Carlópolis, município do Norte Pioneiro, se destaca como o maior produtor de goiaba do Paraná, responsável por quase 77% da produção da fruta no Estado. É ainda a quarta cidade brasileira com maior volume produzido no país, entre um universo de 893 municípios com a exploração comercial da fruta.

Plantação de goiaba em Carlópolis, maior município produtor da fruta no Estado
Plantação de goiaba em Carlópolis, maior município produtor da fruta no Estado | Foto: Jaelson Lucas/AEN

Em março de 2019, a goiaba produzida em Carlópolis ganhou um novo status que passou a permitir a exportação da fruta. Isso graças à conquista da certificação GAP (Good Agricultura Practices), que reconhece a segurança alimentar e sustentabilidade em produtos de origem agrícola.

Em 2016, o produto já havia obtido o registro de IG (Indicação Geográfica) junto ao Inpi (Instituto Nacional de Propriedade Intelectual), conferido a produtos ou serviços que são característicos do seu local de origem, o que lhes atribui reputação, valor intrínseco e identidade própria, além de os distinguir em relação aos seus similares disponíveis no mercado.

“São produtos que apresentam uma qualidade única em função de recursos naturais, como solo, vegetação, clima e know-how (saber fazer)”, destaca o Ministério da Agricultura, em sua página oficial.

A engenheira agrônoma do IDR (Instituto de Desenvolvimento Rural) de Carlópolis, Luiza Rocha Ribeiro Calixtro, explica que o município já tem tradição na fruticultura.

“Em 1974, o produtor Iwao Yamamoto já cultivava goiaba de mesa e foi realizando algumas seleções, dando origem a uma goiaba branca batizada de Iwao ou Carlópolis. A partir daí, a área de goiaba foi aumentando no município”, relata.

Segundo a técnica, o município lidera a produção de goiaba no Estado por diversos fatores. “Histórico e tradição, facilidade do escoamento da produção, organização dos produtores, qualidade de frutos, condições climáticas e de solo favoráveis e a capacitação técnica dos produtores.”

A engenheira agrônoma destaca os maiores desafios dos produtores de goiaba no Estado. “A variação do preço de venda da goiaba no mercado, que em épocas da maior safra os preços caem muito, além do manejo de pragas e doenças, por existirem poucos produtores com registro para a cultura”, enumera.

FAMÍLIA

O produtor Mauricio Biazin Morais trabalha junto ao pai e o irmão na propriedade da família, em Carlópolis. Dos 9 hectares, 2 deles são destinados ao cultivo da goiaba. Inicialmente, a família começou o plantio da fruta em 2013, e outra parte foi plantada em 2017.

Mauricio deixou a carreira como bancário para plantar goiaba na propriedade da família, em Carlópolis
Mauricio deixou a carreira como bancário para plantar goiaba na propriedade da família, em Carlópolis | Foto: Arquivo pessoal

“Eu era bancário, estava morando em Curitiba há 16 anos, sempre estressado. Então meu pai, em 2017, me sugeriu plantar goiaba, que era uma cultura que estava em crescimento em Carlópolis e que dava um bom retorno para pequenos produtores”, relembra. Em janeiro de 2018, Mauricio voltou a Carlópolis para ajudar a família na agricultura.

No ano passado, a produção familiar resultou na colheita de 41 toneladas da fruta. Toda a produção vai para a Associação dos Olericultores e Fruticultores de Carlópolis, que atualmente vende a goiaba para os estados do Paraná, Santa Catarina e São Paulo.

Neste ano, a expectativa de aumentar a produção foi prejudicada pelas condições climáticas. “A geada provocou muitos danos, principalmente na parte mais velha da plantação que é onde mais produz e onde teria colheita para o segundo semestre”, conta Mauricio. Ele contabiliza uma perda de, no mínimo, 50% da produção.

Dos 9 hectares da propriedade da família, 2 deles são destinados ao cultivo da fruta
Dos 9 hectares da propriedade da família, 2 deles são destinados ao cultivo da fruta | Foto: Arquivo pessoal

Com relação ao mercado da goiaba, o produtor diz que os preços não mudaram muito neste ano em relação ao ano passado. “Mas os custos de produção aumentaram bastante, principalmente em relação aos fertilizantes.”

