Dezembro vem e com ele todas as misticidades que rodeiam o Natal. Apesar de se apresentar como um feriado religioso, a data carrega um caráter cultural muito maior, o qual se reflete na culinária, nas decorações, costumes e, claro, em histórias. Os clássicos contos natalinos, tais quais “Rudolph, a rena do nariz vermelho” e “O Soldadinho de Chumbo”, colorem nossos corações de vermelho e verde, porém não passam de ficção. Mas a Folha de Londrina selecionou histórias reais que trazem os símbolos natalinos em suas mensagens, como a presença da família, a hora da ceia, e a espera pelo Papai Noel – e tudo isso com o gostinho paranaense. Confira os verdadeiros contos de Natal:

O bom velhinho

Não há quem não saiba quem é o senhor de barbas brancas e vestes vermelhas que chega sorrindo. O Papai Noel se torna a maior celebridade do fim do ano (Roberto Carlos que nos desculpe) e toda criança aguarda poder vê-lo, abraçá-lo e fazer seus pedidos. Entretanto, há poucas pessoas que podem dizer que não esperam pelo Papai Noel, mas esperam para ser o Papai Noel.

Há um Papai Noel em um shopping center de Londrina que não precisar vir do Polo-Norte para fazer a alegria da criançada. É um microempresário de 55 anos de idade, mas que em nossas imaginações pode ter até mais de 100 anos. Para não estregar a magia, sua identidade não será revelada, mas podemos chamá-lo como é mais conhecido: Papai Noel.

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Noel deixou sua barba branca crescer pela primeira vez em 2017, e foi quando perguntaram se ele não tinha interesse em prestar serviços como o bom velhinho. Sua primeira experiência foi no comércio local. Ele conta que “ficava lá sentado, olhando. Envergonhado, porque eu não conversava, era tímido”. Sua mulher, a Mamãe Noel, incentivava que ele sorrisse, e repetisse trejeitos do personagem, “mas eu não gostava do Hohoho”, admite. Ele começou a aproveitar o trabalho quando percebeu que poderia se divertir com a situação. Gostava de ficar bem paradinho observando quem passava, para surpreendê-las: “Aí as pessoas passavam, e eu dizia ‘Hohoho’, e elas diziam: ‘Nossa pensei que era um boneco!”. Hoje, ele se alegra com o serviço, “e agora fico esperando dezembro para começar de novo”.

Mas como ele aprendeu a ser o Papai Noel carinhoso que conhecemos hoje? A tarefa não foi fácil, e demandou muita pesquisa. Noel teve a ajuda de seus filhos na tarefa de assistir e reassistir aos mais famosos filmes de Natal, a fim de estudar toda a história e personalidade do velhinho. Por meio dos roteiros, diversas perguntas das crianças sobre o universo do Noel são respondidas. Como é a casa do Papai Noel? É preciso assistir a “A Origem dos Guardiões” (2012). E o que dizer das crianças que não acreditam no Papai Noel? Reveja “O Expresso Polar” (2004). Mas como o Papai Noel entra nas casas? Ora, isso se aprende em “Crônicas de Natal” (2018).

Anualmente, filas de crianças se formam para conversar com o bom velhinho. Mesmo no ano passado, com a pandemia da Covid-19, Noel esteve com as crianças à distância, por meio de telas. Todas as crianças são muito especiais, mas certas histórias têm destaque em sua memória. Uma delas é Filipe, que marca presença todo dezembro ao lado de Papai Noel. Mas não pode ser um Papai Noel qualquer – precisa ser esse. Acontece que, em 2018, quando Filipe tinha apenas 5 anos, o garoto sofreu um acidente e entrou em coma. Quando acordou, seu primeiro pedido foi ver o Papai Noel, e assim se conheceram. Hoje, Noel acompanha seu desenvolvimento, e se emociona ao ver que o garoto recuperou sua capacidade de falar e andar. Em entrevista ao Balanço Geral Londrina, Filipe conta que “quando ele (Papai Noel) me vê, ele chora. Por quê? Porque ele é o meu melhor amigo”.

Ceia

Chega dia 24, e o evento mais esperado pelas famílias brasileiras é a ceia. Mas o cenário de mesa farta com direito a sobremesa não é a realidade geral do país. Dados de 2020 do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 revelaram que mais de 55% da população vive em situação de insegurança alimentar, ou seja 116, 8 milhões de pessoas não têm acesso pleno e permanente à comida. Foi tendo essa situação em mente que o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) realiza a campanha “Natal Sem Fome: Cultivando Solidariedade para Alimentar o Povo”, a qual já auxiliou 400 famílias de Londrina.

