Comprar um produto que parece ser sustentável e melhor para o meio ambiente tem sido uma escolha de muitos consumidores. Mas depois descobrir que a empresa e seu produto na realidade não são nada sustentáveis é uma frustração para o cliente. Esta é uma prática chamada de greenwashing, ou em português “lavagem verde” ou “pintando de verde”. Empresas, políticos e ONGs fazem discursos, ações e propagandas publicitárias como se fossem ecologicamente corretas, sustentáveis e preocupadas com o meio ambiente somente para venderem mais ou melhorarem sua imagem. Porém, como na prática nada disso é real pode ser caracterizada como propaganda enganosa.

Imagem ilustrativa da imagem Governo, consumidores e empresas se juntam para combater o 'Greenwashing'

“Em tempos de notícias falsas e mentirosas greenwashing é pior ainda, pois você usa uma informação verdadeira, só que não reflete a realidade, então você está desinformando a sociedade”, afirma Junior Garcia, doutor em Desenvolvimento Econômico, Espaço e Meio Ambiente pela Unicamp e coordenador do Grupo de Estudos em Macroeconomia Ecológica da Universidade Federal do Paraná.

Emerson Guzzi Zuan Esteves, doutor em economia pela Universidade Estadual de Maringá, alerta que empresas que praticam o greenwashing podem aumentar seus lucros a curto prazo, mas no futuro se o consumidor preocupado com o meio ambiente souber dessa atitude irá para de consumir, por isso a pratica não é recomendada por especialistas. Complementado por Garcia, que acredita que a transição para uma empresa sustentável é mais do que urgente. “Nós já estamos sofrendo com os eventos climáticos extremos, e além disso várias outras coisas que já estão ameaçando a permanência deste sistema econômico”, garante.

É possível ser uma empresa sustentável?

Para Esteves é possível para uma grande empresa que tem a possibilidade de diluir os custos da implementação de sustentabilidade em sua produção e distribuição se tornar verde. Contudo, o economista alerta que empresas que queiram fazer a mudança, mas não tenham mercado ou capital fica inviável, pois não teriam lucro e acabariam sendo absorvidas por grandes indústrias. Por isso é necessário ficar atentas no custo de implementação e na planta industrial da empresa, demandando planejamento para que não caia em greenwashing.

Junior Garcia alerta que: “a questão socioambiental não é um compromisso só das empresas, mas da sociedade também”. Uma vez que o consumidor também deve estar disposto a pagar a mais, pois ele não estará pagando somente pelo produto, mas também pelo processo produtivo. Além de também, cobrar das empresas produtos com processos ambientais concretos.

Ações governamentais também são relevantes na hora de tornar negócios sustentáveis. “As empresas, através da imposição de leis ambientais, vão regular sua produção.”, explica Esteves. Assim, são essas leis que vão fazer com que a empresa polua o mínimo possível dentro de uma condição econômica.

Neste momento Garcia também levanta a questão da desigualdade social. Quando as empresas não pagam suficiente para seus trabalhadores ou não há empregos suficientes para a população, consequentemente elas não conseguem pagar a mais em produtos ecofriendly ou até mesmo ter acesso a informações sobre a importância de mercados sustentáveis e o que é o greenwashing. Por isso, para Garcia se uma empresa quer começar a ser sustentável o primeiro passo é pagar de maneira justa seus empregados e lhes dar boas condições de trabalho.

Esteves afirma que a bioeconomia ou economia sustentável “é um mercado que tem um potencial de crescimento muito grande”, especialmente no Brasil devido sua alta biodiversidade. Em uma pesquisa feita pela OCDE (Organização para a Coorperação e Desenvolvimento Economico) a bioeconomia movimenta 2 trilhões de euros no mercado mundial e promove 22 milhões de postos de trabalho. Enquanto no Brasil a estimativa é que nos próximos 20 anos gere 53 bilhões de dólares anualmente e cerca de 217 mil novos empregos qualificados, de acordo com a ABBI (Associação Brasileira de Bioinovação). Para finalizar o economista garante que “é possível conciliar desenvolvimento e preservação ambiental”.

Como identificar greenwashing

De acordo com o Idec (Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor) existem alguns sinais que o consumidor pode ficar atento na hora de comprar, como não haver provas e a informação na embalagem ser vaga ou imprecisa. Também quando o produto alerta para trocas desnecessárias, por exemplo usar copos de plástico para não precisar gastar água lavando, quando na verdade vai estar somente gerando resíduo. Outro alerta é quando o produto traz um “benefício” que é irrelevante, como “Não contém CFC”, contudo, CFC não é permitido por Lei, ou seja, o produto está somente seguindo a norma, não sendo sustentável.

Mensagens enganosas nas embalagens também são consideradas greenwashing, um exemplo comum é quando a empresa afirma que tem descarte seletivo, mas não existe um controle sobre isso. Por último, certificações enganosas, quando a empresa coloca uma certificação “verde” feita por uma entidade não confiável e não oficial.

Procure sempre desconfiar dos certificados também, pois mesmo empresas certificadas com celos oficiais podem estar promovendo ações que não são boas para o meio ambiente. Como foi o caso da Vale, que estava com toda a certificação oficial em dia e mesmo assim dois acidentes graves aconteceram em suas barragens, o que levou a morte de várias pessoas e a destruição de biomas.

Formas de evitar greenwashing

As certificações mesmo que não tenham acesso a todas as informações e podem ocorrer erros, como o citado já, são uma forma de coibir o greenwashing. A B3, bolsa de valores brasileira, possui o ISE (Indicie de Sustentabilidade Empresarial), um indicador do comprometimento real das empresas com a sustentabilidade. Além de leis e fiscalizações governamentais, como o que o Ibama vem fazendo.

Para identificar a prática de greenwashing o Idec analisou cerca de 500 embalagens de produtos de limpeza, higiene e utilidade doméstica. A partir disso, “empresas brasileiras foram notificadas a prestar esclarecimentos sobre possíveis práticas enganosas e convidadas a adequar suas embalagens”, afirmou o Idec. Contudo, para Garcia todas essas iniciativas não são suficientes para acabar com o greenwashing.

*Supervisionado pela editora Patrícia Maria Alves

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