Subitamente, o Jardim Botânico de Londrina foi 'ressuscitado' nos noticiários. O plácido reduto que durante muito tempo só figurou nas páginas oficiais como local de preservação de espécies e protetor de mananciais importantes como o Ribeirão Cafezal, recebe há anos apenas a visitação tranquila de pessoas que o ocupam para passeios.

Não chega a ser uma surpresa que o local de lazer bucólico tenha virado notícia ao ser ocupado por cerca de 30 mil foliões que brincaram o carnaval no estacionamento do parque, deixando para trás o lixo das grandes aglomerações. O que não também não é nenhuma surpresa em Londrina ou no Brasil.

Já pensaram como ficaram as ruas por onde passaram os blocos carnavalescos de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador ou Recife? Ah! Vão dizer alguns, "mas as ruas não são locais de preservação ambiental", o que está correto. Mas também não custa lembrar numa situação de emergência, num ano sujeito a chuvas fora do comum, que diversos órgãos públicos corroboraram com a ocupação do espaço para o carnaval da cidade por um único dia. E acredito que isso incluiu licitações e licenças - que foram cumpridas. Sob este ponto de vista, todos os órgãos que participaram da escolha - da Secretaria de Cultura ao Corpo de Bombeiros, da CMTU à Polícia Militar, da Prefeitura de Londrina ao governo do Estado, são responsáveis pelo consenso que deslocou o carnaval do Aterro do Igapó para o Jardim Botânico.

Então o que se faz? Responsabilizam-se só os órgaõs públicos e não a falta de zelo ambiental da população? Ou todos devem ser igualmente convocados a ter mais consciência? Há quanto tempo Londrina não tem uma campanha de preservação ambiental que inclua o Jardim Botânico, o Aterro, o próprio Lago Igapó - sujeito ao lixo, ao óleo dos barcos e jet skis que impactam as águas, bichos e plantas, além do alto volume das caixas de som de clubes ao redor que parecem não se contentar em ter música ambiente para os sócios - e olha que sou sócia de um deles - mas têm que espalhar a poluição sonora pelo bairro inteiro?

Tudo isso é importante ressaltar num momento em que o Jardim Botânico é 'ressuscitado' como se antes ele sequer existisse. E olhem que ali, num parque estadual, existem problemas que deveriam ter sidos resolvidos há muitos carnavais, como as estufas para reproduzir mudas que até hoje só reproduzem goteiras e descaso. Estruturas de vidro caríssimas, pagas com dinheiro público, que nunca foram concluídas para ter utilidade.

Voltando ao carnaval, Londrina padece hoje da falta de consciência cultural também. Se há shows na Concha Acústica, há reclamação, se o show é no Zerão, há reclamação, se for no Calçadão, há reclamação! Então para onde levaremos a "cidade dos festivais" - que eu mesma nomeei num título de matéria - se a música, a dança, o carnaval, o teatro, o circo incomodam tanto?

Minha impressão é que Londrina já foi melhor, a cidade que no passado entrou no mapa cultural do Brasil, hoje é uma cidade de ranzinzas que detestam festas populares e qualquer manifestação de alegria, como se os espaços públicos, praças e ruas fossem loteados segundo a vontade de quem mora ao redor, mas a cidade é de todos!

A lição que fica deste carnaval é uma falta profunda de consciência ambiental - de uma população que tropeça em caçambas e lixeiras, mas prefere jogar o lixo no chão - e falta de consciência cultural que reúna artistas, entidades e órgãos públicos para discutir ocupações e diretrizes, sem esperar o debate para depois do "apocalipse."

De minha parte, desejo ver os espaços verdes preservados e também preservada a cultura de uma cidade que não pode retroceder a uma convenção social de censura. Nos últimos anos, já chamaram a polícia para prender artistas, já tentaram impedir apresentações de hip hop, já proclamaram o próprio Calçadão como reduto de campanhas políticas, mas não de shows. Por isso, repito: falta consciência cultural e consciência ambiental. Ou retrocederemos no tempo da urbanidade.

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A opinião da colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.

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