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Nesse movimento, alimentos cultivados e preparados por assentamentos são voluntariamente repartidos com bairros necessitados. José Damasceno, assentado em Arapongas e integrante da direção estadual do MST-PR, define que a palavra que sustenta essa ação é “Solidariedade” – a qual não deve ser confundida com “Caridade”! Damasceno explica que “a solidariedade coloca quem está doando e quem recebe no mesmo nível. Nós cuidamos disso para que a pessoa que fosse receber viesse com o sentimento de igual”. O assentado entende que o Natal é o momento chave para ações como essa, já que a data reúne uma diversidade de simbolismos culturais, sociais e familiares relacionados à sensibilização para com o próximo – independentemente de credo religioso.

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As arrecadações começaram no Paraná no começo do ano passado, com a chegada do novo coronavírus ao Brasil. O MST-PR trabalhou em ao menos 30 municípios, sendo 12 deles na região Norte. Naquele ano, o movimento paranaense trabalhou independentemente, e finalizou o 2020 com a campanha “Natal da Reforma Agrária Popular”. Já em 2021, o MST está integrado nacionalmente na campanha “Natal Sem Fome”. Os resultados surpreenderam os assentados, que esperavam angariar 7 toneladas de comida em Londrina, e chegaram à marca de 16 toneladas. Ao todo, desde abril do ano passado, os alimentos arrecadados já somam mais de 790 toneladas, apenas no Paraná. A demanda foi tanta que 21 novas lavouras foram abertas.

Damasceno explica que um dos maiores desafios é conseguir a adesão da campanha por parte da sociedade. Apesar de diversas instituições religiosas, lideranças de bairros e movimentos sociais estarem envolvidos, ainda há falta da comunidade geral. Há diversas formas de ajudar: doando sementes, adubo, entre outros insumos agrícolas; voluntariando-se para trabalhar nas plantações; e a forma mais comum, comprando produtos de origem de assentamentos. O objetivo, para Damasceno, é “que a gente consiga fazer campanhas muito mais contundentes com o apoio da sociedade”.

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O assentado entende que a comida partilhada significa mais que alimento, mas o sentimento de pertencimento: “Muito mais do que dar um presentinho de brinquedo, que vira lixo logo na semana seguinte, a gente dá uma cesta de alimento para cada família para que ela passe, no mínimo, uma semana entre o Natal e o Ano-novo; para que a pessoa se sinta parte, feliz para viver esse período muito simbólico”.

Família

Que feriado mais oportuno que o Natal para reunir a família? Para muitos brasileiros, estar junto de seus parentes é uma questão essencial para viver a data. Mas imagine que, em um dado ano, essa possibilidade fosse tirada de você. Com a Pandemia da Covid-19, as corriqueiras viagens de fim de ano foram impedidas e famílias permaneceram distantes. Foi o que aconteceu com Lara Bonachela, que retorna ao Brasil da Suíça este ano para comemorar a data ao lado de seus familiares.

Natural de São Paulo, mas filha “de coração” de Londrina, onde viveu por quase 15 anos, Lara mudou-se para a Suíça com o marido e os dois filhos. Há quatro anos no Cantão Schaffhausen, a família volta anualmente ao Brasil para o Natal, data que ela define como o “ponto fixo”.

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Porém, com a ascensão do novo Coronavírus, a frase “ficar em casa” nunca foi tão contundente. Durante vários meses em que se seguiu a pandemia, o lockdown foi restritivo. Ao chegar dezembro, a situação mundial frente a doença impediu que viessem ao Paraná, e a solução foi, pela primeira vez na vida, fazer a celebração longe da família. “Eu encarei o lockdown com muita tranquilidade.” – conta Lara - “Não adianta você brigar com aquilo que você não pode”. Assim, o Natal “em casa” teve tudo o que teria no Brasil: decoração, ceia e até camiseta combinando para ela, o marido e os filhos.

Mas, em 2021, o esperado reencontro aconteceu. Em outubro, as conversas apenas por telas ficaram para trás, e pela primeira vez em quase dois anos, o contato foi presencial. O que mais a alegra é “poder sentir aquele calor daquele abraço de perto”. Mas não apenas o calor humano, o clima que só o Brasil oferece também deixa saudades. “Esse céu azul de Londrina não tem igual na face da Terra”, diz.

E agora, em dezembro, Lara está de volta ao país para resgatar o sentimento de Natal, que para ela simboliza a união familiar: “O Natal é estar com ascendentes e descendentes”. E conclui que o retorno ao Brasil não pode faltar no futuro, pois “a gente tem que abraçar as novas oportunidades da vida sem esquecer de onde a gente veio e o que nos faz feliz”.

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