Combinação de vários sons e ritmos, a música tem seu lugar na educação. Desenvolvido com o objetivo de promover uma aproximação entre a obra do maior maestro brasileiro de todos os tempos e o público infantil, o “Projeto Villa-Lobos: As cantigas do menino Tuhu” segue encantando alunos e professores da rede pública de ensino de Londrina.

Com a direção artística do maestro Evgueni Ratchev, o trabalho é realizado desde o início de abril com atividades educacionais na Biblioteca Pública, no Teatro Ouro Verde e no Cine-Teatro Villa Rica. o “Projeto Villa-Lobos: As cantigas do menino Tuhu” integra o programa Fábrica Rede Popular de Cultura e conta com o patrocínio do Programa Municipal de Incentivo à Cultura.

Miguel Riony Dela Roza Dutra da SIlva,11 anos, com Irina Ratcheva: felicidade explícita pelo concerto
Miguel Riony Dela Roza Dutra da SIlva,11 anos, com Irina Ratcheva: felicidade explícita pelo concerto | Foto: Walkiria Vieira - Grupo Folha

Coordenadora do projeto, Irina Ratcheva explica que a música é um elemento importante na rotina diária para crianças. "O contato com ela ajuda crianças a assimilarem outras situações de aprendizagem, tais como habilidades sociais e estruturas de linguagem. As cantigas contribuem para que as crianças tenham acesso às músicas populares tradicionais, em sua essência", destaca.

Bastante motivada com o interesse de cada aluno, Ratcheva pontua ainda que os concertos apresentados para os alunos da rede pública tem como objetivo desmistificar o universo da música clássica para as crianças. "Ao mesmo tempo sensibilizar educadores e pais para a importância da educação musical". E já nos primeiros encontros Ratcheva e toda a equipe presente notaram a alegria das crianças diante das músicas, instrumentos e da atividade proposta.

SOCIABILIZAÇÃO

A coordenadora pedagógica da Escola Arthur Thomas, Giovania Ferrarezi Prestes considera que quando tem a oportunidade, a criança aprecia e se encanta por qualquer gênero musical. "A música clássica não é frequente no universo das nossas crianças, uma oportunidade como essa é valiosa para nós". Até o momento, 225 crianças do 4º e 5º do Ensino tiveram a oportunidade de assistir ao quinteto de cordas da UEL. O projeto se estenderá aos outros 360 alunos da escola", conta a coordenadora. "Somos gratos e estamos todos encantados com a oportunidade, que é única de nosso ponto de vista", reconhece a educadora.

Prestes observa também que a prática tem colaborado para a sociabilização dos alunos em razão do descolamento e a ocupação de espaços além da sala de aula. "Fazemos os percursos caminhando, pois os locais são próximos, mas isso exige cuidado, organização e segurança de nossa parte. Os alunos, por sua vez, comportam-se de acordo e esse é um exercício importante para eles e sabemos também que nem sempre as famílias possuem esse tempo de levar os filhos a um teatro, por exemplo. A postura, as regras de etiqueta deles e a educação devem ser destacados por nós", cita.

MÚSICA DEMOCRATIZADA

As composições de Heitor Villa-Lobos seguem em execução pelo Quinteto de Cordas da Orquestra de Câmara Solistas de Londrina. Integrante do grupo, Natanael Fonseca realiza as apresentações para as crianças com uma viola. Com mais de 30 anos dedicados à música, Fonseca também dá aulas e durante cada apresentação para turmas como essas percebe como o olhar das crianças é diferenciado e valoriza os momentos. "Nas aulas, principalmente, observo os alunos e uso a linguagem adequada para que compreendem o universo musical e despertem o interesse com naturalidade", conta.

Desde 2003, a Orquestra Solistas de Londrina realiza atividades formativas junto a estudantes e professores, um trabalho que já beneficiou cerca de 1.200 pessoas. Para este ano, serão realizados concertos presenciais e on-line, oficinas para educadores, aulas para iniciantes de instrumentos de cordas (violino, viola, violoncelo e contrabaixo), disponibilização de um Guia Didático (on-line), rodas de conversa, pesquisas e um momento para as crianças mostrarem o seu talento.

