Sentadas no chão, mulheres ucranianas preparam coquetéis Molotov, inclusive despejando algo granulado dentro da garrafa, antes de encher com gasolina. O coquetel foi inventado na Segunda Guerra, pela guerrilha que resistiu à invasão soviética da Finlândia em dezembro de 1939, para antepor barreira a uma invasão alemã (isto antes de Hitler e Stalin assinarem o tratado de não agressão, que depois Hitler dispensaria invadindo a Rússia de surpresa.)

Stalin estimava que em três semanas dominaria a Finlândia, que entretanto resistiu três meses. Seu pequeno exército se escondeu no país nevado, com esquiadores atacou as linhas de abastecimento dos russos, transformou fazendeiros em atiradores de longa distância, e usaram com precisão táticas e armas de guerrilha como o coquetel Molotov, assim apelidado para zombar do então ministro das relações exteriores da Rússia. Uma fábrica de bebidas chegou a produzir molotovs em massa. E a Rússia conquistou a Finlândia, sim, mas só depois de ter 130 mil baixas contra 27 mil finlandesas.

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. | Foto: iStock

O molotov se tornou então símbolo de resistência heróica (embora possa ser usado também para tumultuar e dispersar marchas pacíficas), e logo seria usado pelos próprios russos em Stalingrado. É uma arma de ataque curto mas fatal até para tanques, quando se mistura ácido à gasolina. Ou cera, como fizeram os últimos judeus encurralados pelos nazistas no Gheto de Berlim. Eram 400 mil confinados numa pequena área, e foram sendo enviados para a morte nos campos de concentração. Só quando restavam poucos milhares, com poucos combatentes começaram a resistir. Valendo-se do terreno em ruínas e de coquetéis molotov, causaram aos nazistas 300 baixas que, além de enfurecer Hitler, mostrariam ao mundo que povo nenhum deve ser subestimado, como está mostrando a Ucrânia.

Mas o molotov, se é fácil de ser feito e de uso prático até para idosos, também acaba funcionando como autorização moral para a bárbarie do inimigo. Uma coisa é um soldado ter companheiros mortos, outra coisa é ter seus companheiros queimados. Por isso, o cidadão defensor de seu país passa a ser visto pelos invasores como praticante e merecedor de barbaridades. Aliás, na reportagem na tevê as mulheres não escondem os rostos, assim se expondo a retaliações numa futura Ucrânia novamente satélite russa, pois depois dos tanques vêm sempre os soldados e os policiais políticos, como foi Putin.

Os molotov podem queimar tanques, e o povo ucraniano pode resistir com suas poucas armas e seus combatentes heróicos, mas a ocupação da Ucrânia pela Rússia foi antecipada pela inércia militar da OTAN diante da preparação invasiva. Essa inércia entretanto atende à democracia, pois as pesquisas revelavam que grandes maiorias apoiam a Ucrânia mas, também, não querem que seus países entrem em guerra. Infelizmente porém, a julgar pelas razões e pretensões russas, mais uma vez a guerra será o caminho para a paz. Mas rezemos para que não usem armas nucleares nessa guerra começada com armas até artesanais, como o coquetel Molotov.

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A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.

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