Na lista de chamada, Alessandra eram duas. Depois vinha a Aline, o André e o abecedário ia numa sequência que aos poucos já sabíamos a ordem e a hora de estarmos atentos e dizer "Presente". Mas cada um tinha um jeito de confirmar que estava ali, na sala de aula. "Aqui", "Eu", ”Oi”, "Bom dia, Professor" e a maneira de pronunciar “presente” também tinha particularidades. Os donos de sotaques diferenciados enriqueciam a hora da chamada e só para valorizar quem vinha de fora, professor chamava duas vezes para ressoar a palavra que mais parecia música na boca da menina do Pará - e enaltecer sua cultura. "Emily?" E ela repetia educadamente "Présenti".

Desde os anos iniciais, alguns pareciam estar em outro lugar e precisavam da ajuda de um colega para ouvir seu nome. Concentrado, no mundo da lua, com o pensamento longe ou com fone de ouvido e smartphone nos dias atuais, o presente acabava respondendo estar ali - ainda que causasse dúvidas. Sempre fui a última da lista e aguardar a vez de ser invocada é normal até hoje. Simplesmente erguer levemente a mão e sorrir, é meu jeito de dizer "presente". Na primeira carteira, observando e aguardando a vez de todos, era comum o professor concluir a chamada, olhar para mim, dizer meu nome e sinalizar com o olhar que me enxergou e fazer uma marcação na lista – de papel ou no notebook.

Listas com nomes não se limitam às de chamada escolar ou acadêmicas. Buscar o próprio nome em listas de concursos, resultados e afins é uma ação cercada de expectativas. Ter o nome lançado ali, no impresso ou no meio digital, tal como sonhado, é uma descarga de adrenalina indescritível. Sinônimo de conquista. Fazemos nossas listas o tempo todo: de mercado, de aniversário, de casamento, a do chá de bebê - nosso ou da amiga- e a lista de material escolar é um clássico do início de ano. Assim como as promessas e votos que fazemos para o novo ano e a nova pessoa que projetamos ser. Dentro da lista anual, há quem faça planejamento mensal e até semanal para manter a vida no prumo. A provocação é diária. O preparador físico Vitor Loni é um incansável motivador. Lança diários em seu Instagram e finaliza seus textos com um bordão para sua lista de seguidores: “Let´s bora”. Vitor deve ter sido dos últimos da lista sempre, mas isso não o endureceu. É leve, de bem com a vida, tem sorriso contagiante e nas horas vagas é palhaço nos hospitais e casas de idosos. Acha tempo pro outro em sua infinita lista de prioridades.

Trabalho, casa, família, atividade física, espiritualidade e a constante busca pelo equilíbrio. A expectativa e a realidade devem ser levadas em conta para tentar fugir das frustrações. A palavra lista em si é associada a diferentes situações. Ter uma “play list” para correr, caminhar, dirigir, limpar a casa ou viajar é fazer da lista favorita de músicas uma diversão. Estar na lista negra de alguém é sinal de enguiço. Já estar na lista VIP, o oposto. Ter uma lista de desejos independe de idade, faixa etária ou condição financeira. Lista de desejos está ligada a sonhos - e sonhos não envelhecem. Aprender flauta aos 70 anos foi uma oportunidade que Dona Ana teve no Centro de Convivência do Idoso da região oeste. Conta que começou a trabalhar aos seis anos e nunca teve tempo pra brincadeira ou escola. Com sabedoria, faz da velhice, fase de descobertas, recomeços e vive emoções que confortam o coração até de quem está perto. Dona Ana com “A” e Vitor com “V”. De A a Z, tenho uma lista de amigos para contar. Sim, tenho um amigo chamado Zoinê. É marido da Suzi.

A vida um tanto nômade até pisar em Londrina tirou o contato físico de uma lista de pessoas amadas. A Priscila está em Bauru, a Renata em São José dos Campos, a Danila entre São Paulo e Campos do Jordão, a Carol em Campinas, minha família em Pirassununga, minhas avós, agora no céu Aurita e Luzia, fizeram a despedida em Getulina. Pessoas distantes, próximas, as que já se foram e as que chegam diariamente se conectam em meus pensamentos. O Flávio Vianna, em General Salgado virou amigo na pandemia que o trouxe dos Estados Unidos para o seio familiar. Sua simplicidade traz uma lista de encantos - é um atrás do outro. Aprendo com todas essas pessoas que fazem do limão, limonada e são felizes por repartir e repetir: “Quem reparte, fica com a melhor parte”. Essa aprendi com Juliana Flores, minha amiga que se soma à Sirlene Negrão, à Alexandra Santos, à Samira Guilherme, ao Luiz Flávio, Juliana Canhete, Suzana Aranda, Marilu Stock, Paulo Henrique, Guilherme, Myllenne Dutra e uma infinita lista que não caberia aqui.