Se você ainda não ouviu falar do Bureau Verde se prepara porque a nova ferramenta, lançada pelo Banco Central, já está em vigor e traz importantes diretrizes relacionadas, diretamente, ao crédito rural, tendo a sustentabilidade como protagonista. O que isso quer dizer? O Bureau vai diferenciar os empreendimentos rurais que estão em conformidade com as leis ambientais, daqueles que as descumprem ou que geram riscos ao meio ambiente.

Maize seedling in the cultivated agricultural field with low poly graphic style, Modern technology concepts
Maize seedling in the cultivated agricultural field with low poly graphic style, Modern technology concepts | Foto: lamyai

O novo sistema do BC permite que as instituições financeiras tenham acesso, de forma rápida e consolidada, ao histórico socioambiental de empreendimentos para a concessão de crédito rural. Será possível checar, online e em tempo real, se a área a ser financiada está em dia com as obrigações legais e se atende aos requisitos de sustentabilidade. O Bureau Verde consolida informações de sete bases de dados do governo (Serviço Florestal Brasileiro; ANA (Agência Nacional de Águas); MMA (Ministério do Meio Ambiente); IBAMA; ICMBio; Funai e INCRA).

A advogada, Laurine Martins, especialista em Direito Imobiliário e Ambiental, explica que o Bureau Verde é uma ferramenta importante que ajudará as instituições financeiras na tomada de decisão informada para conceder o crédito rural. Os empreendimentos que não estiverem dentro dos parâmetros já estabelecidos nas legislações vigentes terão dificuldade para obter crédito. “A publicidade e transparência trazidas pelo Bureau Verde seguem as demandas globais de adequação socioambiental e de finança sustentável. Vale dizer também que não é só o crédito rural que será afetado. A ideia é que qualquer parte interessada, desde que autorizada pelo produtor rural, poderá ter acesso às informações dos financiamentos e das classificações do empreendimento no Bureau”, resume ela.

O bureau verde traz três classificações de empreendimentos, dentro dos critérios de sustentabilidade, que balizam a concessão de crédito rural: os empreendimentos que não poderão ser financiados por ter problemas relacionados, por exemplo, a desmatamento ilegal ou trabalho análogo à escravidão; empreendimentos que poderão ser financiados com crédito rural, mas que configuram risco socioambiental, como imóveis com embargos de sobreposição; e empreendimentos financiados com crédito rural que poderão ser classificados de operação sustentável, como por exemplo, agricultura de baixo carbono, outorga de água e utilização de energia renovável.

Benefícios para o campo

Para o gerente de Desenvolvimento do Agronegócio da Sicredi União PR/SP, Vitor Pasquin, a nova regulamentação traz muitos benefícios e oportunidades para o produtor rural. A cooperativa é uma das importantes instituições que concede crédito rural.

Segundo o gerente, com a nova ferramenta o produtor poderá regularizar sua propriedade e mostrar ao mundo que pratica uma agropecuária sustentável, quebrando a retórica de que desmata para produzir; haverá a possibilidade de o governo oferecer maior incentivo ao setor, com taxas diferenciadas; e ainda poderá oferecer um produto diferenciado ao mercado, que está cada vez mais de olho na rastreabilidade.

“Mas não é só”, comenta Pasquini. Ele aponta ainda que o produtor com crédito de carbono em sua propriedade poderá comercializá-lo, tornando a preservação uma moeda. Outro benefício mencionado por ele atinge tanto os fornecedores de crédito como os que buscam crédito no mercado. “Além dos recursos controlados do governo, a instituição financeira poderá criar um título verde e com isso encontrar investidores interessados nesses papéis dentro e fora do país, possibilitando a busca de recursos mais baratos para financiar as operações do setor”, explica.

Pasquini destaca que a maioria das validações ambientais que o Bureau Verde traz a Sicredi União PR/SP pratica há tempo. “Além de registrar todas as operações de crédito rural no Sicor - Sistema de Operações do Crédito Rural -, nós temos ferramentas de Geocrédito interligadas com os órgãos competentes que acusam as áreas de reserva legal, áreas de embargos, unidades de conservação, terras indígenas, trabalho escravo. Identificando essas áreas, a solicitação de crédito não é atendida. Portanto vejo mais impactos positivos do que negativos com o Bureau, principalmente para os produtores que já tomam crédito rural com a cooperativa”, mencionou.

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