Após a primeira temporada ouvindo histórias de moradores do bairro Nossa Senhora da Paz, mais conhecido por Favela da Bratac, em Londrina, o Coletivo Ciranda da Paz, através do Promic - Programa Municipal de Incentivo à Cultura, iniciou a gravação da segunda e terceira temporadas do podcast “Vozes da Comunidade”. Desta vez, o recente projeto vai dialogar não só com as histórias encontradas no cotidiano da Favela da Bratac, como também sobre as diversas histórias que circulam nos bairros periféricos em toda a cidade de Londrina.

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Composta por quatro entrevistas, a primeira temporada foi disponibilizada em abril de 2022, os personagens Rosa do Café, MC Teseu e MC VH e Marcelly Marquezinny estrearam as vozes vindas do bairro Nossa Senhora da Paz, contando suas histórias e refletindo sobre um espaço tão conhecido na cidade de Londrina, mas que sofre muito com os estereótipos que carregam, gerando falta de acesso e oportunidades aos moradores que, geralmente, também são alvos de muitos preconceitos.

Marcelly Yasmin de Moura, 26, uma das entrevistadas na primeira temporada, atualmente trabalha como cabeleireira a domicílio e mudou para a capital do estado. “Nasci e cresci na Bratac, mas atualmente estou morando em Curitiba e sinto muita falta da comunidade, lá eu me sinto em casa e acolhida”.

A sua participação ao podcast Ciranda da Paz ocorreu no terceiro episódio: “Essa oportunidade do podcast abre os olhos da sociedade ao ver que as comunidades têm sua voz, são compostas por seres humanos iguais a todos e que lá dentro da minoria tem histórias lindas de superação e de união”.

Dentro destas vivências comunitárias, nas quais integrantes do Coletivo são predominantemente moradores da Favela da Bratac, haverá a troca de experiências e vivências com as pessoas entrevistadas para os novos episódios do podcast, que serão conduzidas pelos produtores culturais do coletivo, que se revezam a cada episódio para guiar as conversas com os entrevistados, são eles: Leonardo Antunes Paloco, 24, Ana Beatriz Francisco de Melo, 23, Isabely Mariana Ramos da Silva, 22, Thais Fernanda Ferreira, 24, Bruna Jaqueline de Moura Lima, 30, Gabriela Detregiacchi Meneghelli, 25 e Vitor Leandro Gomes dos Santos, 22.

Isabely Mariana Ramos da Silva e Bruna Jaqueline de Moura, da equipe de produção dos podcasts
Isabely Mariana Ramos da Silva e Bruna Jaqueline de Moura, da equipe de produção dos podcasts | Foto: Divulgação

VOZES PARA MUDAR NOSSO OLHAR

A segunda temporada se divide em uma série de três entrevistas com moradores ou antigos moradores, há também os personagens que possuem alguma conexão com o bairro Nossa Senhora da Paz. Para a terceira temporada do programa serão cinco séries com três entrevistas em cada uma, totalizando 15 episódios ao final.

Integrante do Coletivo, Leonardo Antunes Paloco, 24, diz que está animado para as próximas temporadas e com a potência das entrevistas. “Acho que é um trabalho incrível, a primeira temporada já foi muito potente, podendo levar as histórias e as vivências periféricas dos moradores da Bratac para tanta gente e, agora, também temos a proposta de ter vozes de outras regiões periféricas, o que aumenta ainda mais a minha vontade em fazer com que este trabalho chegue em mais pessoas”.

“Poderia dizer que isso moldou toda minha visão de sociedade e contribuiu para a minha formação como psicólogo e no envolvimento com as lutas políticas por direitos da população negra, juventude periférica etc”, diz o psicólogo, Paulo Henrique dos Santos Silva, 30, atualmente morador da Zona Oeste de Londrina, no Jardim Jóquei Clube. “Me convidaram pra participar do podcast, porque nessas edições eles entrevistaram pessoas envolvidas com temas distintos de várias quebradas da cidade, no meu caso especificamente, movimentos sociais e partidos políticos,” conta.

O psicólogo enxerga o podcast como um ato de reparação, uma nova forma de acessar locais que possuem suas histórias narradas sempre pelas mesmas pessoas. “O podcast é brabo demais. Fundamental para expor as vozes que o sistema tenta silenciar, diante de um estado brasileiro que sempre com o caráter racista nega essa memória e justiça ao seu povo negro, o podcast vem mostrar quais caminhos podemos seguir para essa necessária reparação histórica para a quebrada. É uma verdadeira ferramenta de comunicação popular”, comenta.

Diversas histórias e em diferentes bairros periféricos da cidade de Londrina e região são reunidas pelo coletivo, graças ao interesse e disponibilidade desses personagens em ajudar a demonstrar a realidade desses espaços, através de suas vozes que diariamente agem na construção de um ambiente de muita luta, mas que carece de divulgação mais realista.

“A inspiração para o projeto foi pela nossa percepção de que, após a pandemia, os podcasts estavam se expandindo muito, então a gente quis que essas vozes vindas do bairro Nossa Senhora da Paz (Bratac) pudessem ecoar em diversos cantos de Londrina e do mundo, se possível, para dizer o que acontece lá dentro. Expondo para além do que a mídia sensacionalista mostra que é violência e mais violência, o que na verdade só mascara o racismo e preconceito de estereótipo contra as pessoas que moram em bairros periféricos”, explica Gabriela Detregiacchi Meneghelli, 25, integrante do coletivo, que está em busca de personagens para o podcast.

DIREITOS E RESISTÊNCIA

Foi para poder registrar as memórias daqueles que vivem nessas comunidades, criar a oportunidade de espaço ao trazer detalhes de questões atuais e históricas sobre a luta por direitos à moradia digna, alimentação, lazer e esporte que o Vozes da Comunidade nasceu para o Coletivo, evidenciando através das entrevistas direitos que são símbolo da resistência antirracista e lgbtfóbica, feminista e ambientalista.

Wenderson Felipe Ferreira da Silva, 22, mora na comunidade Nossa Senhora da Paz há 22 anos. “Uma característica particular sobre a vivência na periferia é união, lealdade e paz. A entrevista foi um momento único, há quanto tempo eu não falava e desabafava algo tão importante assim, é muito lindo terem criado um podcast para a comunidade ter voz porque não é só o entrevistado que tem voz no momento, a voz do entrevistado também é a voz da comunidade”, comenta Wanderson, mais conhecido por MC PEPI.

Diversas reflexões sobre a rotina de bairros periféricos da cidade de Londrina serão abordadas pelo Coletivo, explica Gabriela Meneghelli. “Queremos trazer essas vozes com base na música, da liderança comunitária, das pessoas lgbt que estão lá, mostrando que todos devem ser respeitados acima de qualquer coisa. A expectativa é que ecoe muito mais, porque agora não é somente pela Favela da Bratac, estamos em diversos bairros, vamos até lá e conversamos com as pessoas de dentro do bairro, a ideia é ecoar de dentro para fora, da periferia para o centro e do centro para a periferia”.

Para acompanhar as entrevistas basta acessar o canal do Youtube Ciranda da Paz, Vozes da Comunidade e também acompanhar nas redes sociais @cirandadaadapaz

Disponível no Instagram Ciranda da Paz e também no YouTube

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