O Estado do Paraná já conta com 171 cooperativas de agricultura familiar. Segundo dados da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento, essas organizações reúnem 33 mil integrantes, com um faturamento bruto que alcançou R$ 530 milhões no ano passado.

O diretor-presidente da Coaprocor (Cooperativa Agroindustrial de Corumbataí do Sul e Região), Olavo Aparecido Luciano, destaca alguns pontos importantes de o agricultor familiar se associar a uma cooperativa.

Sede da Coaprocor: desde 2012, cooperativa industrializa os produtos
Sede da Coaprocor: desde 2012, cooperativa industrializa os produtos | Foto: Arquivo Pessoal

“São produtores com pequena produção e que não conseguem fazer o escoamento sozinho. Com a cooperativa, existe uma soma de esforços para que haja condições de fazer a logística”, explica.

Atualmente com 625 cooperados de Corumbataí do Sul e mais de 30 cidades paranaenses, a Coaprocor iniciou as atividades em 2009. Três anos depois, a partir de 2012, a cooperativa começou a fazer a industrialização dos produtos, o que significa agregar valor à produção dos cooperados.

No ano passado, a Coaprocor comercializou 1.234 toneladas de polpas de frutas. O carro-chefe é o maracujá, com 929 toneladas vendidas, representando 75% do total da produção. “Hoje, temos mais de 400 toneladas de polpa em estoque”, destacou Olavo.

Unidade de Alimentos Minimamente Processados da Copasol Sul, inaugurada em 2019
Unidade de Alimentos Minimamente Processados da Copasol Sul, inaugurada em 2019 | Foto: Arquivo Pessoal

Hoje, a Coaprocor comercializa 25 sabores de polpa (produzida por cooperados e também comprada de terceiros), além do açaí. Os produtos são vendidos para redes de supermercados, grandes empresas e abastecem a merenda escolar de alunos da rede pública do Paraná.

A Coaprocor dispõe ainda de um viveiro de mudas de maracujá para auxiliar os cooperados. No ano passado, 200 mil mudas foram distribuídas aos agricultores familiares e neste ano a expectativa é distribuir mais 100 mil mudas que serão plantadas nas propriedades dos cooperados.

Produtos da Copasol Sul: foco dos cooperados é atender escolas públicas
Produtos da Copasol Sul: foco dos cooperados é atender escolas públicas | Foto: Arquivo Pessoal

“Entre os nossos maiores desafios, estão as novas formas de comercialização, atender o cliente de forma mais objetiva possível e enfrentar a questão climática, como a geada e a virose, doença que pode provocar queda na produção de maracujá”, conclui Olavo.

LOGÍSTICA

A presidente da Copasol Sul (Cooperativa de Processamento Alimentar e Agricultura Familiar Solidária de Agudos do Sul e Região), Aline Pasda, destaca que atualmente foi percebida uma pequena melhora no sentido de atender a novos mercados.

“Houve um aumento na procura por produtos via delivery, no entanto não conseguimos suprir isso por conta da logística. Por causa desse momento, muitas pessoas e organizações começaram a fazer entregas diferenciadas. Isso também deu uma sufocada nesse tipo de mercado”, declarou.

A Copasol Sul conta hoje com 51 cooperados que trabalham junto às suas famílias nos municípios de Agudos do Sul, Tijucas do Sul, Mandirituba, Quitandinha, Rio Negro e Piên. O foco do trabalho é a venda de produtos para serem utilizados na merenda escolar de escolas públicas, por meio do PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e do PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar).

Com relação à comercialização, a presidente da cooperativa explica que a organização se dá de maneira que fique mais acessível financeiramente aos cooperados. “Ou os produtos saem dos produtores até algum ponto específico, onde juntamos e fazemos a entrega, ou os produtores fazem a entrega direto, dependendo de como ficar mais fácil e barato”, completa.

Hoje a gama de produtos oferecidos pelos cooperados é bem variada – frutas, verduras e legumes, panificados e produtos agroindustrializados, como doces, geleias, compotas e conservas. Por ora, não há planos de ampliar a variedade. Em setembro de 2019, a cooperativa inaugurou a Unidade de Alimentos Minimamente Processados.

