O Paraná produziu 1.273 toneladas de milho pipoca em 368,1 hectares de propriedades em 2019, segundo relatório da Secretaria da Agricultura do Estado. Ao todo, 104 cidades paranaenses produziram milho pipoca nesse ano, o que totalizou R$ 897,2 mil no VBP (Valor Bruto de Produção), a riqueza gerada pela atividade.

Imagem ilustrativa da imagem Mais de 100 cidades do Paraná  têm produção de milho pipoca
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As maiores cidades produtoras foram Araucária, na região de Curitiba (250 toneladas em 50 hectares); Imbituva, na região de Irati (140 toneladas em 40 hectares), e Mandaguari, na região de Maringá (48 toneladas em 22 hectares). O pesquisador da Embrapa Milho e Sorgo, Walter Meirelles, explica que o Brasil conta hoje com poucas variedades de milho pipoca, um dos fatores que limita a escolha dos agricultores pelo grão.

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“Não tem como o produtor testar muitas variedades. Enquanto do milho comum há pelo menos 300 variedades, do milho pipoca creio que sejam menos de dez. São poucas opções de cultivares adaptados, com boa produtividade e resistência a doenças”, compara.

Por conta dessa escassez, a maioria da semente de milho pipoca semeada no Brasil é importada dos Estados Unidos e da Argentina, o que eleva os custos de produção.

Ainda há mais dificuldades enfrentadas no cultivo de milho pipoca. “É uma cultura mais suscetível a pragas e doenças por ter mais espigas no pé, além do fato de a espiga ser mais fina e o grão bem menor em comparação ao milho tradicional. Por conta disso, o produtor de milho pipoca obtém um peso menor por hectare”, explica o pesquisador.

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Outro aspecto é a falta de pesquisas da cultura do milho pipoca no Brasil, em termos de melhoramento genético. Muito diferente do que acontece com o milho comum, estudado por grandes empresas, por exemplo. “Aqui não tem transgenia para milho pipoca. Isso vai criando dificuldades para o agricultor.”

O manejo no campo é outro desafio para os produtores de milho pipoca. Para preservar o grão, o agricultor deve dispor de uma plantadeira adequada, a vácuo. “É um equipamento mais caro que a plantadeira comum, aquela com diversos furos, e isso é um fator limitador para os pequenos produtores.”

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O produtor também deve ficar muito atento para preservar a produção na hora da colheita. “Deve ser utilizado um cilindro batedor ou debulhador com boa regulagem da velocidade. Se for muito rápido, vai estragar os grãos, e um grão ruim é depreciado no mercado”, explica.

Todos os cuidados no cultivo têm como objetivo atingir um ICE (Índice de Capacidade de Expansão) ideal, o que significa a capacidade de o milho pipoca estourar. Atingir bons índices demanda uma série de cuidados com o grão – ele tem de estar na umidade certa, não pode ter trincas na casca nem ser acometido por doenças, por exemplo.

Um dos aspectos positivos do milho pipoca é que, se armazenado em condições ideais, pode ficar guardado até por anos mantendo as mesmas características, caso o grão esteja em boa qualidade.

“Pelo fato de demandar mais exigências, o custo de produção do milho pipoca é mais alto em comparação ao milho comum. No entanto, ao comercializar um grão de qualidade, o produtor consegue um preço maior com o milho pipoca em comparação ao milho tradicional”, conclui.

Ciclo

Dependendo da variedade do milho pipoca, o tempo entre a semeadura e a colheita varia de 110 a 120 dias. Em geral, o ciclo é mais precoce em comparação ao milho comum.

O produtor deve acompanhar diariamente a umidade dos grãos para determinar o ponto de colheita, que é feita quando os grãos estiverem entre 16% e 17% de umidade. Após a colheita, é feita a secagem. A umidade que proporciona o máximo de qualidade da pipoca fica entre 12,5% e 13,5%.

Escala comercial

O produtor Luiz Archangelo Giordani planta quase 2 hectares de milho pipoca na sua propriedade em Mariópolis, no sudoeste do Paraná. Ele começou a cultivar pipoca preta em escala comercial em 2017.

Pipocas da Vovó Nair são comercializadas em dois tamanhos, 750 gramas e 1,75 kg
Pipocas da Vovó Nair são comercializadas em dois tamanhos, 750 gramas e 1,75 kg | Foto: Arquivo pessoal

A produção é comercializada em uma rede regional de supermercados, frutarias e casas que vendem produtos oriundos da agricultura familiar. Atende também clientes nos Estados do Mato Grosso e Rondônia.

Para obter a melhor produtividade, Giordani adota uma série de práticas na lavoura.

“Adotamos adubação verde de inverno antecedendo o plantio direto. São plantas de ciclo de inverno, que são plantadas antecipadamente à cultura para fazer, dentre outras coisas, uma reciclagem de nutrientes e dar melhores condições ao desenvolvimento futuro da cultura a ser estabelecida”, explica.

Para promover a adubação verde, o produtor utiliza um mix composto de aveia branca, aveia preta, centeio, nabo forrageiro, azevém e tremoço branco.

Outra prática adotada é a rotação de cultura com feijão e soja, plantio em linha e práticas conservacionistas de solo. “Também fazemos uma adubação organomineral na cultura das pipocas. É uma mistura equilibrada de nutrientes de origem orgânica (esterco) com adubo químico”, explica.

Além disso, o controle de pragas é feito apenas com defensivos registrados no Ministério da Agricultura e com uso permitido em milho não transgênico.

Cigarrinha

O milho pipoca da variedade preta está sujeito às mesmas pragas da cultura do milho amarelo.

“Neste ano, especificamente, houve uma infestação severa e de difícil controle, por cigarrinha do milho. Isso trouxe consequências na produtividade, que somente poderá ser avaliada na colheita. Mas seguramente haverá uma redução da ordem de 50% na produtividade”, prevê. O plantio ocorreu em novembro do ano passado e a expectativa de colheita está entre abril e maio deste ano.

No ano passado, a produção foi de 3,5 toneladas por hectare, com um lucro estimado em aproximadamente 20%.

Preparo

Na propriedade de Giordani, os grãos de pipoca, após a colheita, são secados ao sol e passam por uma pré-limpeza. Depois, são beneficiados numa mesa densimétrica, expurgados e aguardam a embalagem para a venda final aos clientes. A eliminação de grãos ruins se dá na classificação por peneiras, sendo que só ficam grãos de determinado diâmetro – os grãos menores são descartados.

A mesa densimétrica promove a padronização necessária para obter uniformidade nos grãos beneficiados, eliminando os grãos de menor peso. Já o expurgo é a eliminação de pragas que podem comprometer a qualidade do grão, resultando em baixa qualidade quando os grãos estourarem.

O embalo do milho pipoca é feito sob a chancela da Vigilância Sanitária, em local adequado e conforme as normas vigentes. Após receber a rotulagem, é transportado em veículo específico até o destino final.

O milho pipoca recebe o nome comercial de Pipocas da Vovó Nair. É apresentado em embalagens de 750 gramas e de 1,75 kg, com prazo de validade de 12 meses.

Consumo

O Brasil é o segundo maior produtor de milho pipoca do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Em 2018, o País produziu cerca de 260 mil toneladas, das quais 220 mil foram consumidas internamente, o que movimentou US$ 628 milhões. Os dados revelam ainda que a região Sudeste é a que mais consome pipoca (56%), seguida das regiões Sul (16%), Nordeste (13%), Centro-Oeste (9%) e Norte (5%).

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