Em 21 de dezembro, os olhares se voltaram ao céu. Júpiter e Saturno, os dois maiores planetas do sistema solar, alinharam-se em um evento raro, conhecido como “Estrela de Belém”, “Estrela de Natal” ou “grande conjunção”. Visível a olho nu, fenômeno semelhante não era registrado desde 1623. O acontecimento pitoresco foi mais um ato de um ano totalmente atípico, que entrou para história do mundo como aquele em que tudo parou.

É difícil encontrar alguém que não tenha tido planos, projetos e sonhos alterados pela maior pandemia de todos os tempos. De uma hora pra outra, a Covid-19 entrou em nossas vidas causando pânico, mortes, prejuízos e marcas que vão durar anos para passar – se é que, um dia, irão passar.

Janeiro - A reportagem foi ilustrada com charges publicadas na FOLHA ao longo do ano
Janeiro - A reportagem foi ilustrada com charges publicadas na FOLHA ao longo do ano | Foto: Marco Jacobsen

A doença foi identificada pela primeira vez em Wuhan, na China, em 1 de dezembro de 2019, mas o primeiro caso só foi reportado 30 dias depois. A negação das autoridades chinesas em admitir os alertas feitos por médicos locais pode ter dado tempo para que o novo coronavírus rompesse fronteiras e se espalhasse pelo mundo. O primeiro caso confirmado fora da China ocorreu na Tailândia, em 13 de janeiro. Após isso, outros foram detectados no Japão (16/01), Coreia do Sul (20/01), Taiwan e Estados Unidos (21/01), Cingapura (23/01), França, Nepal e Vietnã (24/01), Malásia e Austrália (25/01), Canadá (26/01), Camboja (27/01), Alemanha (28/01), Finlândia, Emirados Árabes Unidos e Sri Lanka (29/01), Filipinas, Índia e Itália (30/01) e Reino Unido (31/01). Países começaram a decretar lockdowns e fechar fronteiras, suspendendo voos e isolando turistas. Aviões da Força Aérea Brasileira foram usados para resgatar brasileiros na China, no Peru e em outros países.

30 de janeiro de 2020
30 de janeiro de 2020 | Foto: Marco Jacobsen

Enquanto isso, as imagens do sofrimento italiano correram e chocaram o mundo. E foi de lá que um paulista, de 61 anos, retornou ao Brasil com sintomas da doença. O caso foi confirmado pelo governo de São Paulo na quarta-feira de Cinzas. As ocorrências cresceram em progressão geométrica, no país e no mundo. Em 11 de março, a Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou o surto como pandemia. Cinco dias depois, um homem de 62 anos, que estava internado na capital paulista, foi a primeira vítima da doença por aqui. A rotina de máscaras, álcool em gel e distanciamento social entrava em cena, sem data pra nos deixar.

24 de fevereiro 2020
24 de fevereiro 2020 | Foto: Marco Jacobsen

Não bastasse a crise sanitária, os brasileiros passaram também a assistir uma guerra política. “No meu entender, muito mais fantasia, a questão do coronavírus, que não é isso tudo que a grande mídia propala ou propaga pelo mundo todo”, declarou, em 10 de março, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Dias depois, insistiu. “O número de pessoas que morreram de H1N1 foi mais de 800 pessoas, a previsão é não chegar aí a essa quantidade de óbitos no tocante ao coronavírus”, afirmou. Relutando em admitir a gravidade da situação, ele entrou em rota de colisão com o então ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, que em 16 de abril deixou o cargo, fazendo pesadas críticas ao comportamento do governo federal. Seu sucessor, Nelson Teich, até tentou contornar a situação, mas ficou apenas 29 dias no cargo e pediu para sair. General do Exército, Eduardo Pazuello assumiu como interino, sendo efetivado quatro meses depois. A defesa do chamado “tratamento precoce”, com hidroxicloroquina e ivermectina, sem comprovação de eficiência e desestimulado até pela FDA (Food and Drug Administration) americana, uma bandeira de Bolsonaro durante a crise, fortaleceu Pazuello.

