Sebastiana morava na fazenda Serrinha, em Cássia dos Coqueiros, divisa de Minas; Maria Rita, no sítio do meu pai, em Sertaneja. As duas eram irmãs e minhas avós.

A vovó Sebastiana gostava de andar pelo pasto, pelo curral, pelo pomar, debaixo das jabuticabeiras, mangueiras, que existem até hoje. Passava pelos ninhos das galinhas, pegava os ovos para casa e deixava outros para serem chocados. E quando íamos de férias para a Serrinha, eu a acompanhava nos seus passeios e algo me intrigava na vovó: sempre com a mão no bolso do vestido. Perguntei pra mamãe e ela respondeu: ¨ Didi, pergunte pra ela. ¨ Fui e fiquei admirada da resposta. ¨É porque estou rezando o terço ¨, tirando-o do bolso e me mostrando. Perguntou se eu sabia rezar o terço e eu disse que sim, todos de casa sabiam. Era muito caridosa, as pessoas andarilhas que passavam pela fazenda, comiam alguma coisa e nunca saíam de mãos vazias. Todas as tardes, ela na sua cadeira de balanço e o vovô Joaquim na espreguiçadeira assistiam ao programa do Padre Vítor, na Rádio Aparecida. Assim era a minha avó de Minas, que nasceu em 1900, casou-se aos 13 anos e teve 18 filhos. Hoje só tem a mamãe e o filho caçula, o Tio Armando, que ainda mora em Cássia dos Coqueiros.

A vovó Maria Rita casou-se e muitos anos mais tarde, veio para o Paraná e foi morar no sítio do papai em Sertaneja. Trabalhava muito e, vez ou outra, estávamos lá para passar o dia ou o final de semana. Só não gostávamos quando era dia de matar porco, era trabalho para o dia todo. Ela gostava de flores e plantava-as em panelas e canecas furadas, nas latas de querosene que dependurava na parede da área. Plantava também na terra, nos canteiros em volta da casa. Não eram muito organizados, mas davam um colorido ao lugar. Depois, o papai trouxe toda a sua família para a cidade a uma quadra de casa. Era bom ter a vovó perto de nós. Quando a mamãe ia bater na gente, íamos pedir ajuda a ela, que nos trazia de volta para casa e dizia: ¨ Dorva, prometa que não vai bater nas crianças...¨ Ela prometia, dependendo da arte que fazíamos. A vovó Maria gostava de televisão e João Coragem, da novela Irmãos Coragem, era o seu personagem favorito. Estávamos já em Londrina e ela, dificilmente deixava a Tia Iracema vir passar o final de semana em casa porque vivia assistindo ao programa do Cadeia e imaginava Londrina um cenário de crimes, assaltos, violência e mortes. Esta era a vovó do sítio, que ficou viúva muito cedo, casou-se novamente e criou 14 filhos, os meus, os teus e os nossos.

Sebastiana e Maria Rita viveram numa época em que a mulher não tinha voz ativa, não podia estudar, trabalhava só em casa, não podia escolher a pessoa com quem casar, pois os casamentos eram arranjados. Elas foram obedientes, submissas, casaram-se, mas com jeitinho, com amor, doçura e mansidão, conseguiram formar um lar e uma família felizes. Tanta coisa boa aprendi com estas vovós queridas...

IDIMEIA DE CASTRO é leitora da FOLHA