A produção de coelhos é boa opção para a agricultura familiar, além de integrar o sistemas  produtivos que não agridem a natureza
A produção de coelhos é boa opção para a agricultura familiar, além de integrar o sistemas produtivos que não agridem a natureza | Foto: Gustavo Carneiro

Bois, aves, suínos e peixes. Quatro cadeias com ótimos volumes produtivos no Paraná e já bem consolidadas no mercado consumidor. Mas o segmento de proteína animal do Estado pode pensar fora da caixa, com opções de boa rentabilidade ao produtor, em áreas menores, com foco na sustentabilidade e no meio ambiente.

A produção de coelhos para abate se encaixa perfeitamente nas exigências do mundo moderno e vão muito além do consumo da carne e da pele. O animais também têm subprodutos que atendem às indústrias farmacêutica, fertilizantes orgânicos e muitas outras utilidades. Se acalme, caro leitor, talvez neste momento você já esteja com dó dos animais por toda a sua fofura característica, mas o fato é que os coelhos têm uma potencialidade econômica que ultrapassa o simbolismo da Páscoa ou apenas o mercado de pets.

No passado, meados da década de 1980, a Seab (Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento) tentou fomentar a cadeia da cunicultura, como é chamada a criação de coelhos. As projeções eram ambiciosas, com surgimento de cooperativas, abatedouros, capacitação dos produtores pelas prefeituras e exportação. “No final, um abatedouro de Corbélia (Oeste) não ficou pronto a tempo na medida que a produção acelerada dos animais chegava. Havia 70 mil matrizes instaladas no Estado, o volume de coelhos era grande, mas sem o hábito de consumo da população. O projeto veio de cima para baixo, uma gestão mal elaborada e estratégias ruins para quem nunca criou coelho. No final, a cunicultura naquela época ficou como símbolo de fracasso financeiro”, relembra o pesquisador e zootecnista Claudio Scapinello, que até quatro anos atrás tocava os projetos de cunicultura na UEM (Universidade Estadual de Maringá), umas das mais especializadas do Brasil no assunto.

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Scapinello tem pós-doutorado na França no trabalho com os animais. Segundo ele, a cadeia continua com alto potencial, mas é preciso saber explorá-la. “O coelho ainda não é visto pelo consumidor de proteína animal, mas ele pode ser estratégico, como uma capacidade de produção muito grande. A carne tem menor teor de colesterol e gordura, além de subprodutos viáveis economicamente como a pele processada, o pelo, o cérebro e sangue para a indústria de medicamentos, a urina para indústria de perfumes e as fezes como adubo orgânico”, exemplifica.

A produção da carne de coelho, segundo o professor, se encaixa perfeitamente no pensamento mundial de sistemas produtivos que não agridem a natureza, trabalho em pequenas propriedades com alta produtividade, além de um papel social como por exemplo na merenda escolar e projetos de assentamento. “O coelho se adapta em pequenas propriedades e pode ser altamente produtivo e com qualidade mesmo em instalações mais simples. Mas o produtor só vai entrar na atividade se tiver organização do setor e capacitação.”

Além do baixo consumo da carne – que hoje é encontrada em poucos estabelecimentos em média de R$ 50 o quilo – a falta de abatedouros no Estado e a dispersão dos produtores também são entraves para a cadeia crescer. “A ração do coelho, por exemplo, precisa ser peletizada, ou seja, passar por um processo de aglutinação porque os animais usam os dentes incisivos para pegar o alimento. Por isso, fornecer ração farelada faz com que entre pelo nariz do coelho e cause problemas respiratórios. Para isso, os criadores em conjunto podem adquirir uma máquina que faz esse trabalho, em médio de 800 quilos de ração por hora, e tem custo de R$ 120 mil. Caso o produtor opte por comprar essa ração já pronta, isso vai aumentar os custos de produção.”

Aliás, com a expertise do negócio, é possível dar a dinâmica da produção de acordo com a demanda, adaptando o sistema e os objetivos do criador. “Em outros países, como acontece aqui com o frango, temos a automatização da nutrição, limpeza do barracão, desde o animal de produção em pequena escala até o industrial.”

Imagem ilustrativa da imagem Coelhos: um olhar fora da caixa para as proteínas animais