27 de março de 2020
27 de março de 2020 | Foto: Marco Jacobsen

Amparados pelo Supremo Tribunal Federal, estados e municípios lançaram mão de restrições de circulação, fechamento de comércios e suspensão de aulas, esportes, eventos e serviços não essenciais. O governo do Paraná decretou estado de emergência e o fechamento do comércio em todo o Estado em 19 de março. Em Londrina, o prefeito Marcelo Belinati (PP) seguiu a determinação no mesmo dia. Nos meses seguintes, reaberturas e fechamentos foram constantes. O vai e vem seguiu até setembro.

28 de março de 2020
28 de março de 2020 | Foto: Marco Jacobsen

A crise econômica atingiu setores diversos, derrubando a renda e o PIB e causando falências e desemprego. Pela primeira vez na história, sessões virtuais foram permitidas nos poderes Legislativo e Judiciário, em todo o país. As lives também foram a solução para empresas e o público em geral, que usou a ferramenta para trabalhar e se distrair. O número de shows se multiplicou – assim como o número de casos da doença, que seguiu aumentando e pressionando parte da população que não podia ficar em casa. Ou que precisou ficar, mas não tinha de onde tirar seu sustento. Em resposta, para tentar reduzir o impacto da crise, o Congresso Nacional aprovou o Auxílio Emergencial.

31 de Março de 2020
31 de Março de 2020 | Foto: Marco Jacobsen

O ano do vírus também foi das chuvas – enchentes causaram destruição e mortes em São Paulo, Rio de Janeiro e Minas Gerais – e do fogo em diversas regiões do mundo. Os incêndios na Austrália, em janeiro, eram um alerta para o Brasil se preparar para um dos períodos mais secos da história. Sob acusação de desmontes em setores de prevenção e controle de incêndios do ministério do Meio Ambiente, a Amazônia e o Pantanal arderam em chamas. Tristes recordes de queimadas foram sendo batidos, e outros países reagiram, com ameaças de boicotes econômicos.

03 de abril de 2020
03 de abril de 2020 | Foto: Marco Jacobsen

Maio ainda ficou marcado, de forma triste, pelo caso George Floyd, nos Estados Unidos. Sufocado por policiais brancos, em frente às câmeras, em uma abordagem, a morte do homem negro iniciou uma série de protestos que ganharam o mundo. O levante contra o racismo encontrou eco no Brasil, onde os adolescentes João Pedro, de 14 anos, baleado dentro de casa por policiais, e Rodrigo Cerqueira, de 19 anos, também morto pela polícia do Rio de Janeiro enquanto distribuía cestas básicas para famílias carentes, foram apenas alguns casos do grave problema social que corrói o país. Em junho, revolta com o caso Miguel, o garoto de cinco anos que caiu de um prédio, em Recife (PE) – negligência da patroa, Sari Corte Real, que havia mandado a mãe do menino, empregada doméstica, passear com o cachorro. Já em novembro, a morte de Beto Freitas, espancado na porta de uma loja do Carrefour, em Porto Alegre (RS), sinalizou que a luta contra o racismo não pode arrefecer – vidas negras importam.

23 de abril de 2020
23 de abril de 2020 | Foto: Marco Jacobsen

Recado claro também durante a partida entre PSG e Istanbul Basaksehir, pela Uefa Champions League, suspensa depois de uma ofensa racista do quarto árbitro a um membro da comissão técnica do clube turco. Revoltados, os jogadores dos dois times se recusaram a ficar em campo. A partida foi suspensa aos 23 minutos do primeiro tempo. Retomada no dia seguinte, jamais vai ser esquecida.

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As flores de Lótus

Mesmo em meio à nuvem de gafanhotos, que ameaçou as lavouras do Sul, e o ciclone-bomba, que levou destruição à regiões de Santa Catarina, 2020 também foi ano de notícias alvissareiras. Festa em Cambé para os 38 participantes de um bolão que faturou a Quina de São João. Eles dividiram o prêmio de R$ 30,5 milhões. Em Londrina, após uma fratura no fêmur, causada por uma queda em casa, Zulmira Rosa de Sousa, de 109 anos, deu entrada na Santa Casa para uma cirurgia. A fala simples, acompanhada de um sorriso largo, cativou a equipe médica e trouxe alento aos profissionais que tanto sofreram neste ano. A cirurgia foi realizada em setembro e transcorreu normalmente, com alta em 48 horas – comemoração da família e dos funcionários do hospital.

