Outono de 2022: estação chega mais leve e de cara limpa
PUBLICAÇÃO
sábado, 26 de março de 2022
Celia Musilli - Editora
O outono chegou este ano, excepcionalmente, com cara de outono no primeiro dia. Em 20 de março, porque a estação tem pequenas oscilações no calendário, o outono veio com o céu profundamente azul, até uma asa de borboleta,a alguns metros de altura, era perceptível naquele fundo.
As temperaturas amenas substituíram o calor de cozinhar miolos, com um vento mais fresco nos primeiros dias e a vontade da gente se enrolar na manta com um gato ronronando para agradecer o conforto.
Foram alguns dias assim, até o tempo fechar um pouco a cara e, ali por quinta-feira, a temperatura já havia aumentado, numa teimosia de verão.
Vão chegar dias frescos, aqueles de quase metade do calendário que duram até 21 de junho, e me sinto muito à vontade na estação que me lembra chás, caquis e mexericas.
O verão ainda é minha estação preferida, o que provoca reclamações aqui em casa. Mas a amenidade do outono é como a amenidade da vida, quando amadurecemos, embora ainda com arroubos de verão e tempestades de vez em quando.
O verão é a estação das redes na varanda, diria que ali sonhamos mais no embalo da fantasia pendurada em cordinhas que às vezes arrenbentam.
No outono precisamos de menos embalos e mais quietude, é tempo de refletir sobre um verão que foi sombrio, com anúncio de guerra e rescaldos da pandemia. Outono é mês de fazer um poema, observar que neste ano, antes mesmo de olhar o calendário, vi o outono nascendo na avenida Paraná quando uma folha seca entrou no meu decote, uma mensagem da nova estação. Essa folhas bailarinas sempre anunciam novidades, mas por enquanto, só veio o correio com alguns impostos e um zumbido de abelha no quarto que fez os gatos miarem como se vissem deus.
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Mais alguns dias e as manhãs serão frias, haverá preguiça na hora de deixar o cobertor, haverá o desejo secreto de que alguém me traga um café, antes que eu tenha que calçar chinelos e ferver a água. Antes, vou olhar mais um dia de outono pela janela. E que céu! Um pedaço de ágata como o bule da minha avó Ida, que perfilava chícaras para os doze filhos estação após estação, enquanto o papagaio dizia: "Louro quer café!" Um animal mal acostumado que se tornou quase um brinquedo amado em nossa infância de tios e primos.
O outono de 2022 promete ser uma estação de lembranças, com trens imaginários apitando de Cornélio Procópio, onde nasci, a Londrina, entre plantações perdidas no tempo de outras colheitas.
Ainda acredito que as estações mudem nosso estado de espírito. Ainda acredito que a raiva aquecida como a água do café cotidiano se arrefeça e que a guerra, aquela que nos põe diante da TV , pode acabar como se a brisa fria do outono, neste hemisfério, varresse a violência do mundo num efeito borboleta.
Ainda acredito que o vento também leva as tempestades e soterra crueldades na areia do deserto humano. Que a gente se salve na nova estação!
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A opinião da colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.
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