Em valores, a caixa com 20 quilos está custando hoje de R$ 50 a R$ 60, sendo que no ano passado estava entre R$ 45 e R$ 55. “A goiaba, porém, é uma fruta tropical, e algumas variedades produzem apenas no verão, daí o preço tende a ser até um terço deste valor.”

Para obter o máximo de desempenho da produção, a irrigação é imprescindível, já que o principal ingrediente para a produção da goiaba é a água. “Também é preciso fazer uma boa análise de solo para a aplicação adequada dos nutrientes faltantes ou insuficientes, com a assessoria do IDR [Instituto de Desenvolvimento Rural]”, pontua.

Sobre a lucratividade obtida com a goiaba, Mauricio destaca que houve queda por conta do aumento dos custos de produção, mas não soube precisar números. “Para o pequeno produtor ainda dá uma margem de lucro boa”, destaca.

ESTADO

A área colhida de goiaba no Paraná em 2019 foi de 1,3 mil hectares, para uma produção de 35,4 mil toneladas e VBP (Valor Bruto da Produção Agropecuária) de R$ 70 milhões. “Para 2020, números preliminares indicam a continuidade de crescimento em 4% na área e 6% nas colheitas”, destaca Paulo Andrade, engenheiro agrônomo do Deral (Departamento de Economia Rural), órgão da Secretaria de Estado da Agricultura.

Ao todo, 324 produtores no Paraná cultivam goiaba em uma área média de 0,98 hectares, segundo dados do IDR.

Em 2020, nas Ceasas do Paraná foram comercializadas 2,2 mil toneladas de goiaba, girando R$ 9,9 milhões, provenientes principalmente do Paraná (80,3%) e de São Paulo (18,9%), a um preço médio de R$ 4,54 o quilo. Carlópolis foi o principal fornecedor, com 1,2 mil toneladas e participação de 55% no volume total.

NACIONAL

Segundo a FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação), o Brasil figura como o 6º do ranking mundial no cultivo da goiaba, representando 3,6% da produção global.

Na fruticultura brasileira, a goiaba é cultivada em 22,1 mil hectares, sendo a 13ª fruta em VBP – R$ 926,9 milhões, e a 14ª em área e em volumes colhidos (584,2 mil toneladas), segundo dados de 2019 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística).

Esses números indicam uma participação de 1% na área de cultivo, 1,4% nos volumes colhidos e 2,6% no montante financeiro gerado pelo VBP da fruticultura nacional. Os estados de Pernambuco (36%), São Paulo (33,2%) e Paraná (4,5%) participam juntos com 73,7% das colheitas em nível nacional.

Segundo a Pesquisa de Orçamento Familiar 2018 do IBGE, o consumo médio de goiaba por habitante/ano é de 0,362 Kg.

EXPORTAÇÃO

As goiabas foram a 18ª fruta na pauta das exportações do setor no Brasil em 2020, com 238 toneladas remetidas ao exterior, o que gerou receitas de US$ 537 mil e um preço médio da tonelada de US$ 2.258.

“Num recorte de 2011 a 2020, a goiaba registrou uma evolução positiva de 73,1% nas quantidades exportadas e 79,1% nas entradas monetárias. Por sua vez, o preço médio em toneladas variou 3,5% para cima”, destacou Andrade.

O Agrostat, ferramenta do Ministério da Agricultura e Abastecimento, aponta a presença ainda embrionária do Paraná em 2019 e 2020 nas exportações de goiaba, tendo no primeiro ano enviado 212 quilos a valores de US$ 194, e no ano passado embarcado 596 quilos, com receitas de US$ 481.

O técnico do Deral acrescenta que são números aparentemente modestos. No entanto, sendo uma fruta exótica para quem não habita as áreas tropicais, grandes possibilidades negociais podem surgir.

“A caracterização da goiaba como superfruta, isto é, possuindo propriedades nutricionais e medicinais, começa a angariar novos mercados. Fidelizar essas relações comerciais internacionais consolidam e contribuem para a ampliação da abrangência dos negócios da fruticultura brasileira”, conclui Andrade.

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