24 de junho de 2020
24 de junho de 2020 | Foto: Marco Jacobsen

Esperança também com as vacinas contra a Covid-19: tão sonhadas no início da pandemia, tornaram-se realidade. Desenvolvidas em tempo recorde, com a utilização de tecnologias já em estudo, aporte de bilhões de dólares em recursos e dedicação total de pesquisadores e cientistas, chegaram aos primeiros cidadãos em dezembro. No dia 14, Margaret Keenan, uma britânica de 90 anos, esbanjou simpatia ao tornar-se a primeira pessoa no mundo a receber a vacina da Pfizer, fora de um ensaio clínico. Além do Reino Unido, Estados Unidos, Canadá, China, Rússia, Israel, Suíça, Emirados Árabes e Arábia Saudita já começaram a imunização, trazendo perspectivas de dias melhores.

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14 de maio de 2020
14 de maio de 2020 | Foto: Marco Jacobsen

Mas, como prova de que o ano é realmente insólito, grupos anti-vacina passaram não só a se dizerem desconfiados e contra os imunizantes, como também a deflagrar campanhas de desinformação. Os críticos incluem até o presidente brasileiro, que enfrentou a doença em julho. Durante um discurso na Bahia, arriscou-se a dizer que o laboratório não se responsabilizaria caso alguém vacinado “virasse um jacaré”. Além de memes, gerou revolta. Uma repetição do que já havia ocorrido quando declarou “e daí, não sou coveiro”, “é apenas uma gripezinha” e “todos vamos morrer um dia”. Já o ministro Pazuello questionou a pressa por uma vacina: “pra que essa ansiedade?”.

Do outro lado, dor entre as quase 80 milhões pessoas contaminadas no mundo e saudade dos familiares e amigos dos mais de um milhão e 700 mil mortos – 190 mil só aqui no Brasil, segundo país com mais óbitos, atrás apenas dos Estados Unidos. Em Londrina, dezembro vai chegando ao fim ultrapassando os 20 mil casos confirmados e acumulando mais de 400 vidas perdidas. As UTIs lotadas nos principais hospitais da cidade geram medo e questionamento: será mesmo que vivemos o “finalzinho de pandemia” alardeada pelo presidente?

16 de Outubro de 2020
16 de Outubro de 2020 | Foto: Marco Jacobsen

O alinhamento de Júpiter e Saturno, citado lá no início da matéria, só volta a ocorrer da mesma forma em 2080. Muitos de nós não vamos estar aqui para contemplar. Mas que ele aconteça em um ano muito mais leve do que enfrentamos dessa vez — mesmo desejo e esperança para os próximos 12 meses.

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Troca de farpas, eleições e STF em evidência: os destaques do ano político

A política também foi protagonista em 2020. A guerra entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o governador de São Paulo, João Dória (PSDB), com a pandemia de pano de fundo, ocupou – e segue ocupando – destaque nos noticiários. Uma briga com data certa para acabar: outubro de 2022. A disputa no horizonte também pode ter um ex-ministro do governo, o paranaense Sérgio Moro. Ex-juiz, polêmico no julgamento dos casos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), chegou ao ministério da Justiça com status de superministro. Esvaziado e confrontado, saiu atirando, denunciando tentativas de interferência na Polícia Federal. Atraiu a ira do presidente, que ainda enfrentou cobranças sobre investigações em curso que atingem os filhos. As suspeitas de um esquema de rachadinhas, que levaram à prisão do ex-assessor Fabrício Queiroz – encontrado em junho após meses desaparecido – e o questionamento de depósitos feitos na conta da primeira-dama, também foram e devem continuar sendo dor de cabeça para Bolsonaro. Outro que ficou em evidência foi o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), também em constantes embates com o chefe do Executivo.

