Tradicionais, as formações musicais conhecidas como fanfarras ou bandas marciais ainda se conservam com distinção em Londrina e são motivo de satisfação para todos os alunos, pais, professores e também para os jovens instrumentistas que as integram. Basicamente, a diferença entre uma e outra é que a fanfarra usa apenas instrumentos de percussão, ao passo que as bandas marciais percussão e sopro.

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Há 12 anos, o servidor público Valdinei Alves, por iniciativa própria, criou a fanfarra da Escola Municipal Carlos Dietz, na região oeste de Londrina. Seu filho Henrique Augusto Justino Alves, 20 anos, já não ocupa os bancos escolares da unidade, mas "o pai da fanfarra" segue ensaiando os alunos e dedicando-se também à conservação dos instrumentos.

Valdinei Alves, "o pai da fanfarra" da Escola Municipal Carlos Dietz: mesmo não tendo mais filhos na escola, ele continua ensaiando os alunos
Valdinei Alves, "o pai da fanfarra" da Escola Municipal Carlos Dietz: mesmo não tendo mais filhos na escola, ele continua ensaiando os alunos | Foto: Divulgação

Ao todo, 22 alunos dos 4º e 5 º ano do Ensino Fundamental compõem a fanfarra do Carlos Dietz. Para o desfile desse ano, os ensaios foram iniciados em março e todos se mostram bastante entusiasmados. "Os instrumentos do primeiro ensaio foram cedidos pelo maestro do 5º Batalhão da Polícia Militar de Londrina e o bom disso tudo é que a cada ano são novos componentes, o que dá a oportunidade de todos terem essa experiência", pensa.

Do ponto de vista de Vânia Isabeli Talarico Freitas da Costa, diretora da unidade, esse é um projeto diferenciado e inclui voluntariado. "O Valdinei tem seu trabalho pessoal que ocupa o dia todo e, mesmo depois dessa rotina ele ensaia duas vezes por semana os alunos desta escola com muito carinho e dedicação, além de arrumar os instrumentos e prepará-los para o dia do desfile." A diretora considera que a prática vai além da musicalização. "Desenvolvem o exercício da cidadania podendo demonstrar seu amor e respeito por nossa pátria", pontua.

A diretora explica ainda que o desfile é um momento bastante aguardado e, neste ano, a escola teve 180 confirmações de alunos na participação no desfile. De acordo com ela, essa é a única da rede municipal que tem uma fanfarra formada por instrumentos de percussão e que foram adquiridos com os recursos da contribuição voluntária da escola.

Muito satisfeita com a integração da comunidade escolar, afirma: "Essa construção feita a muitas mãos é motivo de muita satisfação e valorização, pois tem um pouquinho de colaboração de cada membro da nossa comunidade escola", reflete. "Um privilégio poder ter em nossa escola uma associação de pais e mestres tão atuantes e graças a essa participação, podemos sentir seu reflexo na aprendizagem dos alunos e da comunidade escolar", acrescenta.

BANDA DO CHAMPAGNAT: PATRIMÔNIO DE LONDRINA

A banda marcial do Colégio Estadual do colégio Marcelino Champagnat está na ativa há 53 anos, desde 1969. Presente na memória afetiva do londrinense, sua trajetória se confunde com o início das atividades da escola, em 1967. Idealizada e concretizada pelos músicos Hiroki Oba e José Marczak, a banda ao longo desses anos tem participado dos concursos estaduais de bandas e fanfarras, assim como de concursos nacionais, sagrando-se por mais de 30 vezes como campeã estadual e quatro vezes nacional.

Banda do Colégio Marcelino Champagnat  em desfile nos anos 1980: ela é considerada um patrimônio imaterial de Londrina
Banda do Colégio Marcelino Champagnat em desfile nos anos 1980: ela é considerada um patrimônio imaterial de Londrina | Foto: Roberto Custódio

De acordo com o diretor da escola, Claudecir Almeida da Silva, os alunos que participam da banda marcial tem a oportunidade de estar com músicos consagrados para sua formação. "A exemplo de Vitor Gorni e Gilberto de Queiroz", cita. "Todos passaram ou tocaram na banda Marcelino Champagnat ", alegra-se diretor da escola. Os atuais regentes são Vitor Gorni e Gilberto de Queiroz. Com capacidade para 120 integrantes, a banda conta com 80 estudantes, sendo 45 aptos para apresentações. Além de desfiles em Londrina e outras cidades, a banda realiza concertos musicais.

