Fotos, documentos, livros, correspondências, ferramentas de trabalho, utensílios de cozinha, roupas, móveis são objetos que fazem parte da coleção de histórias das cidades. Em Londrina, o Museu Histórico Padre Carlos Weiss tem no acervo tridimensional, muitas dessas histórias da cidade catalogadas por gênero, por tipo de objeto e alguns por famílias.

Imagem ilustrativa da imagem A história das coisas
| Foto: Ricardo Chicarelli

O museu funcionou no porão do colégio Hugo Simas até 1986. E, era conhecido como Museu Étnico, Histórico e Geográfico do Paraná e tinha espaço para as histórias dos objetos, até o ano de 1978, quando se consolidou como Museu Histórico de Londrina. O Padre Carlos Weiss, garimpou em suas viagens pelo Estado e até pelo Brasil muitas dessas peças, e temos catalogadas até hoje suas histórias” conta Amauri Ramos da Silva, que trabalha há 33 anos no Museu.

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| Foto: Ricardo Chicarelli
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| Foto: Ricardo Chicarelli

Muitas das peças tem procedência em acervos pessoais e foram doadas pelos familiares ao museu quando viram a importância histórica dos objetos. Silva destaca entre os objetos uma coleção de bonecas japonesas da filha do pioneiro Yujo Watanabe, Nana Watanabe. Quando a família mudou para Londrina, Nana tinha apenas três anos e, segundo Silva, era comum as crianças construírem essas bonecas na época. “O sr Yujo, fazia a parte de madeira e a Nana toda a parte de tecidos e costura”, explica. Na coleção, há ainda bonecas feitas de pano que Silva cataloga como sendo as últimas criadas pela artesã. “Com o avançar da idade ela não conseguiu mais fazer as bonecas como antes. A família criou um objeto para ela costurar as bonecas como terapia, e ela o fez até o fim da vida”, conta.

No setor tridimensional ainda encontra-se as coleções das câmeras fotográficas alemãs da década de 1920, que pertenceram à Armínio Kaiser; os instrumentos do médico Jonas Faria de Castro; e as ferramentas de carpintaria de Yujo Watanabe e Hakushi Nishiyama, com as quais construíram muitas das casas de madeira e o primeiro templo budista de Londrina. “São 8600 peças, nem todas podem ficar expostas o tempo todo. De tempos em tempos, fazemos exposições itinerantes e colocamos para visitação do público. Há alguns anos fizemos a exposição “Casa de madeira” e fizemos uma vitrine para as ferramentas do sr. Nishiyama e ele veio com a família para a abertura, foi muito emocionante”, sorri Silva mostrando as fotografias do evento.

Imagem ilustrativa da imagem A história das coisas
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Na parte da imagem e som, há fotografias que ilustram toda a história de Londrina, desde a abertura da mata, passando pelo crescimento da cidade. “Temos fotos da construção da Avenida Dez de Dezembro, dos Cinco Conjuntos, dos primeiros prédios como Sahão e São Jorge. Também está no Museu os acervos dos fotos Estrela e Toyo, além do fotógrafo José Juliani”, explica Edméia Aparecida Ribeiro, diretora do museu. Em 2018, a FOLHA doou parte do acervo histórico fotográfico do jornal para esta coleção.

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E há também peças que chegam através de pessoas que não têm nenhuma relação com o dono original. “Já recebi cadernos escolares de interesse histórico, a pessoa achou no lixo, achou que seria importante para o Museu e nos entregou”, conta a bibliotecária Rosângela Ricieri Haddad. Ela é a responsável por receber, triar e catalogar todos os documentos e livros recebidos. Entre algumas das coleções mais importantes estão aquelas relativas à história da fundação de Londrina: documentos relativos à ferrovia, a primeira planta de Londrina e quase mil edições do primeiro jornal de Londrina - O Jornal Paraná Norte.

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Correspondências pessoais dos primeiros habitantes também podem contar muito sobre como a cidade recém-fundada se desenvolvia. A bibliotecária conta que nas cartas que George Craig Smith, chefe da primeira expedição oficial da Companhia de Terras do Norte do Paraná, escrevia aos pais há relatos sobre Londrina. “Temos revistas francesas do Ludovico Surjus (agrimensor), com várias imagens de obras de arte.'

COLEÇÕES CLIMATIZADAS

Todas as peças que chegam ao Museu Histórico de Londrina primeiramente são higienizadas, seguindo técnicas adequadas a cada tipo de material. Depois é feita a seleção e o encaminhamento para o setor correspondente, no qual é feita a catalogação, digitalização ou fotografia e indexação, só então a peça fica à disposição da comunidade.

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| Foto: Patrícia Maria Alves

O Museu preserva a história de Londrina. Antigamente abrangíamos o Norte do Paraná, mas hoje cada cidade cuida da sua. Quando recebemos algo analisamos se aquilo tem o perfil do Museu, se tem relação com Londrina”, explica a bibliotecária.

FERRAMENTAS DE CARPINTARIA CONSTRUÍRAM A JOVEM LONDRINA

O carpinteiro e pedreiro Hakushi Nishiyama, 88, nascido em Presidente Venceslau, no interior de São Paulo, veio para Assaí ainda muito jovem e aprendeu com o pai o ofício que exerceu até os 63 anos.

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| Foto: Ricardo Chicarelli

Eu trabalhei com o meu pai até dois anos depois de me casar. Depois fui trabalhar sozinho. Fiz muitas construções em Assaí, Uraí, Londrina, Sertaneja, Cornélio Procópio. As pessoas ficavam espantadas porque eu fazia os cálculos certos dos materiais, não sobrava nada no final da construção”, conta.

Orgulhoso do jovem que fora, Nishiyama relembra que ainda rapaz estudou apenas até o terceiro ano do antigo primário e tirava notas altas em matemática e fica satisfeito quando alguém lhe conta que as casas que ajudou a construir ainda estão em pé.

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| Foto: Ricardo Chicarelli

Trabalhando com a técnica de encaixe de madeira, pai e filho foram responsáveis pela construção tanto de residências como de vilas, armazéns, galpões e o que mais fosse necessário na cidade recém-fundada e também nas vizinhas. Foi na companhia do pai que Nishiyama construiu o primeiro Tempo Budista de Londrina, denominado Nambei Honganji, em 1954, na Vila Brasil.

Depois da aposentadoria Nishiyama começou a doar as ferramentas para amigos e outros pedreiros e carpinteiros, até que um amigo sugeriu a doação para o museu. “Muitas das ferramentas nós mesmos fabricamos, porque não existiam aqui no Brasil”, explica, justificando o valor histórico e cultural das peças.

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