27 de maio de 2020
27 de maio de 2020 | Foto: Marco Jacobsen

No Senado, constrangimento com a prisão do senador Chico Rodrigues (DEM-RR), flagrado com dinheiro na cueca e entre as nádegas. A análise de quebra de decoro está parada na Comissão de Ética, mesma situação, na Câmara, do processo de cassação da deputada federal Flordelis dos Santos (PSD-RJ), acusada de planejar a morte do marido, o pastor Anderson do Carmo, assassinado em junho do ano passado. No Rio de Janeiro, Marcello Crivella (Republicanos) encerrou antes da hora o mandato frente à prefeitura da cidade: acusado de corrupção, foi afastado e preso nove dias antes da posse do sucessor, em mais um capítulo tenso da política fluminense, já que o governador, Wilson Witzel (PSC), segue afastado. Diferente do colega catarinense, Carlos Moisés (PSL), que retornou ao cargo após enfrentar um pedido de impeachment.

09 de Junho de 2020
09 de Junho de 2020 | Foto: Marco Jacobsen

Já as eleições municipais no Brasil e presidenciais nos Estados Unidos provocaram reações diversas em novembro. Por aqui, o chamado “centrão” saiu fortalecido, enquanto candidatos apoiados pelo presidente e pela esquerda naufragaram. O PT, pela primeira vez desde a redemocratização, não elegeu prefeitos nas capitais. Dias antes, também fracassou lá fora a tentativa de reeleição do presidente americano, Donald Trump. De nada adiantaram os tuítes contestando o processo eleitoral e as tentativas de mudar na justiça o resultado das urnas, decretado após uma lenta apuração: a vitória do democrata Joe Biden, confirmada pelo Colégio Eleitoral, coloca o planeta em uma nova perspectiva a partir de janeiro. Pressão no Meio Ambiente e nas Relações Exteriores do Brasil, o que pode custar os cargos dos ministros Ricardo Salles e Ernesto Araújo, embora o governo não pareça se importar: Bolsonaro foi um dos últimos líderes mundiais a reconhecer a vitória do futuro mandatário americano. Além disso, o presidente brasileiro chegou a dizer, sem apresentar provas, que houve fraude na eleição de lá.

22 de Julho de 2020
22 de Julho de 2020

Em Londrina, Marcelo Belinati (PP) conquistou com tranquilidade o segundo mandato, mantendo João Mendonça, que trocou o MDB pelo PP, como vice. Os quase 70% de votos válidos deram vitória em primeiro turno ao prefeito, repetindo o feito de quatro anos atrás. Comemoração também para o governador Carlos Massa Ratinho Junior. Seu partido, o PSD, saiu vitorioso em 129 prefeituras, quase um terço das 399 em disputa no Paraná. Em várias outras, venceram candidatos apoiados pelo governo, como em Curitiba: reeleição de Rafael Greca (DEM), no primeiro turno, com 59,7% dos votos válidos.

26 de agosto de 2020
26 de agosto de 2020 | Foto: Marco Jacobsen

Na Câmara Municipal londrinense, sai fortalecida a bancada feminina. Pela primeira vez na história da cidade, sete vereadoras foram eleitas para a mesma legislatura, que deve ficar com a missão de discutir o Plano Diretor, após o Tribunal de Justiça do Paraná (TJ-PR) determinar a suspensão das audiências públicas sobre o tema em 2020. Na decisão, o juiz Fábio Santos Muniz afirmou que o Legislativo Municipal não poderá realizar os debates de forma híbrida, presencial ou por videoconferência. O magistrado atendeu a um recurso feito pela 24ª Promotoria de Justiça, que manifestou preocupação com a realização da discussão e da participação da população em meio ao cenário epidemiológico da Covid-19.

