Prestes a completar 20 anos de existência em 2023, o Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic) de Londrina - iniciativa pioneira no País - foi alvo de uma grande polêmica nas últimas semanas. De um lado, o vereador Santão (PSC) pedia por meio de três emendas legislativas que R$ 2 milhões destinados ao setor cultural fossem realocados para as secretarias de Saúde, Defesa Social e à Fundação de Esportes de Londrina (FEL). Levada ao plenário da Câmara de Vereadores, a proposta foi rejeitada após uma grande pressão de produtores culturais que estiveram presentes na sessão realizada no último dia 15. Durante a votação, o Conselho Municipal de Política Cultural (CMPC) apresentou requerimento ao legislativo pedindo a recomposição de verbas do programa que dispunha de 1,35% do orçamento total de Londrina em 2003 (ano em que foi criado) e que em 2022, teve dotação de 0,37%.

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Polêmicas à parte, o Promic continua sendo responsável pela realização de centenas de projetos culturais na cidade. Os recursos do programa viabilizam festivais e mostras de teatro, de música, de dança, de literatura, de cinema, de hip hop, de contação de histórias, de circo e de várias outras manifestações artísticas. De acordo com a Secretaria Municipal de Cultura, somente nos últimos dez anos, 983 projetos foram contemplados com investimento de quase R$ 30 milhões, gerando benefícios econômicos e sociais a milhares de pessoas. Um dos exemplos é o projeto Um Canto em Cada Canto, que já atendeu mais de 11 mil crianças de Londrina com aulas de canto coral.

“Sem o Promic a gente não teria iniciado nosso trabalho que começou há 20 anos”, ressalta Oleide Lelis, coordenadora do projeto. A iniciativa atende atualmente alunos de 17 escolas estaduais. “Em média, anualmente o projeto envolve cerca de 800 crianças de 9 a 12 anos. São estudantes de todas as regiões de Londrina que participam de aulas de musicalização através do canto coral. Através da música, trabalhamos a disciplina, a coordenação motora, o respeito, a concentração, a socialização e a autoestima dos participantes”, enfatiza Oleide.

Ao longo de todo o ano letivo, os participantes do projeto Um Canto em Cada Canto recebem aulas semanais gratuitas de canto coral e a cada final de semestre realizam apresentações públicas. “O repertório é formado por canções folclóricas brasileiras e de outros países para que os alunos tenham contato com outras culturas. No final de cada semestre acontecem apresentações nas escolas e teatros da cidade”, comenta a coordenadora do projeto ao detalhar como são usados os recursos financeiros do Promic.

“Recebemos 80 mil reais do Promic a cada ano. Esse valor permite que a gente atenda alunos de sete escolas da rede municipal de ensino. Usamos esse dinheiro para pagar os honorários de 14 professores de música que ministram aulas semanais e também os custos com ônibus que alugamos para transportar os estudantes. Atualmente contamos também com um convênio com a Secretaria Municipal de Educação para atender outras dez escolas municipais da cidade”, relata Oleide.

PLANTÃO SORRISO: ALEGRIA PARA AMENIZAR A DOR

Amenizar o sofrimento de crianças internadas em hospitais de Londrina através da arte da palhaçaria faz parte da rotina da equipe do Plantão Sorriso desde 1996. Semanalmente, palhaços e palhaças que integram o projeto realizam visitas semanais a leitos pediátricos da cidade. “Procuramos levar um pouco de alegria a quem está passando por momentos difíceis, tanto os pacientes, quanto seus familiares e até mesmo a equipe médica. Temos relatos de crianças que não estavam querendo comer e depois da visita voltaram a se alimentar. De pacientes que estavam com pressão alta e que por isso teriam que adiar uma cirurgia e voltar ao fim da fila do SUS e após se divertirem com as palhaçadas relaxaram e com a redução da tensão conseguiram fazer o procedimento médico, entre muitos outros relatos emocionantes que ouvimos no dia a dia”, comenta Aneliza Paiva - também conhecida como Palhaça Frida, que trabalha na coordenação artística do projeto.

