Neste setembro (de alguns anos atrás) ainda em férias, estava me sentindo em dívida com algumas companhias por demais especiais. Fiquei no Paraná para "matar saudades" de minhas tias e mãe, no seu tradicional encontro dominical.

Já registrei neste espaço, o quanto acho importante o domingo para viver estes momentos, embora todos os dias o sejam, mas na verdade no final de semana é quando o botão "parar" é acionado e respiramos o convívio mais familiar.

Foi muito especial, porque falamos de tudo, de como estão como famílias, suas dificuldades, suas vitórias, seus planos, alegrias, chegadas e falamos também de partidas.

Imagem ilustrativa da imagem DEDO DE PROSA - Era um domingo à tarde ...

Cada um lembrava de um ente querido que se foi, rimos com suas manias, o jeito próprio que cada um tinha, bem como a sua falta ... e é incrível como as mães tem uma qualidade própria de liderar e unir as pessoas, notamos que a medida que as tias falecem, cria-se uma distância entre os primos. Ficamos sem saber notícias de quem até "ontem" estava muito próximo da gente.

Uma das tias traz uma reflexão, se quando morremos será que tudo se acaba? será que vamos de fato junto à Deus? Bom, não precisa nem dizer que a mesa se incendiou com a discussão ...

Cada um tem o seu conceito e uma exclusão do "depois", mas tudo veio iluminar como conversas, os medos, uma falta de compreensão do que fazemos neste mundo, do destino (se é que podemos chamar) de algumas pessoas dotadas de extrema maldade, características de crimes hediondos, por outro lado, pessoas dóceis e que fazem o bem em toda a sua existência sem pedir nada em troca.

Temos em si, sempre muitas incertezas, o olhar sobre as certezas são permeados pela fé naquilo que aprendemos a vida toda. As respostas ainda são pouco elucidativas, mas fica a convicção e a felicidade de ter tias e mãe com tamanha sabedoria e exemplo, que constroem todos os dias para nossa família uma experiência de vida diferente.

Só agradecendo à Deus, ah tá! comungo também de incertezas e tenho esperança na sua existência, que assim seja ...

Assim eram os domingos em nossas casas, os anos ensinaram a valorizar cada momento, mas as dores de perdas romperam certos vínculos, o legado ficou e as lembranças preencheram as ausências.

Os passos cansados limitaram o rotineiro exercício do amor, contundente como a reclusão obrigatória por um vírus inédito, que afastou a proximidade do corpo, mas jamais da alma.

E assim, os domingos continuam regados pelo eterno sentimento de união, paixão e laços de cumplicidade de toda uma vida.

Laércio de Almeida Freitas, pecuarista de São Paulo, é leitor da Folha