Recentemente casos de recebimentos de pacotes misteriosos foram reportados aqui na região de Londrina e Maringá. Como o caso divulgado nesse sábado (26) em reportagem da FOLHA sobre sementes que não foram solicitadas e oriundas da China. O caso está em investigação pela Adapar (Agência de Defesa Agropecuária do Paraná) que soltou um aviso de alerta para que os destinatários não plantem as sementes recebidas.

Casos semelhantes aconteceram nos meses de julho e agosto de 2020, m outros países, como Estados Unidos e Canadá. Prevendo que poderia acontecer o mesmo no Brasil, o MAPA (Ministério da Agricultura e Abastecimento) soltou um alerta fitossanitário. A orientação do Ministério da Agricultura é que, caso a pessoa não tenha feito compra online ou não reconheça o remetente, não utilize as sementes e leve o pacote para uma das unidades do Mapa em seu estado ou entre em contato por telefone, relatando a situação. A venda de semente online não é proibida no Brasil.

Imagem ilustrativa da imagem O que é 'brushing'? Técnica de e-commerce por trás de envios misteriosos de sementes da China
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Em análises, a APHIS (Serviço de Inspeção Sanitária Animal e Vegetal Estadunidense) identificou 14 variedades de plantas dentre as sementes recebidas que incluíam alecrim, orégano, hibisco, dentre outras plantas conhecidas de flores e temperos. No Brasil, as sementes ainda estão em análise.

No entanto, mesmo conhecidas, há um risco grande ao se plantar sementes estrangeiras. “Muitas das pragas e doenças que elas podem conter são invisíveis a olho nu, e somente podem ser detectadas por meio de análises laboratoriais. Por isso, a importância de serem entregues à Adapar ou ao MAPA, para providenciar as análises e o descarte adequado, a fim de evitar a introdução de novas pragas no Estado”, explica o coordenador do Programa de Certificação, Rastreabilidade e Epidemiologia Vegetal da Adapar, Juliano Farinacio Galhardo. O Paraná já sofreu com pragas que dizimaram plantações como o bicudo no algodão e o greening na laranja, entre outras.

O FIM DE MISTÉRIO?

O que muitos chegaram a pensar ser "ataque fitossanitário", no entanto, não passava de uma estratégia burlar o ranqueamento de e-commerce denominada "brushing" ("escovando" em livre tradução), segundo nota do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos). A estratégia que envia itens não ordenados aos clientes, geralmente itens de baixo custo como sementes ou pequenas joias, geram espaço de avaliação de clientes nas grandes plataformas de lojas virtuais.

Plataformas como Amazon, E-bay, Aliexpress, dentre outras, são como mercados digitais e tem múltiplas lojas e quanto maior o ranking dos usuários maior é a chance desse vendedor figurar entre os primeiros resultados de busca pelos itens nas plataformas.

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A primeira vez que esse termo apareceu foi em 2015, em reportagem da Wall Street Journal (Inside Alibaba, the Sharp-Elbowed World of Chinese E-Commerce - 2/3/2015). O texto explica o uso de compradores falsos na plataforma Alibaba cujas compras eram pagas pelos vendedores, até a estratégia tomar rumos multinacionais e itens não solicitados passaram a ser enviados a clientes ao redor do globo. A "venda" gera campo em branco para uma avaliação que posteriormente é falsamente preenchida por uma conta de comprador verificado (the brusher) com cinco estrelas e boas referências para inflar a reputação da empresa. Essa seria a mais próxima explicação para os "presentes" enviados sem solicitação.

A prática é considerada uma forma de propaganda enganosa. Uma vez que é comportamento de usuário ler avaliações para atestar a seguridade da compra. E, no Brasil, o crime pode gerar pena de três meses a um ano de detenção e multa. (com informações de Luís Fernando Wiltemburg)

Entenda o caso das sementes misteriosas em reportagem de Luis Fernando Wiltemburg: Sementes misteriosas da China chegam a Londrina e Maringá e preocupam autoridades estaduais