Em várias oportunidades ocupamos este espaço para enaltecer a pujança do agronegócio brasileiro, resultado obtido, principalmente, do incremento significativo da produtividade no campo. Boa parte das melhorias e benefícios que a sociedade brasileira usufrui atualmente é produto desse desenvolvimento. Só não vê quem não quer.

No transcorrer de três décadas, a produção de grãos no Brasil foi multiplicada em quase cinco vezes (58 milhões de toneladas (Mt) em 1990, para 272,3 Mt na safra que está sendo colhida nesta temporada 2020-2021), razão pela qual nossa comida ficou mais barata, além de permitir a exportação de vultosos excedentes, o que contribuiu para a redução da fome no Brasil, assim como no resto do mundo, e gerou riqueza e empregos para o nosso país.

Adicionalmente, os expressivos aumentos de produtividade proporcionaram mais renda ao homem do campo, melhorando o seu nível de vida e estimulando-o a permanecer no cultivo da terra, que é sua dedicada e honrosa profissão, evitando sua migração para a cidade, onde ele enfrenta problemas, dada a sua baixa qualificação para exercer as atividades urbanas.

Hoje falaremos do milho que, juntamente com a soja, responde por quase 90% da produção brasileira de grãos, os quais constituem a principal matéria prima para a produção de carnes (bovina, suína e de aves), produto sobre o qual o Brasil exerce liderança global nas exportações.

Mesmo não sendo agricultor, o leitor sabe que o milho é uma cultura que tradicionalmente se planta na primavera e se colhe no outono. Mas, na maior parte do Brasil, o milho também é semeado no verão - após a colheita da soja – e é colhido em pleno inverno, com riscos de perdas por geadas nos estados do PR, MS e SP, principalmente, ou por falta de chuvas no outono na região Sul, Sudeste e Centro-Oeste, englobando boa parte do Cerrado. Mesmo consciente desses riscos, o produtor tem relevado o problema e o milho safrinha segue ganhando espaços significativos no Brasil, já superando a produção do milho safra em 3,6 vezes (84,6 Mt de milho safrinha contra 23,5 Mt do milho safra – CONAB março/2021).

A área total cultivada com milho no Brasil não cresceu significativamente nas três últimas décadas: 13,5 milhões de hectares (Mha) ha em 1991 para 18,5 Mha em 2020-2021 (+37%), mas sua produção no período deu um salto de 348% (24,1 Mt para 108 Mt), resultado, em boa medida, do incremento de 199% na produtividade (de 1.791 kg/ha para 5.355 kg/ha).

A transformação processada na cultura do milho no Brasil ao longo dessas três décadas (1991/2020) é digna de espanto, seja pelo crescimento superior a 1.000% na área cultivada com o milho safrinha (800 mil para 14 Mha), ou pelo incremento da produtividade de ambas as safras, atualmente quase do mesmo valor. Uma inacreditável estatística.

O produtor claramente optou pela substituição de boa parte da área que tradicionalmente cultivava com o milho safra pela cultura da soja e, em contrapartida, incrementou significativamente o cultivo do milho safrinha em sucessão à soja. Considerando que as produtividades médias de ambas as safras de milho se equivalem no entorno de 5.400 kg/ha, intui-se que os ganhos do produtor são maiores utilizando este sistema produtivo soja/milho, o que explica a redução para quase um terço na área cultivada com o milho safra (12,7 Mha para 4,5 Mha), em contraste com o incremento superior a 1.700% do milho chamado segunda safra ou safrinha.

O agronegócio representa o Brasil que deu certo e merece todo o respeito e consideração por parte da sociedade brasileira. A bem da verdade, ele carrega o Estado a reboque com os bilionários superávits da sua balança comercial – mais de 1,2 trilhões de dólares de superávit no período 2000 a 2020, apesar dos crônicos gargalos logísticos que enfrenta no transporte, na armazenagem e no escoamento pelos portos. No afã por solucioná-los, ele assume o ônus que deveria ser do Estado. Mas ainda tem quem não enxergue esta realidade.

Amélio Dall’Agnol e Walter Meirelles, Pesquisadores da Embrapa

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