Ela já nasceu com certas características e atribuições que a acompanharam durante toda a sua vida. É menor em estatura e ostentação física exterior, porém , com maior agilidade no pensar e no agir, além de ser responsável por três coisas essenciais aos seres que a rodeiam: criar, cuidar e educar. A leoa nasceu mulher e como tal, por natureza, é aquela que dá à luz, participando inteiramente e divinamente da criação...e ninguém como ela sabe cuidar da sua criatura desde que tem conhecimento da sua vinda e da sua vida. Assim como as verdadeiras outras leoas, no período de aleitamento e cuidados iniciais com a cria, sua dedicação é exclusiva, além, é claro, de ter seu olhar sobre a sobrevivência do grupo ao seu redor. “ A leoa é responsável pela caça” em todos os tempos e circunstâncias, mesmo em tempos ruins como os que estamos atravessando.

Imagem ilustrativa da imagem DEDO DE PROSA| A LEOA (Phantera Leo)
| Foto: Marco Jacobsen

A leoa percorre os supermercados, vai de feira em feira, de loja em loja. Ela sabe o que é preciso para abastecer os seus filhotes, muitas vezes também os filhotes das outras leoas _ “ as fêmeas costumam amamentar outros filhotes que não sãos seus e cuidar deles enquanto forem dependentes ...” Na maioria das vezes, com poucos recursos, especialmente nos tempos modernos, a Leoa vai à caça, tendo que desenvolver ao máximo a sua criatividade, agilidade e dedicação para dar conta dos seus e da conta . E foi assim ao longo dos anos...sempre em desvantagem, pelo simples fato de haver nascido mulher, mas em contrapartida ela pode ser forte, ser lutadora, ser mais ágil em tudo o que faz, ou por ter instinto natural de mãe e sabedoria incomum, ela foi conseguindo poucos direitos às custas de uma luta desigual.

A Leoa segue em frente, escrevendo histórias incríveis, mudando os costumes, renovando a vida e agitando a moda que parece persegui-la...enquanto o homem está sempre na moda com a mesma moda de sempre. Por falar nele, a mulher tem, geralmente, para acompanhá-la em suas andanças, o macho alfa - que a natureza colocou mais pelos, mais força física, uma juba para diferenciá-lo e, não se sabe porque, levou o título de rei...da selva. Sua obrigação seria garantir a proteção para o grupo, em todos os sentidos, visto a sua vantagem em força bruta. Porém, o que assistimos ao longo dos tempos e, agora, literalmente falando, o que deveria ser o protetor tornou-se, em numerosos casos, aquele que a violenta, que maltrata e machuca, em alguns casos, tira-lhe a vida. Nos tempos atuais fala-se muito em empoderamento, em liberdade feminina, em força da mulher, nesta moderna selva de pedra.

Lancemos um olhar para o passado dessas Leoas, de suas lutas, de seus sofrimentos e vamos lembrar de tantas coisas boas, tantas coisas grandes, tanto trabalho sem nome, tanto amor pelas crias e pelas filhas e filhos das crias. Imagino minha avó Aninha, dez filhos, um atrás do outro, cozinhando para os peões que trabalhavam no Sítio; minha Pequena Leoa, vó Luiza, tão grande e forte em sua fragilidade, tão sábia e paciente, com perdas irreparáveis mas cheia de fé e coragem ia vivendo pela família; tias e conhecidas aturando um companheiro bêbado e criando filhos e mais filhos; minha mãe Elizabeth Leoa forte que, não tendo ninguém para defender os filhos, assumiu cuidar, alimentar e proteger...

Mulheres sofridas, mulheres mal amadas, mulheres felizes e ferozes que nos ensinavam a ser também felizes e acreditar na beleza da vida, mulheres que trabalhavam e trabalhavam e eram apenas “ do lar”, que suportavam situações difíceis para trabalhar fora e sentirem-se mais fortes para ter o poder de humanizar e embelezar esse mundo. Phanteras, felinas, graciosas, ágeis, atletas, maternas, mulheres guerreiras, feras na defesa, ternas nos amores, são as mulheres que, desde sempre, nos cuidaram e nos ensinaram a viver e a sermos felizes.... Seus rostos vão desfilando no tempo, seus ensinamentos nos acompanham, seus cuidados ainda nos enternecem. São as gerações de mulheres e mulheres a povoar nossas lembranças e encher nosso coração de saudades.

Estela Maria Frederico Ferreira é leitora da FOLHA