Desde que foi criado, em 1996, o Plantão Sorriso  fez 600 mil visitas a crianças internadas em hospitais
Desde que foi criado, em 1996, o Plantão Sorriso fez 600 mil visitas a crianças internadas em hospitais | Foto: Fábio Alcover/ Divulgação

Ela comenta que o patrocínio do Promic é fundamental para a continuidade do trabalho do Plantão Sorriso, que atualmente, realiza visita em quatro hospitais de Londrina: Universitário, Evangélico, Hospital Infantil e Hospital do Câncer. “Neste ano recebemos uma verba de R$ 80 mil, que foram usados para o pagamento dos honorários da equipe formada por sete palhaços e dois profissionais que atuam na parte administrativa. Também utilizamos esse apoio financeiro para pagar despesas com transporte da equipe e compra de figurinos e objetos utilizados nas visitas”, relata ao comentar o número expressivo de pacientes atendidos pelo projeto. “Nesses 26 anos de atuação, contabilizamos um total de mais de 600 mil visitas realizadas”.

A RUA DANÇA A CIDADE PARA JOVENS E IDOSOS

Desde que se libertou do vício em drogas, o professor de dança Edio Elias Gonçalves tem usado seu talento para alertar por meio dos conceitos do hip hop sobre os prejuízos que o uso de entorpecentes pode causar. Contando com apoio do Promic desde 2004, o projeto A Rua Dança a Cidade atende em média cerca de 200 pessoas a cada seis meses. As aulas de dança contemporânea são ofertadas a crianças e idosos em dez locais da cidade, incluindo Centros de Convivência do Idosos de várias regiões e escolas municipais de bairros carentes.

“Temos alunos com idade que variam de 6 a 87 anos”, afirma o idealizador que destaca os benefícios proporcionados pelas aulas de dança. “Atendemos jovens que vivem em situação de risco. Além de trabalhar questões como a disciplina, a interação com o grupo e a própria evolução artística, a gente abre um canal de diálogo para falar sobre mudança de vida através de atitudes positivas. Já em relação aos idosos, de forma lúdica trabalhamos a parte cognitiva e a memorização. É impressionante como as atividades ajudam no processo de melhora corporal e também melhora a autoestima dos participantes. O resultado é mais vida e menos doenças para esse grupo", destaca Gonçalves ao comentar a importância do apoio financeiro prestado pelo Promic.

O projeto A Rua Dança a Cidade atende 200 pessoas a cada seis meses, entre jovens e idosos
O projeto A Rua Dança a Cidade atende 200 pessoas a cada seis meses, entre jovens e idosos | Foto: Divulgação

“A gente recebe R$ 20 mil do Promic por semestre. Esse valor é usado para pagar as horas/aula e os custos com transporte dos professores de dança, DJ e MC que participam do projeto e também para comprar camisetas para os participantes. Essa parceria com o Promic é fundamental para o projeto”, ressalta.

ESCOLA RURAL DE CINEMA: ROMPENDO FRONTEIRAS

Já em sua terceira edição, o projeto Escola Rural de Cinema tem ensinado a linguagem cinematográfica a alunos da zona rural de Londrina. “Nos últimos três anos atendemos cerca de 40 adolescentes de 13 a 18 anos. Os estudantes participam de oficinas semanais nas quais são ensinadas técnicas para a produção de roteiro, direção, fotografia, captação de som e filmagem. As atividades são desenvolvidas por renomados profissionais do audiovisual paranaense e ajudam no enriquecimento da visão de mundo dos participante. Em 2023, o projeto prevê a gravação do curta-metragem e a exibição dos filmes do projeto em sessões abertas nos distritos rurais da cidade”, destaca Angélica Cristina de Oliveira, idealizadora do projeto contemplado com recursos do Promic. “As atividades desenvolvidas com os recursos do Promic acabam envolvendo não apenas a comunidade escolar atendida pelo projeto, mas acaba impactando toda a comunidade que vive em seu entorno”, ressalta.

A Escola Rural de Cinema ensina a linguagem cinematográfica a jovens, de 13 a 18 anos, na zona rural do município
A Escola Rural de Cinema ensina a linguagem cinematográfica a jovens, de 13 a 18 anos, na zona rural do município | Foto: Divulgação

O PROGRAMA NOS ÚLTIMOS 10 ANOS

- 983 projetos desenvolvidos

- 82 edições de festivais e mostras culturais

- Cerca de R$ 30 milhões investidos

- Atuação: centro, outras regiões de Londrina, distritos rurais

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