O projeto tem a produção geral da Maria Eduarda Gomes de Oliveira, e patrocínio do Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic) e conta com o apoio da Unimed Londrina, Espaço Villa Rica, Folha de Londrina, UEL FM e Bibliotecas Públicas Municipais de Londrina. Do ponto de vista da proponente, o projeto atinge o êxito. "Diferentemente das pessoas adultas, as crianças apresentam menos resistência à novidade. "São mais abertas, possuem curiosidade e assim começam a ter gosto pela música, principalmente diante de uma experiência como essa em que recebem atenção e assistem tão de perto uma apresentação para eles. E o meu sentimento é de que realmente conseguimos fazer a diferença", alegra-se Oliveira.

A coordenadora adianta também que o contato das crianças tem um efeito contagiante. "Damos aos alunos a oportunidade de "beliscar" as cordas e se sentirem dentro do grupo, como se fossem parte dele e isso é um dos diferenciais, pois funciona como uma acolhida". Com experiência, Irina Ratcheva entende que gestos simples assim são funcionais. "Ouvindo alguns sons se abrem para a musicalização e rompemos uma barreira com naturalidade", divide Ratcheva. “O trabalho tem vários eixos importantes: visa contextualizar o histórico da infância, reviver a importância das cantigas e brincadeiras de roda no processo de ensino e aprendizagem e no desenvolvimento da criança”, explica a coordenadora do projeto.

Cine Villa Rica foi um dos locais de apresentação da orquestra para as crianças
Cine Villa Rica foi um dos locais de apresentação da orquestra para as crianças | Foto: Walkiria Vieira - Grupo Folha

Cantata leva ensino musical a pessoas com deficiências

Outro projeto, em atividade há 21 anos, é a Cantata Centro de Educação Musical que se dedica a levar música a pessoas com deficiência. Responsável pela unidade, Katia da Silva Ribeiro Araujo explica que já dava aulas, mas a ideia surgiu 15 anos atrás. "O meu afilhado, José Mauricio da Silva Neto, o Netinho, tinha Síndrome de Down e passei a me interessar a levar música a essas pessoas", recorda.

Embora Netinho tenha falecido precocemente, a professora manteve sua vontade viva. "Nos poucos anos que me dediquei a ele, vi progresso e comecei a investir". Araujo revela que precisou conhecer a necessidade de cada aluno para ter resultado. "Eu estudei, fiz cursos para atender pessoas com autismo, Síndrome de Down e Síndrome de Rett. Então eu pedia para a família o laudo, pesquisava o perfil da pessoa para entender como fazer a música atingi-la, pois a música trabalha globalmente: o cognitivo, o afetivo e o psicomotor", destaca a professora.

Graduada em Música pela UEL e em Educação Física pela Unopar, Araujo soma seus conhecimentos para colocar em prática suas aulas. "De acordo com a dinâmica, coloca-se o aluno para dançar e graças à sensibilização que a música promove, cada indivíduo percebe o que está a sua volta". Especializada em Educação Infantil e Séries iniciais do Primeiro Grau, com Especialização em Educação Musical e Mestrado em Educação também pela UEL, a professora assiste, em seu dia a dia, o que a música faz na vida das pessoas: "Como uma criança com TDH, que não tem compreensão cognitiva, toca piano?", questiona. "Cada aluno terá sua forma, música é linguagem e pode ser aprendida", explica.

Empenhada, Araujo considera que o xilofone (percussão), o piano ou violão (corda), a flauta e o saxofone (sopro) podem ser apresentados a todas as pessoas. "Música tem começo, meio, fim e pode ajudar no desenvolvimento de outras áreas. Além de conhecimento, traz organização, regras sociais e noção de costumes. Embora nossa cultura traga um paradigma de dom, a música não é para poucos, pode ser aprendida", incentiva.

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