A dor do parto
Clarice é Clarice. descubro que também chegou a pintar alguns quadros
PUBLICAÇÃO
sábado, 05 de março de 2022
Clarice é Clarice. descubro que também chegou a pintar alguns quadros
Gabriel Faria

acabo, por agora, de ler mais um livro de Clarice. sinto que ainda não sei de nada. acabo por me fazer sentir mais um pouco. esse é o tamanho de Clarice. no total, acredito que foram três ou quatro livros de Lispector, estou em um outro espectro. procuro alguns adjetivos para definir esse momento; a língua portuguesa não foi capaz de encontrar uma única palavra para explicar Clarice; e isso fala muito mais sobre Clarice do que sobre a língua portuguesa. acabo de encontrar a única: Clarice é Clarice. descubro que também chegou a pintar alguns quadros.
quando ouvi pela primeira vez a frase ‘passa a ser correto tudo que dá certo’ cheguei a duvidar de tudo, me questiono ainda mais sobre a ideia de que os fins poderiam, em algum momento, com alguma razão, justificar os meios. Não! e esse Não me consome. esse sentimento e as inúmeras metáforas que te cercam.
a sensação de que o amor se dá através da dor; de que somente há luz quando atravessamos o túnel; de que o final de toda tempestade acompanha um arco-íris; de que os espinhos antecedem o nascimento das flores; de que o milho sente uma necessidade enorme em se tornar pipoca; de que ostras felizes não formam pérolas; de que para alcançar a paz é preciso fazer uma guerra; de que para fazer uma omelete tem que se quebrar os ovos; de que a lagarta quer se tornar uma borboleta.

essa maldita sensação que me consome, por isso leio Clarice, e ouso a discordar, às vezes, de Rubem Alves. se o sol precisa da chuva, se é preciso resistir para ser feliz, se é preciso sofrer para aprender; se é preciso morrer para nascer. Não! esta é a dor do parto. a tênue linha entre morrer e (re)nascer.
Gabriel Faria, estudante de direito

