Paraná já conta com 171 cooperativas de agricultura familiar
Ao todo, são 33 mil integrantes que obtiveram um faturamento de R$ 530 milhões em 2020
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sábado, 21 de agosto de 2021
Ao todo, são 33 mil integrantes que obtiveram um faturamento de R$ 530 milhões em 2020
Lucas Catanho - Especial para a FOLHA
O Estado do Paraná já conta com 171 cooperativas de agricultura familiar. Segundo dados da Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento, essas organizações reúnem 33 mil integrantes, com um faturamento bruto que alcançou R$ 530 milhões no ano passado.
O diretor-presidente da Coaprocor (Cooperativa Agroindustrial de Corumbataí do Sul e Região), Olavo Aparecido Luciano, destaca alguns pontos importantes de o agricultor familiar se associar a uma cooperativa.
“São produtores com pequena produção e que não conseguem fazer o escoamento sozinho. Com a cooperativa, existe uma soma de esforços para que haja condições de fazer a logística”, explica.
Atualmente com 625 cooperados de Corumbataí do Sul e mais de 30 cidades paranaenses, a Coaprocor iniciou as atividades em 2009. Três anos depois, a partir de 2012, a cooperativa começou a fazer a industrialização dos produtos, o que significa agregar valor à produção dos cooperados.
No ano passado, a Coaprocor comercializou 1.234 toneladas de polpas de frutas. O carro-chefe é o maracujá, com 929 toneladas vendidas, representando 75% do total da produção. “Hoje, temos mais de 400 toneladas de polpa em estoque”, destacou Olavo.
Hoje, a Coaprocor comercializa 25 sabores de polpa (produzida por cooperados e também comprada de terceiros), além do açaí. Os produtos são vendidos para redes de supermercados, grandes empresas e abastecem a merenda escolar de alunos da rede pública do Paraná.
A Coaprocor dispõe ainda de um viveiro de mudas de maracujá para auxiliar os cooperados. No ano passado, 200 mil mudas foram distribuídas aos agricultores familiares e neste ano a expectativa é distribuir mais 100 mil mudas que serão plantadas nas propriedades dos cooperados.
“Entre os nossos maiores desafios, estão as novas formas de comercialização, atender o cliente de forma mais objetiva possível e enfrentar a questão climática, como a geada e a virose, doença que pode provocar queda na produção de maracujá”, conclui Olavo.
LOGÍSTICA
A presidente da Copasol Sul (Cooperativa de Processamento Alimentar e Agricultura Familiar Solidária de Agudos do Sul e Região), Aline Pasda, destaca que atualmente foi percebida uma pequena melhora no sentido de atender a novos mercados.
“Houve um aumento na procura por produtos via delivery, no entanto não conseguimos suprir isso por conta da logística. Por causa desse momento, muitas pessoas e organizações começaram a fazer entregas diferenciadas. Isso também deu uma sufocada nesse tipo de mercado”, declarou.
A Copasol Sul conta hoje com 51 cooperados que trabalham junto às suas famílias nos municípios de Agudos do Sul, Tijucas do Sul, Mandirituba, Quitandinha, Rio Negro e Piên. O foco do trabalho é a venda de produtos para serem utilizados na merenda escolar de escolas públicas, por meio do PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e do PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar).
Com relação à comercialização, a presidente da cooperativa explica que a organização se dá de maneira que fique mais acessível financeiramente aos cooperados. “Ou os produtos saem dos produtores até algum ponto específico, onde juntamos e fazemos a entrega, ou os produtores fazem a entrega direto, dependendo de como ficar mais fácil e barato”, completa.
Hoje a gama de produtos oferecidos pelos cooperados é bem variada – frutas, verduras e legumes, panificados e produtos agroindustrializados, como doces, geleias, compotas e conservas. Por ora, não há planos de ampliar a variedade. Em setembro de 2019, a cooperativa inaugurou a Unidade de Alimentos Minimamente Processados.
“Pretendemos nos organizar e adotar um carro-chefe, mas não pretendemos ampliar a linha de produtos. Ter um foco e, a partir desse foco, trabalhar a questão do marketing, para conseguirmos alcançar novos clientes”, pontuou.
O surgimento da Copasol Sul foi a partir do desejo de os agricultores fazerem entregas por todo o Estado, que antes atendiam apenas programas municipais de merenda escolar. “Hoje o nosso maior desafio é comercializar de forma justa. Que seja justo para o cliente e também para os cooperados”, conclui Aline.
100% FAMILIAR
No Sítio Aliança, propriedade de 3,5 alqueires em Santana do Itararé (PR), no Norte Pioneiro, 100% do trabalho sai das mãos (e do coração) da família do produtor Leomar Melo Martins, que fabrica queijos há 18 anos.
No início, a produção era para consumo próprio da família. O caráter comercial foi descoberto há cerca de quatro anos, quando os queijos foram levados à 1ª Feira do Produtor de Leite de Santana do Itararé e tiveram boa aceitação.
Um ano depois, em 2018, um reconhecimento ainda maior. “Passávamos por grande dificuldade financeira, pensando até em desistir, e estava em andamento a etapa do concurso de queijos artesanais do Paraná, promovido pelo IDR [Instituto de Desenvolvimento Rural]. Fizemos inscrições no último dia para a etapa de Londrina e fomos classificados para a etapa final, em Curitiba. Para nossa surpresa e satisfação, o nosso queijo maná ficou em segundo lugar do Estado”, relembra Leomar.
Para atingir o máximo da qualidade do seu produto, a receita é focar na matéria-prima. “O maior desafio é a obtenção do leite de altíssima qualidade para manter a estabilidade do queijo em todas as suas etapas de produção.”
Os queijos vêm do leite produzido por vacas da raça Jersey. Ao todo, a propriedade conta hoje com 40 cabeças, sendo que metade produz leite. As variedades são frescal com iogurte, maná meia cura, maná cremoso, kara melo e maná com café.
A lucratividade média chega a 50%. “É uma atividade não só lucrativa, mas também muito prazerosa. Pretendemos começar a produzir nata e manteiga a partir de 2022”, anunciou Leomar.
Hoje, 100% da produção de queijos é comercializada. Além da pronta entrega direto ao consumidor, os queijos são vendidos em supermercados e padarias da região. Além disso, parte do leite produzido é vendida para uma cooperativa. A gestão da produção é informatizada.
No trabalho cotidiano, cada membro da família tem sua função definida. Leomar e os filhos Lucas e Daniela trabalham juntos no trato com os animais, o que inclui ordenha e amamentação das bezerras. Leomar ainda auxilia a mulher, Marisa, na etapa de produção dos queijos e é ele quem faz a comercialização.
A família está tendo muito mais trabalho, já que a pandemia quase fez dobrar a procura pelos queijos. No ano passado, 1,4 tonelada de queijos foi comercializada. Neste ano, a expectativa é alcançar 2,5 toneladas.
Leomar e seus familiares são cooperados da Capal Cooperativa Agroindustrial, que presta auxílio na assistência técnica, além de fazer acompanhamento técnico da qualidade. “Eu fiz pós-graduação e minha mulher fez curso por meio da cooperativa, é uma ajuda muito boa”, conclui Leomar, que faz parte da cooperativa há mais de 15 anos.
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