Na dramaturgia, nas artes plásticas ou na música, a presença feminina é uma realidade e uma inspiração. Para celebrar o Dia Internacional da Mulher, a FOLHA entrevistou três mulheres que elevam a cultura e inspiram pessoas de diferentes áreas graças à forte identidade de seus trabalhos.

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A atriz e produtora cultural Marina Stuchi desenvolve o seu trabalho com base em conceitos do feminismo, experiências pessoais, memórias e lembranças. Tais conceitos são incorporados por uma estética híbrida denominada Performopalestra, numa poética que faz do depoimento, do relato pessoal e da teatralidade seus principais recursos.

Marina Stuchi: atriz leva ao palco a situação de violência cometida contra as mulheres em performances muito significativas
Marina Stuchi: atriz leva ao palco a situação de violência cometida contra as mulheres em performances muito significativas | Foto: Bruna da Silva Alves/ Divulgação

Assunto espinhoso, Stuchi colocou o tema da violência contra as mulheres em seu trabalho. No palco, é evidente a sua habilidade ao abordar o tema com sensibilidade, mas sem embuste. Assim, o espetáculo “Me chame pelo meu nome" , apresenta características autobiográficas em forma de expressão onde lida com três aspectos: dados estatísticos a respeito da violência de gênero; conceitos, termos e noções relacionados ao tema da violência e cenas elaboradas esteticamente para a revelação de acontecimentos da vida da atriz.

Nessa toada, o espetáculo humaniza e dá voz ao tema e, por isso, "Me chame pelo meu nome", é uma crítica direta a meros números de estatísticas, uma vez que cada vítima de violência carrega traumas, dores e uma história que muitas vezes quer guardar para si. O espetáculo traz também, a importância de dar nome aos diversos tipos de violência de gênero, julgando que este feito gera uma melhor reflexão sobre o assunto e, a partir dela, busquem-se soluções efetivas para seu combate.

O seu propósito é que as mulheres aprendam a reconhecer, se proteger e entender o quanto a violência está enraizada dentro de cada uma. “Às vezes a gente nem sabe que está sofrendo violência, não sabe o que está acontecendo porque está tudo naturalizado e também é muito importante que os homens vejam e entendam o quanto reproduzem a violência, o discurso violento, o machismo, mesmo quando acreditam que não são machistas. Eles veem a peça e se reconhecem", observa.

Confira o espetáculo "Me Chame Pelo Meu Nome", de Marina Stuchi

CLEÓPATRA NA BATALHA DE RIMAS

A música não é o fim. A música é uma constante na trajetória de Cleópatra, nome de batismo recebido assim que passou a participar das batalhas de rima, do movimento hip hop de Londrina, no ano de 2018. De lá pra cá, Cleópatra fez a corte e segue respeitada. Ela sabe suas origens e também onde deseja chegar. A londrinense Ligia Maria Braga, a Cleópatra, é MC e integra o movimento hip hop de Londrina, estudante de Psicologia na UEL (Universidade Estadual de Londrina), considera que a música é uma forma de denúncia.

Ligia Maria Braga, a Cleopatra: o rap como expressão de liberdade e denúncia social
Ligia Maria Braga, a Cleopatra: o rap como expressão de liberdade e denúncia social | Foto: @llucams/ Divulgação

A artista integra projetos educativos e culturais e suas referências musicais emergem do rap nacional e do samba de raiz que, para a jovem, está totalmente ligado à sua infância e enriquece o seu repertório. Ela conta que sua família tem influência em toda a sua formação cultural. "Minha família canta, cresci ouvindo dentro de casa". Então, naturalmente, essa influência é algo que está na essência de Ligia.