30 de Outubro de 2020
30 de Outubro de 2020 | Foto: Marco Jacobsen

Foi no campo político também que definiu-se o substituto do decano Celso de Mello, que se aposentou e deixou o Supremo Tribunal Federal. Indicado por Bolsonaro e aprovado pelo Senado, o piauiense Kássio Nunes Marques assumiu e já se envolveu em polêmicas. Uma decisão que alterou trechos da Lei da Ficha Limpa sofreu críticas dos pares, indício de que a confusão promete novos capítulos na mais alta corte do Poder Judiciário, provocada a se manifestar em diversos temas durante 2020. Entre as matérias mais debatidas, o impedimento na tentativa de reeleição dos presidentes Maia, da Câmara, e Davi Alcolumbre (DEM), do Senado, o reconhecimento de que estados e municípios podiam adotar medidas para conter o contágio pelo coronavírus e a possibilidade de tornar obrigatória a vacina contra a Covid-19, além do veto à posse de Alexandre Ramagem como diretor-geral da Polícia Federal. Em setembro, Luiz Fux assumiu a presidência do STF.

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Fake news e memes marcam o ano na Internet

Em um ano de crise sanitária e eleições no Brasil e nos Estados Unidos, as fake news se multiplicaram na internet. Um mapeamento feito pelo Instituto Reuters e pela Universidade de Oxford concluiu que quase 70% das informações divulgadas sobre a Covid-19 tinham como fonte principal influenciadores digitais, incluindo políticos, celebridades e figuras públicas. Desse total, 20% das informações eram falsas.

13 de Agosto de 2020
13 de Agosto de 2020 | Foto: Marco Jacobsen

Os dados apontaram ainda que 59% das postagens do Twitter foram classificadas como incorretas, mas continuavam no ar. Com o surgimento das primeiras vacinas, mais desinformação: um estudo coordenado pela União Pró-Vacina da Universidade de São Paulo (USP) aponta que, de maio a julho, houve um crescimento de 383% no número de publicações de conteúdos falsos sobre a vacina da Covid-19. Já durante o período eleitoral no Brasil, o Facebook removeu 140 mil publicações em sua principal plataforma e no Instagram.

Mas a internet também foi determinante para ajudar durante a pandemia. Isolados, cidadãos de todo o mundo utilizaram conteúdos e videoconferências pra trabalhar e se entreter. Segundo dados do YouTube, as buscas por conteúdo ao vivo cresceram 4.900% no Brasil durante a quarentena, enquanto o aumento nas transmissões ao vivo pelo site foi de 19%

07 de setembro 2020
07 de setembro 2020 | Foto: Marco Jacobsen

Em meio à produção incessante, claro, os memes. O ano mal havia começado e os primeiros já pediam o cancelamento de 2020. Mal sabiam o que ainda estava por vir… Os cancelamentos, aliás, viraram moda: é de se perder a conta o número de celebridades canceladas após declarações ou ações polêmicas. Em fevereiro, uma reportagem de televisão sobre parkour, na cidade de Taubaté (SP), viralizou. Acostumados com os vídeos de profissionais na web, os internautas não perdoaram os movimentos iniciantes das atletas e a fábrica de memes funcionou a todo vapor. Claro que terminou em polêmica. Os memes sobre a pandemia ganharam força a cada semana. Um vídeo em que a cantora pop Cardi B gritava “coronavairus” foi incansavelmente repetido. Montagens do grupo Dancing Pallbearers, de Gana, dançando e carregando um caixão se espalharam, assim como do garoto tiktoker Mario Junior, com “Roi! Leticia, né?” — o TikTok, aliás, tornou-se uma febre no mundo. Sucesso também para os irmãos Yarley e Raýssa “Trava na Beleza”.

02 de julho 2020
02 de julho 2020 | Foto: Marco Jacobsen

No ano em que conhecemos a “Cabeleleila Leila” – uma piada do humorista Eduardo Sterblitch, memes zoaram a “lerdeza” da apuração de votos americana. A comparação com a agilidade brasileira foi inevitável – só não sabíamos que, ironia do destino, a nossa, no primeiro turno, atrasaria horas. Mesmo assim, a Califórnia do Paraná terminou sua apuração antes da Califórnia dos Estados Unidos. A nota de R$ 200 também foi alvo. Internautas protestaram pedindo que o vira-lata Caramelo fosse a estrela da nova cédula. O biólogo Átila Iamarino ficou famoso em 2020 por fazer publicações de estudos sobre o coronavírus. A partir daí, o meme: “O Átila deixou a gente sair?”. Na última atualização, parece que ainda não. Jojô Todynho, vencedora de “A Fazenda 12”, e Thelma, ganhadora do “BBB20”, também estrelaram diversas brincadeiras. Não dá também pra esquecer da briga das irmãs Maria Antônia e Maria Eduarda, quando uma apagou a vela do bolo da outra.