Por 25 anos, quem esteve à frente dessa missão foi o músico e empresário Francisco Assis Venancio, que admite alegrar por ainda ver a banda passar. De 1986 a 2011, Venancio dedicou-se à banda e, apesar de todas dificuldades presentes no meio cultural, considera que ao longo dos anos, houve uma melhora. "Graças ao desenvolvimento dos projetos e à credibilidade que a banda alcançou. Nos dias de hoje e no passado, temos uma procura muito grande pelo material humano e hoje há muitas opções de entretenimento para os estudantes e devemos incentivar o hábito pela música", pensa.

A participação dos alunos na banda começa aos seis anos de idade e permanecem até a fase adulta. Os estudantes de escolas municipais , estaduais e os encaminhados por entidades de apoio a adolescentes possuem prioridade para ingressar na banda marcial Marcelino Champagnat, assim como há oportunidade para pessoas acima de 18 anos de idade, dentro do plano de formação pedagógica.

Silva esclarece que esse é uma papel importante. "Além de ser imprescindível conforme a base nacional comum curricular (BNCC), quando se fala em música, pensamos nas habilidades e competências que o aluno pode desenvolver principalmente na área de linguagem, e mais especificamente na área da disciplina de artes Temos a felicidade de manter a banda graças ao incentivo federal que vem das empresas P.B. Lopes Scania e da Cacique Café Solúvel e também do fomento municipal, por meio do PROMIC- Programa Municipal de Incentivo à Cultura. "Sem deixar de enaltecer o trabalho da Associação de Pais e Mestres", conclui.

PULSO E RITMO: ALIADOS DO DESENVOLVIMENTO


Ver a banda passar sem se emocionar é praticamente impossível. Completamente alinhada na vestimenta e na execução dos instrumentos, o coletivo destaca-se. O músico e professor de bateria Bruno Cotrim conhece muito bem os bastidores de apresentação, formação e ensaio de uma banda pois já atuou como professor de duas bandas marciais.

Bruno Cotrim, músico e professor de bateria, já ensaiou bandas marciais: "Aprendizado em grupo proporciona trocas e disciplina"
Bruno Cotrim, músico e professor de bateria, já ensaiou bandas marciais: "Aprendizado em grupo proporciona trocas e disciplina" | Foto: Rei Santos/Divulgação

Cotrim é baterista na Big Band de Arapongas, integrante do Acústico Blues Trio e também do violonista André Siqueira Trio. Com uma experiência profissional que passa de 20 anos, o músico recorda que desde os três anos de idade já estava nas rodas de samba na companhia de seus pais e tocava surdo.

Sua trajetória como professor de percussão teve início em 2018 e para ele dar aula para grupos é uma experiência muito rica. "Aula individual é diferente de aula para uma banda marcial", cita. "Dirigir a percussão de uma banda marcial permitiu que eu observasse, além do encantamento individual de cada aluno, o comprometimento", revela.

Segundo o professor, o aprendizado em grupo inclui troca, conversas e muito respeito. Os alunos se desenvolvem em diversos aspectos e entendem que cada um tem uma função, mas todos são importantes. "Essa noção é desenvolvida em grupo", ratifica. Em relação aos aspectos de desenvolvimento, Cotrim destaca a disciplina, a leitura, interpretação, concentração.

"Levar a música em si e a musicalização para crianças não está associado apenas a questões de técnica, mas ao desenvolvimento de uma faculdade, a uma área de conhecimento que capacita o indivíduo a se desenvolver, a ter capacidade crítica e a entender processos da vida por meio da arte", pensa.

O baterista e professor expõe que o desenvolvimento dos alunos é notável. "Entram de um jeito no projeto e saem de outro. Passam a ter projetos, construir e concluir projetos a médio a longo prazo e aprendem também a lidar com as frustrações, além de conseguir expandir os seus estudos e a se colocarem no tempo presente", afirma.

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