acabo, por agora, de ler mais um livro de Clarice. sinto que ainda não sei de nada. acabo por me fazer sentir mais um pouco. esse é o tamanho de Clarice. no total, acredito que foram três ou quatro livros de Lispector, estou em um outro espectro. procuro alguns adjetivos para definir esse momento; a língua portuguesa não foi capaz de encontrar uma única palavra para explicar Clarice; e isso fala muito mais sobre Clarice do que sobre a língua portuguesa. acabo de encontrar a única: Clarice é Clarice. descubro que também chegou a pintar alguns quadros.

quando ouvi pela primeira vez a frase ‘passa a ser correto tudo que dá certo’ cheguei a duvidar de tudo, me questiono ainda mais sobre a ideia de que os fins poderiam, em algum momento, com alguma razão, justificar os meios. Não! e esse Não me consome. esse sentimento e as inúmeras metáforas que te cercam.

a sensação de que o amor se dá através da dor; de que somente há luz quando atravessamos o túnel; de que o final de toda tempestade acompanha um arco-íris; de que os espinhos antecedem o nascimento das flores; de que o milho sente uma necessidade enorme em se tornar pipoca; de que ostras felizes não formam pérolas; de que para alcançar a paz é preciso fazer uma guerra; de que para fazer uma omelete tem que se quebrar os ovos; de que a lagarta quer se tornar uma borboleta.

Imagem ilustrativa da imagem A dor do parto
| Foto: .Marco Jacobsen

essa maldita sensação que me consome, por isso leio Clarice, e ouso a discordar, às vezes, de Rubem Alves. se o sol precisa da chuva, se é preciso resistir para ser feliz, se é preciso sofrer para aprender; se é preciso morrer para nascer. Não! esta é a dor do parto. a tênue linha entre morrer e (re)nascer.

Gabriel Faria, estudante de direito