“Pretendemos nos organizar e adotar um carro-chefe, mas não pretendemos ampliar a linha de produtos. Ter um foco e, a partir desse foco, trabalhar a questão do marketing, para conseguirmos alcançar novos clientes”, pontuou.

O surgimento da Copasol Sul foi a partir do desejo de os agricultores fazerem entregas por todo o Estado, que antes atendiam apenas programas municipais de merenda escolar. “Hoje o nosso maior desafio é comercializar de forma justa. Que seja justo para o cliente e também para os cooperados”, conclui Aline.

100% FAMILIAR

No Sítio Aliança, propriedade de 3,5 alqueires em Santana do Itararé (PR), no Norte Pioneiro, 100% do trabalho sai das mãos (e do coração) da família do produtor Leomar Melo Martins, que fabrica queijos há 18 anos.

No início, a produção era para consumo próprio da família. O caráter comercial foi descoberto há cerca de quatro anos, quando os queijos foram levados à 1ª Feira do Produtor de Leite de Santana do Itararé e tiveram boa aceitação.

O produtor Leomar Melo Martins com a mulher, Marisa, e os filhos Daniela e Lucas
O produtor Leomar Melo Martins com a mulher, Marisa, e os filhos Daniela e Lucas | Foto: Arquivo pessoal

Um ano depois, em 2018, um reconhecimento ainda maior. “Passávamos por grande dificuldade financeira, pensando até em desistir, e estava em andamento a etapa do concurso de queijos artesanais do Paraná, promovido pelo IDR [Instituto de Desenvolvimento Rural]. Fizemos inscrições no último dia para a etapa de Londrina e fomos classificados para a etapa final, em Curitiba. Para nossa surpresa e satisfação, o nosso queijo maná ficou em segundo lugar do Estado”, relembra Leomar.

Para atingir o máximo da qualidade do seu produto, a receita é focar na matéria-prima. “O maior desafio é a obtenção do leite de altíssima qualidade para manter a estabilidade do queijo em todas as suas etapas de produção.”

Alguns queijos produzidos no Sítio Aliança, em Santana do Itararé (PR)
Alguns queijos produzidos no Sítio Aliança, em Santana do Itararé (PR) | Foto: Arquivo pessoal

Os queijos vêm do leite produzido por vacas da raça Jersey. Ao todo, a propriedade conta hoje com 40 cabeças, sendo que metade produz leite. As variedades são frescal com iogurte, maná meia cura, maná cremoso, kara melo e maná com café.

A lucratividade média chega a 50%. “É uma atividade não só lucrativa, mas também muito prazerosa. Pretendemos começar a produzir nata e manteiga a partir de 2022”, anunciou Leomar.

Hoje, 100% da produção de queijos é comercializada. Além da pronta entrega direto ao consumidor, os queijos são vendidos em supermercados e padarias da região. Além disso, parte do leite produzido é vendida para uma cooperativa. A gestão da produção é informatizada.

Leomar e a mulher, Marisa, mostram premiações obtidas pelo queijo maná
Leomar e a mulher, Marisa, mostram premiações obtidas pelo queijo maná | Foto: Arquivo Pessoal

No trabalho cotidiano, cada membro da família tem sua função definida. Leomar e os filhos Lucas e Daniela trabalham juntos no trato com os animais, o que inclui ordenha e amamentação das bezerras. Leomar ainda auxilia a mulher, Marisa, na etapa de produção dos queijos e é ele quem faz a comercialização.

A família está tendo muito mais trabalho, já que a pandemia quase fez dobrar a procura pelos queijos. No ano passado, 1,4 tonelada de queijos foi comercializada. Neste ano, a expectativa é alcançar 2,5 toneladas.

Leomar em meio ao plantel: hoje são 40 vacas Jersey, sendo que metade produz leite
Leomar em meio ao plantel: hoje são 40 vacas Jersey, sendo que metade produz leite | Foto: Arquivo Pessoal

Leomar e seus familiares são cooperados da Capal Cooperativa Agroindustrial, que presta auxílio na assistência técnica, além de fazer acompanhamento técnico da qualidade. “Eu fiz pós-graduação e minha mulher fez curso por meio da cooperativa, é uma ajuda muito boa”, conclui Leomar, que faz parte da cooperativa há mais de 15 anos.

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