“Enfim a hipocrisia”, “Eu/você que lute”, “O início de um sonho / deu tudo certo”, “Vai pa onde?”, “Né, minha filha?”, “O pai tá on”, “O homem disparou”. A fábrica de memes foi uma das poucas que não pararam em 2020 – até trabalhou mais. Ainda bem.

15 de julho de 2020
15 de julho de 2020 | Foto: Marco Jacobsen

Oscar inédito na era das lives

Com shows e espetáculos cancelados devido a pandemia, artistas do mundo todo utilizaram as transmissões via internet para entreter e faturar. Opções pagas e gratuitas se espalharam e conquistaram o público. Em 18 de abril, o mundo parou para assistir “One World: Together at Home”, festival beneficente criado por Lady Gaga, em apoio à luta da Organização Mundial da Saúde (OMS) pelo distanciamento social. Além de Gaga, Paul McCartney, os Rolling Stones (cada um deles de sua casa) e Eddie Vedder foram algumas das estrelas que se apresentaram virtualmente.

12 de dezembro de 2020
12 de dezembro de 2020 | Foto: Marco Jacobsen

No Brasil, a cantora Teresa Cristina foi a “rainha das lives”. Mas não ficou sozinha: Elba Ramalho, Baby do Brasil, Gusttavo Lima, Jorge e Mateus, Adriana Calcanhotto, Martinho da Vila, Zeca Pagodinho, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa, Paulinho da Viola, Maiara e Maraisa, César Menotti e Fabiano, Marília Mendonça, Alok... ufa! E foram muitas outras mais, que nem cabe aqui. Vários deles aproveitaram para arrecadar alimentos e outras doações.

21 de outubro de 2020
21 de outubro de 2020 | Foto: Marco Jacobsen

“O Gambito da Rainha”, “The Mandalorian” e “The Undoing” foram as séries mais badaladas de 2020. E antes da quarentena, o Oscar teve um momento histórico: o drama sul-coreano “Parasita” fez história: recebeu quatro estatuetas e se tornou o primeiro longa-metragem em língua não inglesa a vencer como Melhor Filme. Bong Joon Ho, o diretor, também foi premiado e emocionou o mundo. Foi um dos últimos grandes eventos presenciais. Após isso, para evitar aglomerações, gravações de filmes, séries e outras produções foram suspensas. No Brasil, até novelas inéditas saíram do ar, dando espaço para reprises. Nos últimos meses, o retorno de cinemas e outros eventos passou a ocorrer de forma gradual e com limitações. Tudo ainda nebuloso, com a alta no número de casos de coronavírus. Mas ficou a certeza que, mesmo abalada, a cultura mostrou ser essencial para o bem estar de todos.

Esporte tem competições adiadas e volta sem público

Não foi um golpe de boxe, mas a pandemia do novo coronavírus deu um nocaute no calendário esportivo de 2020. Os Jogos Olímpicos de Tóquio, as Paralimpíadas, a Copa América e a Eurocopa foram transferidos para 2021. O futebol ficou paralisado praticamente no mundo todo por quatro meses. Aos poucos, as competições voltaram a ser realizadas sem a presença de público e em formatos diferentes, como a NBA, que foi disputada em uma “bolha” dentro da Disney, em Orlando, nos Estados Unidos.

03 de novembro de 2020
03 de novembro de 2020 | Foto: Marco Jacobsen

No Brasil, os campeonatos regionais foram retomados em agosto, com os títulos de Palmeiras, Flamengo, Atlético Mineiro, Grêmio e o tricampeonato do Athletico, no Paranaense. Na sequência, o Brasileirão foi iniciado. Com jogos sem torcida, tem encerramento previsto apenas para fevereiro, quando também terminam as séries B, C e D. Disputando a segunda fase da C, o Londrina aposta todas as suas fichas em retornar para a segunda divisão, onde pode encontrar o Cruzeiro – que patina, mesmo após reagir sob o comando de Luiz Felipe Scolari – e os grandes do Rio de Janeiro: na primeira divisão, Vasco e Botafogo passam por grande crise.

