo”, diz Macedo, que também é coordenador do núcleo.

No entanto, ele ressalta que isso requer um sentimento de segurança por parte do agricultor de que haverá soluções para enfrentar as adversidades, o que significa ter engenheiros agrônomos que dominem as tecnologias agroecológicas, dispor de insumos e tecnologias acessíveis e um mercado que pague um prêmio pela produção diferenciada.

“Por várias razões (mercado, saúde, meio ambiente), a cada dia mais produtores rurais, sobretudo os familiares, têm procurado orientações sobre como produzir orgânicos. Esses, por sua vez, têm encontrado engenheiros agrônomos cada vez mais capacitados na produção orgânica, tanto no IDR-PR (Instituto de Desenvolvimento Rural), quanto nas cooperativas e associações, empresas privadas e nas equipes dos Núcleos de Certificação do Programa Paraná Mais Orgânico.”

Quanto ao mercado, o coordenador destaca que muitos insumos e tecnologias de produção orgânica recentemente se provaram eficazes e passaram a ser acessíveis aos produtores rurais, dividindo o espaço das prateleiras do comércio varejista, antes ocupado apenas por insumos voltados à produção convencional.

“Do lado do consumo, além de algumas empresas paranaenses, temos visto uma presença cada vez maior de empresas distribuidoras de alimentos orgânicos oriundas de São Paulo e de outros estados”, pontua.

Além disso, a pandemia, ao mesmo tempo em que impactou negativamente as feiras livres, impulsionou o e-commerce de alimentos orgânicos nas grandes cidades e a formação de circuitos curtos de comercialização, como a entrega de cestas residenciais e em condomínios.

“Embora também prejudicadas em certa medida pela pandemia, as compras públicas têm sido um fator diferencial para a agricultura orgânica. Tanto o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), quanto o PEAE (Programa Estadual de Alimentação Escolar), além de editais municipais de merenda escolar orgânica, são iniciativas de grande impacto positivo na geração de renda para a agricultura familiar paranaense.”

Diante disso tudo, Macedo destaca ser perceptível que a resistência do produtor rural à produção orgânica tem diminuído a cada ano, em especial no segmento familiar.

“Obviamente, há muitos produtores que mantêm uma cultura refratária à produção orgânica e isso muitas vezes está associado a questões ideológicas, uma vez que no campo há diferentes classes sociais e cada qual com seus valores, tradições e interesses.”

DESTAQUE

Tijucas do Sul é a cidade paranaense com o maior número de produtores orgânicos certificados: 211 ao todo.

O coordenador do programa Paraná Mais Orgânico explica que as principais razões para o município ocupar o primeiro lugar no ranking estadual são diversas, como, por exemplo, a oferta de assistência técnica agronômica especializada pela equipe do IDR e a organização da cadeia de comercialização, tendo Curitiba como um grande mercado consumidor – a capital paranaense fica a pouco mais de 60 km de distância de Tijucas do Sul.

“Além disso, existe um mix de produtos diversificados capaz de atender a diferentes demandas dos consumidores e a presença de empresas e cooperativas sólidas que apoiam a organização da produção e da comercialização”, diz Macedo.

Dos 211 produtores com certificação em Tijucas do Sul, 160 deles são certificados pela modalidade participativa, ou seja, pela Rede EcoVida, que desenvolve um trabalho robusto de organização dos agricultores familiares orgânicos.

PIONEIRA

A Orgânicos do Sul foi a empresa pioneira do segmento em Tijucas do Sul, atuante no mercado há 14 anos. A produção pela família Setim começou há 18 anos, e dois anos depois eles já começaram a industrializar os produtos.

O diretor-geral da Orgânicos do Sul, Flavio Henrique Setim, relembra que o cultivo de orgânicos pela família começou quando o seu pai teve uma intoxicação causada por defensivos agrícolas. Após esse episódio, ele resolveu fazer a conversão da lavoura.

Flavio Henrique Setim anunciou expansão do negócio para o ramo de frutas no próximo ano
Flavio Henrique Setim anunciou expansão do negócio para o ramo de frutas no próximo ano | Foto: José Fernando Ogura/AEN

Hoje, são cerca de 60 hectares da propriedade em Tijucas do Sul destinados ao plantio e ao processo de embalagem de 11 variedades: alho-poró, acelga, alface, brócolis, couve-manteiga, couve-flor, cenoura, chicória italiana, espinafre, repolho verde e repolho roxo.

A Orgânicos do Sul conta hoje com 22 colaboradores, 16 na lavoura e 6 no processo de embalagem. A empresa atende diversas redes de supermercados em Curitiba, além de mercados em Santa Catarina e no Norte do Paraná.

No ano passado, a empresa comercializou 1,2 milhão de bandejas de produtos. A expectativa é fechar 2021 com 1,6 milhão de unidades comercializadas, um crescimento superior a 30% no volume comercializado. O faturamento estimado é 20% maior neste ano em comparação a 2020.

Orgânicos do Sul comercializou 1,2 milhão de bandejas de produtos no ano passado
Orgânicos do Sul comercializou 1,2 milhão de bandejas de produtos no ano passado | Foto: José Fernando Ogura/AEN

“A lucratividade diminuiu por conta do aumento dos custos de produção, algo que não conseguimos repassar para o consumidor final. Também teve a questão climática que prejudicou”, aponta Flavio. Atualmente, a lucratividade gira em torno de 25% a 30%.

Segundo Flavio, um dos gargalos da produção de orgânicos é a mão de obra. “Como muitas partes do processo são manuais, é uma atividade que requer muita mão de obra.”

Apesar dos desafios, a busca pela máxima produtividade com qualidade é uma ação constante. Para tanto, a Orgânicos do Sul aposta na rotação de culturas e no investimento em melhores variedades de sementes.

Ao todo, são cerca de 60 hectares da propriedade onde são produzidas 11 variedades
Ao todo, são cerca de 60 hectares da propriedade onde são produzidas 11 variedades | Foto: José Fernando Ogura/AEN

O trabalho tem dado frutos. No ano que vem, a empresa pretende ampliar a gama de produtos. “Pretendemos expandir para o ramo de frutas, mercado que está crescendo”, anunciou Flavio.

Essa foi a primeira matéria da série sobre produção agrícola orgânica, composta por duas reportagens. Na próxima semana, o foco será o aumento do número de produtores orgânicos em nível nacional e o passo a passo para se tornar agricultor dessa categoria no Paraná.

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