Sonoridades da feira livre londrinense que acontece todas as manhãs de domingo na avenida São Paulo, no centro da cidade, ganharam um registro em formato 3D (tridimensional). Realizada pelo produtor musical Felipe De Mari Scalone, a gravação que dá ao ouvinte sensação de estar imerso no ambiente onde o som foi captado poder ser ouvida pela internet. Barulho de carrinhos, máquinas de café, conversas e brinquedos fazem parte da paisagem sonora disponibilizadas pelos perfis do Estúdio Junk Mahal no Instagram e Youtube.

“Para ter essa sensação de imersão sonora como se a pessoa estive no mesmo ambiente onde o som foi gravado é necessário que a audição seja feita por um fone de ouvido. Esse efeito acontece por conta da gravação feita com microfone binaural, que simula a mesma percepção captada pelos ouvidos humanos”, explica Scalone.

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Devido ao alto custo dos microfones binaurais profissionais, o produtor londrinense improvisou sua própria versão do equipamento. “O microfone binaural chega a custar 50 mil reais. Como algumas marcas são muito caras, resolvi criar um modelo adaptado. Comprei uma cabeça de manequim, furei dois buracos no lugar dos ouvidos onde introduzi um microfone de cada lado e depois os vedei com orelhas de silicone usadas em cursos de acupuntura. Com essa técnica, consegui registrar os sons da mesma maneira como nós os ouvimos” detalha.

Scalone conta que o passeio realizado por ele na feira há algumas semanas rendeu 20 minutos de gravação. “Consegui captar vários sons típicos do local, como o barulho produzido pelos carrinhos de feira passando pelo asfalto, das máquinas de café, de brinquedos para cachorros, e de músicas tocadas em aparelhos de rádio e também cantadas por um músico que toca violão no cruzamento com a rua Espírito Santo”.

SONS PARA MÚSICA DE BANDA

Além de disponibilizar parte do áudio pelo Instagram e Youtube, o produtor musical comenta que trechos da gravação serão utilizados em uma música da banda londrinense Hipertrópico. “A música se chama Um Dia de Céu Azul e fará parte do álbum do grupo que terá dez faixas e está sendo gravado no Estúdio Junk Mahal, do qual sou proprietário e que fica no mesmo local onde funcionava o estúdio do meu avô, Juliano De Mari, que era safoneiro do Clube do Choro”, salienta.

Todas as etapas de produção do microfone binaural foram registradas em vídeo que tem rendido diversos comentários desde que foi compartilhado por Scalone nas redes sociais. “As pessoas ficam curiosas ao ver o microfone, que por ser parecido com uma cabeça humana acaba chamando a atenção, como aconteceu quando fizemos a gravação na feira da avenida São Paulo. Desde que postei o vídeo mostrando como o microfone foi produzido, muita gente fez comentários pela internet elogiando a iniciativa”, ressalta.

Pesquisadores afirmam que a tecnologia binaural foi criada na França, em 1881, época em que um sistema conhecido como Théâtrophone transmitia o áudio de espetáculos de teatro e shows de ópera pelo telefone. Os assinantes tinham acesso ao serviço com a ajuda de um headset especial, que levava o som aos dois ouvidos.

O efeito 3D já foi usado na gravação de álbuns de bandas mundialmente famosas, como o grupo Lou Reed, que na década de 1970 gravou três discos com essa técnica: “Street Hassle”, “Live: Take No Prisoners” e “The Bells”. A banda Pink Floyd também chegou a usar o recurso no disco “The Final Cut”, de 1983.

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