Imagem ilustrativa da imagem Envelhe ...ser
| Foto: Marco Jacobsen

Envelhecer: “ ação natural do tempo que faz com que todo ser vivo envelheça ... ato ou efeito de envelhecer, tornar velho referindo-se à coisas, e tornar-se velho, referindo-se aos seres humanos; verbo intransitivo. Fim!

É primeira vez que envelheço, portanto tenho pouca experiência no assunto. Uma delas talvez seja buscar nas minhas lembranças como foram os velhos que conheci. A avó Luiza, que já conheci velhinha, apesar de não ter idade para tanto. Quando nasci ela estava nos cinquenta e poucos. Meu avô Mário, um italiano velho cheio de si, impunha respeito, apesar de, às vezes, eu própria não lhe dar a merecida atenção, pois era jovem e muito ocupada com minhas coisas. Mas ele aparentava estar bem, era respeitado, era amado pelos parentes e tinha muitos amigos, o que é um bom sinal em qualquer idade.

Já meu avô Antônio, esse era um caso à parte. Boa praça, boa vida, pensava em seu bem-estar e não parecia se importar com o que tinha feito ou com o que pensavam dele. Amoroso, era bem-amado, bem folgado e...feliz. Isso aos 93,94, por aí. Por ocasião de sua morte os amigos diziam que não tinha doença, morrera ... de velho.

Conheci muitos velhos e velhas interessantes, mas, enquanto eu não era, achava-os ... animados para a idade, regateiros, quando eram alegres, coitados ou engraçados, mas eram idosos e, portanto, sem muita voz ativa, em todos os sentidos. Uns eram sábios, outros bonzinhos, muitos agradáveis, outros chatos, outros implicantes, outros ainda, doidos, assanhados, até ridículos, porque, infelizmente, não podiam mais ser o que queriam, já haviam passado da idade em que era normal ser tudo isso. Hoje, encontro-me em situação (para não estigmatizar) de velhice. E me pergunto, e te pergunto - E agora?

Percebo que pessoas com quem ainda ontem compartilhavam ideias já não são muito interessadas nos meus assuntos. Esforço-me para manter-me atualizada, não me faço de vítima, sou educada com todos, como sempre, importo-me de verdade com as pessoas e, de vez em quando, quando quero me impor e extrapolo, volto para o meu lugar para pensar melhor, reconsidero e sigo em frente.

Antes, porém, não precisava nada disso. Era eu, respeitada, criticada, admirada, às vezes, tinha meu “poder” naturalmente em casa, no trabalho, apesar de nunca me importar com status.

Agora me dizem que cheguei ao terceiro tempo, que, na verdade, é um acréscimo aos meus anos porque já completei o ciclo da vida. Recentemente me colocaram num novo grupo, o “grupo de risco”, argumentando se tratar de um gesto de amor e cuidado. Fica quietinho aí em casa!

Penso que envelhecer pode ser esse processo todo, mas não é declinável, pelo contrário. Como um ano novo que se inicia, temos milhares de possibilidades...ainda!

Alguém - de idade diferente - já se perguntou o que é ser velho? Será que é perder tudo o que conquistou? O que faço com esse troféu?

Agora eu quase não penso mais, pensam por mim, não posso me apaixonar, nem deixar de amar, estou proibida de ter sonhos e desejos como todo mundo, enfim... porque envelheci?

Não me refiro ao ridículo de não querer aceitar os vestígios do tempo no rosto, no corpo, na saúde, isso é irrelevante, o importante é gostar de si mesmo, dar-se valor. Acho até que, no fim, esse é o começo. Ser dono do seu momento.

Dizer amém ao que acham, pensam, sentem ou que querem a seu respeito é como negar a vida. Aí, sim, é chegar ao fim.

Seja você a decidir o que, com seus limites, pode fazer. Aceite ajuda com gratidão mas preserve a sua liberdade, permitindo-se ter uma velhice feliz, alegre, ativa e saudável. Mesmo desafiando o mundo atual onde só tem valor aquele que produz. Parou de produzir, deixou de existir. A inversão dos valores também colocou os velhos num lugar à parte, deslocado... um sem-lugar...

Envelhecer .... Chegou a nossa vez. E parece que não é por pouco tempo, não é uma fase passageira. Envelhecer é como começar um novo (e não velho) tempo de vida, é refazer os sonhos, é dar um “lustro” nos seus dons, é aflorar seus bons sentimentos, aliviar sua bagagem, dar-se o devido valor e, como nunca antes, querer e ser feliz!

Estela Maria Ferreira é leitora da FOLHA