Sempre que viajo para visitar parentes e amigos que moram em outras cidades e estados, eles me pedem para levar pacotes de café produzido na região de Londrina. Assim que chego com as encomendas, logo perguntam:

- É de Londrina, a terra do café?

Sei que ainda existe na memória das pessoas a imagem da cidade como Capital do Café. Embora muito tempo tenha passado, Londrina continua fortemente vinculada à cafeicultura, devido ao fato do município ter sido responsável, na década de 1960, por cerca de 50% do café produzido no mundo.

Registros históricos revelam que na década de 1950 o Estado do Paraná tinha 300 mil hectares dedicados ao plantio do café e em 1962 passou para 1,6 milhão de hectares plantados, mostrando o destaque que a cultura do café teve no desenvolvimento econômico da região Norte do Paraná, o que tornou Londrina conhecida mundialmente entre as décadas de 1940 e 1960.

Toda essa riqueza foi abalada com a geada negra de 1975, que levou a maioria dos agricultores a erradicar os cafezais, com enormes prejuízos econômicos e sociais para a região. Mesmo assim, Londrina continuou com a fama de ser a Capital do Café. Muitos prédios, ruas e monumentos da cidade estão ligados à cultura do café, como o Cine Teatro Ouro Verde, Biblioteca Pública, Teatro Zaqueu de Melo, Edifício América, Museu Histórico, Museu de Arte, Concha Acústica e tantos outros.

Para contar essa história foi criado o Museu do Café, uma grande homenagem e reconhecimento à memória da cidade, inaugurado em agosto de 2023 por iniciativa do sistema Fecomércio - Sesc - Senac Paraná. No começo do ano tive a oportunidade de conhecer o museu e fiquei muito satisfeito com a cortesia no atendimento e nas orientações fornecidas.

O museu está instalado num prédio histórico da Rua Sergipe, onde funcionou por várias décadas a 10ª Subdivisão Policial e a antiga Cadeia Pública de Londrina, conhecida popularmente por "Cadeião da Sergipe". Gostei muito da arquitetura, decoração interna e conservação da memória da cidade, deixando à mostra várias partes originais da edificação.

Cabe ressaltar que no dia 28 de março de 1994, o governo do Estado autorizou a demolição da antiga cadeia, mas um grupo de professores e cerca de 30 alunos do curso de Arquitetura da Universidade Estadual de Londrina prontamente se mobilizou, convocou outras pessoas e impediu a destruição. Um feito histórico!

Hoje o Sesc Cadeião Cultural e o Museu do Café formam um belíssimo conjunto arquitetônico e cultural, composto de diversas salas de exposições e eventos, biblioteca, salas de estudos, locais de convivência e uma cafeteria/escola do Senac, que fica onde era o solário da antiga cadeia, agora transformado num esplêndido lugar.

Embora sejam unidades distintas, ambas são integradas e ocupam o mesmo prédio, sendo que a entrada do Sesc fica na Rua Brasil, enquanto a do museu se dá pela Rua Sergipe. Mas o visitante não percebe isso de imediato, ainda mais quando se depara com tantos detalhes encantadores.

Na minha visita foi muito interessante observar que pude atravessar, “passando por dentro” do Sesc/Museu, mesmo sem ter essa intenção. Entrei pela Rua Brasil e acabei saindo na Rua Sergipe. Tive a certeza de estar passando por um dos momentos mais significativos da história da cidade.

Importante destacar que durante a travessia fica impossível não se emocionar quando se depara com duas celas que foram preservadas pelos idealizadores do Museu. Trata-se de uma cena que leva o visitante a imaginar como era a existência das pessoas que habitaram naquele espaço, deixando evidente a preocupação dos historiadores, arquitetos, técnicos e museólogos em resgatar e preservar trajetórias humanas.

Quem já teve a satisfação de conhecer o Museu do Café consegue compreender melhor o significado e os impactos que a cafeicultura teve no desenvolvimento econômico e social da região norte do Paraná. Coloque essa visita na sua agenda, vale a pena conhecer.

Gerson Antonio Meleti, leitor da FOLHA