Longe se sentir em ascensão ou como protagonista, reconhece que está sendo ouvida e isso faz bem a ela no que diz respeito á musicalidade. "Entendo que dentre tantas vozes, a minha voz é uma voz que está sendo ouvida pelas pessoas, em alguns ambientes, mas eu não considero que esse movimento esteja acelerado, entendo como fruto de muito trabalho, apoio, e de carinho de muitas pessoas que desde o começo me incentivaram", reflete. "Felizmente, consegui encontrar algumas dessas pessoas no meu caminho, então acho que toda essa ascensão, se for colocar nessas palavras, é fruto disso tudo acontecendo no tempo que tem que acontecer", pondera.

A cantora tem alguns trabalhos gravados individuais, a citar: "Um EP lançado no início de 2022 e o single "Guia", solo e independente, no qual apresento minhas referências, caminhos que eu permeei do samba de raiz ao rap", comenta. Com atitude, Cleópatra considera que o papel da mulher no rap é fundamental e parte da perspectiva que é um estilo de música que denuncia e fala sobre realidades e experiências muitas vezes atravessadas pela violência.

Suas letras abordam temas universais: "da nossa individualidade, da nossa subjetividade, sobre dores, sofrimentos, vivências e expectativas".

Cleópatra observa a sua volta, olha para o mundo, não por acaso, o curso de Psicologia não é algo isolado. "Ninguém é sozinho. Sozinho a gente não faz nada e estou sempre olhando em volta para ver o que está acontecendo: quem está morrendo, quem está sendo violentado. Por isso, as minhas letras conversam com minhas perspectivas pessoais e coletivas, com a cidade, com o cotidiano, mas também com muito afeto e amor, pois eu já fui agraciada com muito afeto, com muito carinho e procuro passar isso para os ouvintes", divide.

PRODUTORA RURAL E ARTISTA PLÁSTICA

A artista plástica e poetisa Elisabete Ghisleni considera que o seu processo criativo se assemelha ao psicanalítico. "Retrato pessoas com histórias, sou uma ouvinte e revivo as minhas memórias para capturar esses territórios , que são de fascinação". Ghisleni prepara o terreno com elementos da natureza vivos e cheios de poder. Os 25 anos de vivência em uma fazenda a nutrem e, com as ferramentas que desenvolveu, faz uma colheita fértil e capaz de surpreender suas retratadas. Como mulher e produtora rural ela já passou por situações em que , na venda do gado, os compradores quiseram baixar o preço por estarem negociando com uma mulher. "O masculino no campo ainda domina muito."

Elisabete Ghisleni, produtora rural e artista plástica: o feminino em telas cheias de vida
Elisabete Ghisleni, produtora rural e artista plástica: o feminino em telas cheias de vida | Foto: Thales Ghisleni Velloso/ Divulgação

Na arte, os caminhos se abrem. Atualmente, uma de suas obras, "Espelho Invertido" - aquarela, 57x70 - integra a exposição Internacional de Arte em homenagem aos 25 anos do Club Unesco Pirea e Ilhas, na Grécia.

Natural de Paranavaí, Ghisleni também é fotógrafa e explica que no período da pandemia da Covid-19, dedicou-se mais a pesquisar o processo da arte, sobretudo o traço e a cor. "Comecei a desenvolver uma perspectiva da figura feminina real, com expressão e dentro de um ambiente lúdico". As obras cercam as mulheres junto às coisas da natureza, com animais exóticos, animais que não existem, insetos de um mundo surreal e o resultado é uma explosão de cores, sentimentos e formas. "Uma mulher tem que acessar todos os seus ângulos para saber atuar no mundo, sem colocar suas obras em uma gaveta", pensa.

A artista que estudou Arquitetura e se formou em História, carrega em sua bagagem algumas influências. A arte mexicana, a art noveau, Matisse, Gustav Klimt , Amedeo Clemente Modigliani são algumas de suas referências. "O universo feminino é múltiplo e esses artistas eu sempre revisito."

Muitas mulheres procuram a artista para serem "lidas" e terem sua essência registrada por uma artista autodidata. "Quando desenho, lanço mão de arquétipos, da força de Jung, medito e não há tempo para elucubração, é foco extremo.

A artista explica que nada aparece de uma hora para outra, sua obra "é feita de silêncios profundos", conta.

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