A chuva tem atrasado a colheita de soja no Paraná. Levantamento realizado pelo Deral (Departamento de Economia Rural), órgão ligado à Secretaria Estadual da Agricultura e do Abastecimento, mostra que 48% do grão já foi colhido em território paranaense. Na safra passada, atípica em função da seca, o percentual era de 68% nesta mesma época.

“As chuvas têm dificultado o trabalho, mas não causam o impedimento. Em geral, a qualidade dos grãos é boa, mas eles estão com uma umidade maior que a desejável, encarecendo o processo de secagem”, explica o engenheiro agrônomo Carlos Hugo Godinho, analista do Deral.

LEIA TAMBÉM:

Interdições na BR-277 podem gerar prejuízo de R$ 600 mi com a soja

O técnico pondera que, por outro lado, a produtividade obtida das áreas colhidas está superando as expectativas. “Isso significa que a disponibilidade hídrica no momento de enchimento de grãos foi favorável para a cultura”, analisa.

O atraso na colheita foi registrado em todo o Estado, preocupando mais nas regiões produtoras de segunda safra de milho (Oeste e Norte, principalmente), visto que as lavouras de soja têm que ser colhidas para o plantio do cereal no período mais favorável. Apesar do atraso agora, a previsão é que toda a colheita seja encerrada em maio, assim como na safra anterior.

Apesar das condições climáticas, produtividade obtida das áreas colhidas está superando as expectativas
Apesar das condições climáticas, produtividade obtida das áreas colhidas está superando as expectativas | Foto: Gilson Abreu/AEN

Hoje, a colheita de soja é totalmente mecanizada no Estado. “As chuvas impedem que o grão e o solo sequem para uma colheita ideal. A alta umidade no campo dificulta o processo de trilha na máquina, gerando maior percentual de grãos danificados”, explica.

LEIA TAMBÉM:

Integração entre soja e apicultura eleva produtividade em 20%

Com a chuva, a própria entrada de maquinário pesado em solo úmido é prejudicial, dada a possível compactação do solo.

“Por fim, o processo de secagem e armazenagem fica mais oneroso, pela maior dificuldade de secar e pela possível proliferação de fungos, caso a secagem não seja inteiramente satisfatória”, detalha.

Previsão de 20,9 milhões de toneladas

A projeção atual está em 20,9 milhões de toneladas colhidas de soja no Estado, mas a produtividade registrada nas colheitas das últimas semanas sugere que esse número possa ser ultrapassado.

“Em 2022 colhemos 13,3 milhões de toneladas, em função da intensa seca”, compara. De um ano para outro, a área plantada de soja praticamente se manteve no Paraná, subindo de 5,67 para 5,76 milhões de hectares. O Censo Agropecuário aponta 84,5 mil propriedades rurais que cultivam soja no Estado.

Apesar dos bons resultados em volume, os preços recebidos pela saca de soja têm caído no Estado. Em fevereiro deste ano, a média ficou em R$ 158,14 a saca, menor valor desde dezembro de 2021

.

“Essa desvalorização acompanha o observado no mercado internacional. Houve uma queda dos valores da commodity em relação ao ano anterior, mas esse patamar ainda é considerado bem remunerado para o produtor, dado que o preço teve elevações importantes em 2020 e 2021”, pondera o analista.

A chuva também está atrasando o plantio do milho safrinha no Estado. “Cada dia de atraso desfavorece a cultura em termos de produtividade e aumenta o risco de ocorrência de geadas no desenvolvimento da cultura”, conclui.

`Soja está pronta para colher há 15 dias´

Florisvaldo de Oliveira é administrador de uma fazenda localizada no município de Maringá. Ele relembra que nesta época, na safra passada, a colheita da soja já havia terminado.

“Já passou bastante tempo da colheita, a soja está pronta para colher há 15 dias. A chuva prejudica um pouco a produtividade porque o grão perde peso e começa a apodrecer com muitos dias de precipitação”, diz.

Florisvaldo explica que o atraso da colheita de soja acarreta o atraso do plantio do milho safrinha. “Não podemos demorar para plantar o milho para evitar passar por uma possível geada em julho”, destaca. Cerca de 50% da produção de soja foi colhida até agora na propriedade.

Apesar do atraso na colheita deste ano, o administrador pondera que a produtividade será muito superior em comparação à safra passada. No ano passado, nesta época, já haviam sido concluídos a colheita de soja e o plantio do milho safrinha.

“Mas foi bem fraco, produziu bem pouco, por isso a colheita foi rápida. O tempo ainda colaborou porque não choveu na colheita no ano passado. Tivemos pouca produção.”

Enquanto em 2022 a média de produtividade ficou em 20 sacas de soja por hectare, neste ano o volume mais que triplicou, atingindo 70 sacas.

PREÇO

O preço pago pela saca, no entanto, está menor nesta safra de soja. “Ano passado, foi possível vender por R$ 182 a saca de 60 kg, sendo que nesta safra está a R$ 151”, compara. Toda a produção da fazenda é comercializada para cooperativas da região de Maringá.