Quem pretende se lançar para a agricultura familiar se depara com uma série de dúvidas sobre como começar, que cultura ou criação escolher, a quem recorrer, entre tantas outras questões. Especialistas são unânimes ao orientar que, para se tornar bem-sucedido em qualquer atividade no meio rural, é fundamental muito estudo aliado à assistência técnica.

Sítio recém-adquirido em Nova América da Colina já tinha poço artesiano e casa
Sítio recém-adquirido em Nova América da Colina já tinha poço artesiano e casa | Foto: Patrícia Maria Alves

Alexandre Lobo Blanco, técnico do Detec (Departamento Técnico) do Sistema Faep/Senar-PR, destaca que é necessário avaliar bem os riscos antes de investir. Segundo ele, é preciso ter a ciência que as rentabilidades são variáveis de uma safra para outra, e que não adianta se espelhar na opinião de um vizinho ou parente, por exemplo.

“Uma sugestão é contratar um escritório especializado para elaboração de um projeto técnico. Utilizar indicadores técnico-financeiros, critérios para avaliação de risco e ter muito claro de que forma a produção será comercializada”, lista.

Sobre a escolha do tipo de cultura ou criação em espaços pequenos, o técnico esclarece que a opção do que produzir depende prioritariamente de fatores como a aceitação do mercado consumidor, a viabilidade técnica da produção, a aptidão da família para determinada atividade e, claro, a rentabilidade do negócio.

“A escala de negócio para pequenas áreas requer necessariamente emprego de tecnologia e insumos de qualidade para obtenção de uma produção acima do ponto de equilíbrio. Aumentar a produção via produtividade (kg/hectare) é mais importante do que aumentar somente a área produzida. Hoje existem muitas opções de sistemas intensivos de produção, em que a área não é mais o fator exclusivo que define a lucratividade”, destaca o técnico.

Blanco aconselha o interessado a observar as questões legais que independem da cultura ou criação, como matrícula do imóvel, certidão negativa de ITR, CCIR, SIGEF, CAR e licenças ambientais, Zoneamento Agrícola de Risco Climático (ZARC) e a legislação sobre outorga de água de cada município.

“No local, é importante verificar o estado geral de conservação da área, localização, acessos, topografia, tipo de solo, cercas e benfeitorias, sinal de internet, clima predominante e série histórica de chuvas”, lista.

Com o projeto em mãos e com os estudos técnicos definidos, Blanco orienta o pretenso agricultor a antes visitar campos experimentais das instituições de pesquisa ou de universidades. “Daí ele poderá tirar todas suas dúvidas antes de iniciar a produção.”

Imagem ilustrativa da imagem Ingresso na agricultura familiar requer estudo e ajuda técnica
| Foto: Patrícia Maria Alves

PONTAPÉ INICIAL

A assessora de desenvolvimento de cooperativismo Ana Cristina Krüger foi contemplada há cerca de dois meses em um consórcio de imóvel rural, logo após pagar a primeira parcela.

A contemplação tão rápida apressou um pouco os planos da família, que acaba de adquirir um sítio com pouco mais de 5 hectares em Nova América da Colina, a cerca de 70 quilômetros de Londrina.

Uma das características que fez a família optar pela propriedade foi a infraestrutura – o sítio já conta com poço artesiano e uma casa.

O filho de Ana Cristina, o biológo Pablo Krüger Fernandes, e a nora, a administradora Katia Hisamitsu, pretendem se mudar para o sítio, dotado de eucalipto e pinus. A mudança para o campo visa unir o útil ao agradável – o casal realizará o desejo de morar em um lugar mais pacato e, ao mesmo tempo, onde possa criar uma nova fonte de renda.

A família vem pesquisando sobre agricultura familiar há cerca de um ano e meio, já com a acertada visão de que o negócio só dará certo se houver um bom planejamento e for bem gerido.

Imagem ilustrativa da imagem Ingresso na agricultura familiar requer estudo e ajuda técnica
| Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

“Visitamos granjas em Barra do Jacaré, grande polo da avicultura, e um casal de Cornélio Procópio que saiu do ramo de eventos e agora está na agricultura familiar. Também já conversei com um engenheiro agrônomo da Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná)”, relatou Ana Cristina.

O próximo passo, assim que sair a papelada oficial do sítio, é receber a orientação de um técnico do IDR (Instituto de Desenvolvimento Rural) para que ele elabore um projeto baseado nas características da propriedade.

“Nossa ideia é produzir morango de qualidade, mais doce, com um valor maior”, projeta Katia. O marido dela, Pablo, completa: “Nosso plano é produzir morango comercial no sistema hidropônico por 10 meses no ano”.

Os planos da família incluem ainda a produção de cogumelo shitake em toras de eucalipto e a criação de uma horta, inicialmente para consumo próprio, mas que poderá adquirir caráter comercial no futuro.

Imagem ilustrativa da imagem Ingresso na agricultura familiar requer estudo e ajuda técnica
| Foto: Gustavo Carneiro - Grupo Folha

“Estamos olhando para o mercado, com o intuito de saber para onde iremos vender a produção. Tem uma cooperativa em São Jerônimo da Serra, existe também o programa de merenda escolar, os supermercados podem absorver”, disse Ana Cristina.

ASSISTÊNCIA

O técnico do Sistema Faep/Senar-PR Alexandre Lobo Blanco esclarece que há diversos meios para buscar a informação antes de se lançar à agricultura familiar.

“Nos departamentos de economia e extensão rural das universidades, nos sindicatos rurais, na Faep (Federação da Agricultura do Estado do Paraná), no Senar-PR, no Incra, no IDR (Instituto de Desenvolvimento Rural), na Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná), na Secretaria Municipal de Agricultura e Meio Ambiente, nas cooperativas, no Sebrae e na Embrapa. Todas essas instituições têm sites oficiais com materiais técnicos e informações confiáveis”, lista.

Segundo o técnico, acertos e erros fazem parte do processo, então a principal recomendação é estudar antes de iniciar o projeto. “Conhecimento e prática podem fazer com que essa proporção seja majoritariamente de acertos.”

Ele orienta o interessado a começar seu plano de estudos com programas de empreendedorismo rural que abordem conteúdos de economia rural e planejamento financeiro. “De posse dessas informações, contratar um escritório de planejamento técnico para ajudar nas questões de financiamento e tributações”, conclui.

A respeito da questão técnica de produção, o Senar-PR oferta mais de 300 cursos presenciais e de educação à distância (EAD).

Esta foi a segunda reportagem que integra uma série composta por três matérias sobre a agricultura familiar no Paraná. Na próxima semana, a FOLHA publicará a terceira e última matéria da série, sobre o trabalho das cooperativas do setor.

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