11 de Novembro de 2020
11 de Novembro de 2020 | Foto: Marco Jacobsen

O Bayern de Munique faturou a Liga dos Campeões da Europa, derrotando o PSG, de Neymar Jr. O atacante do time alemão, Robert Lewandowski, foi eleito o melhor jogador do mundo, vencendo Cristiano Ronaldo e Lionel Messi. O automobilismo também sofreu com a pandemia, mas nada impediu o heptacampeonato do inglês Lewis Hamilton na Fórmula 1. Na temporada, ele ainda bateu o recorde de corridas e vitórias de Michael Schumacher.

13 de Novembro de 2020
13 de Novembro de 2020 | Foto: Marco Jacobsen

E a pior notícia do ano no esporte veio de Buenos Aires. Em 25 de novembro, o ídolo do futebol, Diego Maradona, morreu aos 60 anos. De carreira genial e polêmica, marcada por casos de doping, autor de gols incríveis e inesquecíveis – como os dois feitos contra a Inglaterra, nas quartas-de-final da Copa 1986, que conquistou com a seleção, não resistiu a um ataque cardíaco em casa, dias após receber alta de uma cirurgia na cabeça. Luto entre os hermanos, que lotaram o entorno da Casa Rosada para se despedir do craque. No cemitério Jardín de Bella Vista, nos arredores de Buenos Aires, a lápide do ídolo argentino conta com duas frases: “obrigado à bola” e “sentimos sua falta”.

Um ano de perdas e saudade

Mais de 1,7 milhão de pessoas perderam a luta contra a Covid-19 no mundo. A doença que causou dor em muitas famílias também nos levou grandes talentos. Foram vítimas do coronavírus o artista plástico Daniel Azulay, as atrizes Christina Rodrigues, Daisy Lúcidi e Nicette Bruno, os atores David Prowse, Eduardo Galvão, Gésio Amadeu, Jay Benedict e Nick Cordero, os rappers Ty e MC Dumel, o jornalista Rodrigo Rodrigues, a jornalista Zildetti Montiel, o compositor Aldir Blanc, o escritor Sérgio Sant'Anna, a cantora Dulce Nunes, os cantores Chris Trousdale, Ciro Pessoa, Eduardo Borges, Matheus, Paulinho – do Roupa Nova e Ubirany – do Fundo de Quintal.

26 de novembro de 2020
26 de novembro de 2020 | Foto: Marco Jacobsen

Sofremos ainda com a partida de outros ídolos de vários segmentos. Os técnicos de futebol Oswaldo Alvarez – o Vadão e Valdir Espinosa, os jornalistas Carlos Oliveira, Fernando Vanucci, Gilberto Dimenstein, José Paulo de Andrade, Luiz Maklouf Carvalho, Sérgio Noronha e Zuza Homem de Mello, o jogador de basquete Kobe Bryant, o jogador de futebol Diego Maradona, o cineasta José Mojica Marins – o Zé do Caixão, a cineasta Suzana Amaral, o astro da sinuca Rui Chapéu, as cantoras Adelaide Chiozzo, Jane di Castro e Vanusa, as atrizes Chica Xavier, Diana Rigg e Maria Alice Vergueiro, os cantores Moraes Moreira e Kenny Rogers, o escritor Rubem Fonseca, os atores Cecil Thiré, Flávio Migliaccio, Leonardo Villar e Sean Connery, as jornalistas Leila Richers e Xênia Bier, o intérprete do Louro José – Tom Veiga, a astróloga Zora Yonara, o guitarrista Eddie Van Halen, o estilista Kenzo Takada, o cartunista Quino, o produtor musical Arnaldo Saccomani, o diretor de teatro e TV Del Rangel, a primeira Miss Brasil Martha Rocha. Fica também o registro da morte de personagens polêmicos, como o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, o ex-juiz Nicolau dos Santos Neto e o ex-ministro Gustavo Bebianno.

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