Ainda em 2015 a OMS (Organização das Nações Unidas) para Agricultura e Alimentação (FAO) estimava que 805 milhões de pessoas no mundo não tinham comida suficiente para levar uma vida saudável e ativa. É até discutível a influência de fatores econômicos e políticos no aumento ou diminuição dessa estimativa. No entanto, o que é indiscutível é que a população mundial tem crescido nas últimas décadas a um ritmo alucinante. Em 1960 éramos em torno de 3 bilhões de pessoas, em 2021 éramos quase 8 bilhões de pessoas. Isso mesmo, em seis décadas quase triplicamos a quantidade de bocas, ansiosas e necessitadas de carboidratos, proteínas, lipídeos, vitaminas. Mas vale lembrar que, salvo poucas trocas de gases e alguns meteoros na atmosfera, continuamos com nosso velho e mesmo planeta e, alerta, possivelmente vamos continuar com ele do mesmo jeito.

Aí que vai a pergunta: como é possível alimentar tanta gente se a fonte de recursos é praticamente a mesma? É nesse caminho que o mundo tem discutido fontes alternativas de proteínas. Se por um lado existem cada vez mais pessoas se tornando vegetarianas, por outro, também será muito complicado aumentar a produtividade de proteína animal para suprir toda essa demanda. Dessa maneira, a produção de proteínas por plantas tem tomado atenção das comunidades científica e governos pelo mundo.

Atualmente, as atenções tem se voltado para os alimentos à base de plantas (ABPs) (Plant Based Food). É provável que você já tenha se deparado com carnes de soja, almondegas de lentilhas, leite de amêndoas ou maionese sem ovos. Basta uma procura rápida pelos supermercados para encontrarmos alimentos baseados em plantas que imitem os de origem animal. Mas, já consumiu? Gostou? Os altos preços e características sensoriais indesejadas ainda são desafios para essa indústria.

Assim, se faz cada vez mais necessário o incentivo a pesquisas e desenvolvimento de novos produtos de ABPs. Participei há mais de dois anos de um grupo de trabalho no Ministério da Agricultura de maneira a regulamentar e incentivar o mercado de novas proteínas. Na AgroValley Londrina discutimos constantemente sobre o incentivo a startups, com eventos e programas de mentoria para tentar trazer oportunidades também para essa necessidade. A governança de Londrina não destoa do cenário nacional nas preocupações. Ainda essa semana, no evento Pint of Science Londrina, estive com pesquisadores da UEL, UTFPR, IFPR para apresentar tendências de mercado e novas possibilidades na área.

É um mercado em expansão. No ano passado, Massimo Castellari, do Instituto de Pesquisa e Tecnologia Agrícola e Alimentar da Espanha, publicou na revista Critical Reviews In Food Science And Nutrition que o mercado global de proteínas à base de plantas é projetado para crescer a uma taxa de crescimento anual de 8,1% a partir de 2019, para atingir um valor de $ 14,32 bilhões até 2025.

Nós estamos entre os líderes mundiais na produção de proteínas animais, e ficar de fora das pesquisas nessa área poderiam nos colocar em segundo plano no cenário mundial. A aproximação do setor produtivo e as academias de pesquisa urgem de acontecer. Existem investidores procurando novas oportunidades e existem pesquisadores inquietos por poder contribuir e marcar seus nomes nos papiros científicos de alto impacto. O dia em que os dois se encontrarem e ao menos tomarem um café, tenho certeza que ninguém segura esse nosso Brasil.

Dr. Luiz Diego Marestoni - Professor Titular do IFPR Londrina/ Membro da AgroValley Londrina