O que mudou em nossa vida em menos da metade do século? Parece que faz tão pouco tempo ( mas não faz). Nessa época do ano estava eu a comprar cartões de boas festas e a escrever mensagens aos tantos amigos que gostava de cultivar. Nesse número entravam também os familiares, os amigos de perto e os de longe, esses davam um pouco mais de mão de obra porque, além de subscritar e endereçar, tinha que fechar os envelopes e levá-los ao Correio. Aí aproveitava para ver se tinha correspondência, sempre muito bem-vinda .

Os cartões que mais gostava eram os que tinham pinheiros de Natal, muita neve, Papai Noel e seu trenó puxado pelas renas. Nada a ver com nossa realidade, mas parecia tão surreal que atraía minha atenção. Também amava e eram muito lindos os que tinham a Sagrada Família, Jesus Menino naquele lugar tão pobrezinho! Esses cartões acariciavam nossa alma, de tão delicados e amoráveis que eram.

Agora vamos ao valor que dávamos ao receber ou dar um cartão. Era um grande presente. Além do cartão a pessoa costumava acrescentar mais umas palavras amigáveis, expressando sentimentos bem pessoais, de intimidade, e colocava o nome. “ De...Para”.

Muito longe dos tempos atuais onde procuramos no Google um cartão de Natal e o encaminhamos a todos os amigos do WhatsApp...ou então escrevemos uma mensagem só, no Facebook, marcamos nossos milhares de amigos. Aí você vai nas notificações para ver: você foi marcado ...

Recebendo os cartões colocávamos cuidadosamente na árvore de Natal. Curtíamos muito esse bom costume. Minha mãe até pouco tempo atrás, enquanto estava conosco, fazia questão de comprar vários cartões para enviar às pessoas. Além da mensagem própria de cada um deles ela fazia questão de escrever outra mensagem, dela, para a pessoa. De sua mãe, de sua avó que tanto te ama...por aí.

Certa vez, na minha adolescência, tive e a honra de receber um cartão de um radialista cujo programa no Rádio eu adorava. Era “ sua fã número um “, sem ao menos conhecê-lo, só tinha a voz como referência. Era o Éverson Morais, da Rádio Londrina, na época.

Aquele cartão era lindo, diferente, um colorido especial, claro, tinha sido comprado na cidade grande. Que alegria! Ficava contemplando, orgulhosa e feliz, por ter sido lembrada por uma pessoa tão importante...

Ainda trocava cartões com os vizinhos, com os namorados, esses românticos e especialíssimos, cujas palavras guardaríamos enquanto durasse o namoro... com os familiares, principalmente com minha mãe que adorava dar e receber cartões. Em seus aniversários o que ela mais amava era receber um cartão especial, desses com dobraduras, mensagens bonitas, diferentes, que são até difíceis de serem encontrados.

Em desuso, hoje em dia, os cartões foram, de certa maneira, substituídos, em parte, pelas mensagens prontas, pelo “ curtir”, pelas figurinhas sempre iguais. Até o agradecimento vem prontinho: “Agradeço aos amigos do Facebook que tiraram um tempo para me parabenizar, etc, etc...” Quanta impessoalidade, quanta distância, num mundo de comunicação global que nos faz modernos e conectados”.

O que era para nos aproximar nos distancia. Lembro quando o computador foi avançando, esses costumes foram se acabando, minha mãe, já idosa, dizia: ninguém mais se lembra de mim, nem cartão de Natal me enviam. Mas continuava a pedir que comprasse cartões e mais cartões para distribuir. Uma forma, talvez, de reafirmar uma época que já pertencia ao passado, que já era, ou melhor, que foi e nunca mais iria voltar.

Hoje estamos aqui, mais modernos e conectados do que nunca, mas essa constatação não é para todos benéfica porque o ser humano nunca será artificial, apesar da inteligência já haver chegado lá, nunca será uma máquina que funciona ligada na tomada.

Nada como uma visita presencial, com um aperto de mão, um abraço, um cartãozinho (por que não?) , para sentir que somos importantes uns para os outros... Nada melhor que tirar alguns momentos para ouvir o outro, para marcar um encontro maior que nunca acontece (no ano que vem ....) para curar a ferida da solidão, do desprezo, do esquecimento.

Ou então enviar um cartão bem bacana, de boas festas, com umas palavras próprias, justificando que você não pode ir mas pensa e tem apreço pela pessoa. E não se limitar apenas ao Facebook ou WhatsApp, uma vez que muitos não os usam.

Então, vamos imaginar um grande cartão de Natal onde possamos desejar, de todo coração, os melhores votos para todos que queremos bem ! Que ele contenha o nascimento daquele que nos ensinou a amar de verdade e por isso veio morar entre nós para ser o Emanuel, que significa Deus conosco!

E que sua mensagem de alegria e paz seja o Próprio Amor do Menino Jesus!

Para você,os votos de um Feliz Natal e um próspero Ano Novo!

Estela Maria Ferreira, leitora da FOLHA