O ramo de eventos foi um dos mais prejudicados pela pandemia. Por outro lado, um dos exemplos positivos de superação vem de Cornélio Procópio (PR). Um casal que trabalhava com decoração de festas há mais de 20 anos teve que se reinventar após a suspensão dos eventos. E não é que o novo negócio está se mostrando extremamente promissor?

Os empresários Marcus Wagner Ranciaro e a esposa, Márcia Cristina Jovellone Ranciaro, estavam prestes a dar um salto na carreira ao concluir a compra de uma chácara a apenas cinco quadras da avenida principal de Cornélio Procópio (PR), no Carnaval de 2020, momentos antes do início da pandemia no Brasil.

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| Foto: Gustavo Carneiro

A ideia inicial era agregar valor ao serviço oferecido de decoração e utilizar a chácara, com pouco mais de 9 alqueires, como um espaço de locação para eventos – festas que simplesmente desapareceram em virtude da pandemia.

Sem novos eventos em vista, o casal ficou com R$ 200 mil pendentes a receber das festas adiadas. Marcos e Márcia só receberam 30% do valor total no fechamento dos contratos e os 70% restantes seriam depositados 15 dias antes de cada evento – o que não ocorreu.

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| Foto: Gustavo Carneiro

Em busca de recuperar a saúde financeira abalada pela pandemia, o primeiro passo foi utilizar a chácara recém-adquirida para criar uma horta e vender hortaliças. O trabalho foi iniciado após o casal se mudar para a chácara, pouco antes da Páscoa, sempre com a ajuda do sogro de Marcus – o pai do empreendedor é responsável por fazer toda a estrutura de marcenaria.

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| Foto: Gustavo Carneiro

“Na semana que viemos, no final de março, começou toda a confusão por causa da pandemia. As três formaturas que faríamos – uma em Ourinhos e duas em Santo Antônio da Platina – já foram canceladas. A partir daquele dia, não fizemos mais nada de eventos”, relembra Marcus.

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Moram na chácara Marcus e a esposa em uma casa. Em outra casa moram o sogro dele e o filho. E em uma terceira residência mora o pai de Marcos.

Horta

O início das atividades foi a partir do que era considerado mais barato e simples de fazer: uma horta. Foi adquirido um equipamento de irrigação e os empreendedores começaram, no final de abril de 2020, a cultivar hortaliças, como alface, repolho, pepino, rúcula, quiabo, jiló e brócolis, tudo sem agrotóxicos, colhido e entregue no mesmo dia para os clientes.

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| Foto: Gustavo Carneiro

A comercialização é feita online, por meio de anúncios no Facebook e da divulgação em um grupo do WhatsApp, com entrega da produção de porta em porta.

A horta deu tão certo que as culturas já foram expandidas. A expectativa é iniciar a colheita da mandioca a partir do final de março e as primeiras abóboras já começaram a ser colhidas. “Vamos em breve iniciar uma criação de porcos, então parte da abóbora servirá para os porcos se alimentarem”, explica Marcus.

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| Foto: Gustavo Carneiro

Depois do trabalho bem-sucedido na horta, a expansão do negócio recém-iniciado segue a todo vapor. Ao comprar porcos (matéria-prima) de terceiros, os empreendedores começaram a fabricar linguiça – com recheios de tomate seco, queijo, alho poró, shimeji, pimenta biquinho e azeitona.

“Quando tivermos a criação de porcos, iremos ampliar nossa produção. A ideia é fazer também salame, bacon e lombo defumado”, projeta Marcus.

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| Foto: Gustavo Carneiro

Novos produtos com receitas de família

Inquietos, os empreendedores foram adiante. Como a chácara tem área de pasto, foi feito um financiamento no banco para adquirir 23 cabeças de gado. A aquisição foi em junho do ano passado. O plantel foi criado até ser comercializado para um terceiro em novembro – o comprador terminou de criar e faria o abate.

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| Foto: Gustavo Carneiro

Após a comercialização das cabeças de gado, restaram duas vacas leiteiras, o que motivou a criação específica. “Como nossa área de pasto não é tão grande, pensamos numa opção que pudéssemos agregar valor. Em breve, vamos adquirir mais cinco ou seis vacas leiteiras”, anunciou Marcus.

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| Foto: Gustavo Carneiro

Foi então que, a partir do leite ordenhado das vacas, começou a produção de queijo fresco. A oferta de produtos foi ampliada e o muçarela nozinho (em formato de nó) e doce de leite passaram a ser fabricados. Alimento altamente proteico, o soro do leite que fica como resíduo na preparação dos queijos será utilizado para alimentar os porcos, prestes a serem adquiridos.

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| Foto: Arquivo Pessoal

Frutas

Dentro do pensamento empreendedor de agregar valor aos produtos comercializados, a quantidade dos pés de jabuticaba motivou a produção de geleia e de licor provenientes da fruta.

A geleia também é produzida de outros sabores, abacaxi com pimenta e morango, mas nesses dois casos a matéria-prima é adquirida externamente. Para completar, nos próximos dias deverá ser retomada a fabricação de compotas de maçã.

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| Foto: Gustavo Carneiro

E tem mais opções oferecidas ao público consumidor dentro da perspectiva de sempre agregar valor aos produtos: tomate seco e molho de tomate, a partir do legume comprado de terceiros. “Se eu não agrego valor, o comprador estabelece o valor que quer pagar”, explica Marcus.

Importante destacar que as receitas de família tiveram um importante papel nesse processo, graças às delícias feitas pela tia e pela mãe do Marcus que foram replicadas – figuram como exemplos o molho de tomate, o tomate seco, as geleias e a compota de maçã. Um legado de valor inestimável, já que a tia do empreendedor morreu de covid em agosto do ano passado e a mãe faleceu em outubro, de infarto.

Imprevisível

“Há um ano, jamais imaginaria que faríamos o que estamos fazendo hoje, tivemos que nos reinventar”, destacou Marcus, que tem formação como agrônomo, mas quando trabalhou na área, muitos anos atrás, atuava na venda de tratores. “Para você ter ideia, quatro meses atrás eu nunca tinha tirado leite de vaca na vida.”

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| Foto: Arquivo Pessoal

A atitude empreendedora está cada vez mais engrenando. “Se tudo correr bem, creio que no máximo em um ano a gente já esteja conseguindo viver disso aqui. Estamos lutando, gostando e fazendo de tudo para que dê certo.”

A cozinha industrial onde é feita a preparação dos produtos foi instalada no salão de festas da chácara. “Não devemos mais usar o salão para eventos. De qualquer forma, vamos cumprir todos os contratos que foram adiados, mas não sabemos o que vai acontecer depois, se vamos continuar com decoração em um ritmo menor.”

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| Foto: Arquivo Pessoal

A longo prazo, os empreendedores projetam fazer da chácara um lugar para que os clientes, ao mesmo tempo que comprem os produtos, se divirtam com atividades no local, como andar a cavalo, por exemplo. “Já tem muita gente que quer vir aqui”, concluiu.

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