SÃO PAULO, SP - Neste ano, as megaproduções "Barbie", de Greta Gerwig, "Oppenheimer", de Christopher Nolan, e "Super Mario Bros.: O Filme", de Aaron Horvath e Michael Jelenic, foram os responsáveis por alavancar as bilheterias dos cinemas aos níveis pré-pandêmicos.

Enquanto a Marvel não emplacou nenhum título como o esperado, outros filmes ganharam merecido destaque em 2023 - alguns depois de passar por festivais internacionais como Cannes, Berlim e Veneza, enquanto outros rodaram pelo circuito nacional.

A Folha de S.Paulo reuniu sete profissionais envolvidos com a cobertura de cinema para indicar, cada um deles, cinco dos melhores filmes lançados neste ano.

A seleção levou em conta filmes que foram exibidos também em festivais e mostras ao longo do ano no Brasil, alguns deles entrando em circuito no começo do próximo ano.

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Henrique Artuni - Editor-assistente da Ilustrada

Anatomia de uma Queda

Direção: Justine Triet (Estreia em 22 de fevereiro)

Muitas coisas caem nesse filme, desde uma bolinha e um corpo até a nossa crença no mundo visível. Além de todos os aspectos que já foram ditos sobre o enredo do filme, é mais uma prova da versatilidade de Justine Triet, novamente com uma obra de gênero que vai muito além da superfície --e dá um pouco de dignidade ao cinema francês contemporâneo.

Anatomia de uma Queda, dirigido por Justine Triet, esteve em cartaz em Londrina no Festival Varilux de Cinema Francês
Anatomia de uma Queda, dirigido por Justine Triet, esteve em cartaz em Londrina no Festival Varilux de Cinema Francês | Foto: Divulgação

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Batem à Porta

Direção: M. Night Shyamalan. (Disponível no Globoplay)

Antes de Justine Triet, Shyamalan é o cronista das quedas. Tudo que cai nos seus filmes ganha contornos sublimes, e, dessa vez, as dúvidas e truques tão característicos do seu cinema põem todo o mundo à prova com pouquíssimos atores e cenários. Um filme sobre apocalipses íntimos disfarçado de suspense.

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Bom dia à Linguagem

Direção: Paul Vecchiali

A cerimônia do adeus de Paul Vecchiali. Um filme simples, banhado na simplicidade da vida e da morte, pela história de um pai e seu filho, ecoando trechos de obras anteriores desse mestre menos lembrado. É a resposta ao pessimismo de Jean-Luc Godard, ao mesmo tempo em que reverencia sua memória.

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Na Água

Direção: Hong Sang-Soo

Hong Sang-Soo segue surpreendendo, agora com um filme-míope, propositalmente fora de foco. Se o cineasta coreano já tinha entendido o mistério das situações e diálogos que se repetem, agora tudo se dá no nível da imagem --cada vez mais parece um sucessor não só de Jean Renoir, o cineasta, como do pintor Pierre-Auguste.

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A Maravilhosa História de Henry Sugar

Direção: Wes Anderson (Disponível na Netflix)

Difícil não reconhecer a evolução de Wes Anderson a partir das obras que lançou em 2023. Além do belo "Asteroid City", grande filme sobre tudo e nada, esse "Henry Sugar", ao lado dos outros curtas lançados na Netflix, é uma celebração da palavra, da imaginação e do que faz a boa literatura infantil tão profunda.

Inácio Araujo - Crítico da Folha

Capitu e o Capítulo

Direção: Julio Bressane

Talvez o grande achado do filme tenha sido Júlio Bressane desdobrar Capitu em dois corpos, dois olhares, dois modos de estar no mundo. A ambiguidade de Dom Casmurro se materializou na imagem das duas Capitolinas e na trama de fragmentos que tecem o relato.

Capitu e o Capítulo, dirigido por Julio Bressane, levou a história de amor do livro Dom Casmurro para as telas
Capitu e o Capítulo, dirigido por Julio Bressane, levou a história de amor do livro Dom Casmurro para as telas | Foto: Divulgação

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Propriedade

Direção: Daniel Bandeira (Em cartaz nos cinemas)

O Nordeste da luta entre camponeses e senhores da terra já acabou nos anos 1960. Volta agora no filme de Daniel Bandeira, mas como retorno do reprimido. Não mais como luta de classes, mas terror: uma revolta dos mortos-vivos do sertão. Ou, se se preferir, como vingança dos cavalgados contra os Cavalcanti.

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Monster

Direção: Hirokazu Kore-eda

Um menino machucado, um professor agredido, uma mãe histérica, uma escola incapaz de responder às delicadas e intrincadas questões contemporâneas, envolvendo de bullying a irrupção da sexualidade, amizade e mal-entendidos. Questões que o filme de Kore-eda desenrola com maestria.

Confira o trailer de Monster:

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Mato Seco em Chamas

Direção: Joana Pimenta, Adirley Queirós (Disponível para compra e aluguel no Apple TV e Google Play)

Quem diz que em Brasília não existe petróleo? Existe e está no filme de Adirley Queirós e Joana Pimenta. Existe, porque a gangue de mulheres que se apropria dele o inventa e com ele incendeia a região: refratárias à ordem que as marginaliza, inventam, vivem e subvertem enquanto podem.

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Barbie

Direção: Greta Gerwig (Disponível no HBO Max)

Da boneca para o filme: quem é Barbie, a boneca, depois que tanto mudou a condição feminina no mundo? Greta Gerwig respondeu bem à questão e, sobretudo, encheu os cinemas. Quando as salas andavam vazias, todo mundo com medo de pegar Covid, "Barbie" mostrou que dava para ficar na fila e depois na sala cheia e sobreviver.

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Menção Honrosa

O Mestre da Fumaça

Direção: André Sigwalt e Augusto Soares.

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Leonardo Sanchez - Repórter

Assassinos da Lua das Flores

Direção: Martin Scorsese (Disponível em plataformas de vídeo sob demanda)

Um dos melhores trabalhos de Scorsese, que mostra controle total na direção, prova por que ele é o maior cineasta americano vivo.

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Confira o trailer de Assassinos da Lua das Flores

Monster

Direção: Hirokazu Kore-eda (Em cartaz nos cinemas)

Filmado com a delicadeza ímpar de Hirokazu Koreeda, surpreende e emociona com uma trama costurada cuidadosamente.

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Vampira Humanista Procura Suicida Voluntário

Direção: Ariane Louis-Seize

Uma daquelas gratas surpresas da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, abocanha o espectador com uma trama leve, despretensiosa e hilária.

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Segredos de um Escândalo

Direção: Todd Haynes (Estreia em 18 de janeiro)

Com sua afetação deliciosa, faz o espectador rir até perceber o tamanho da tragédia à sua frente.

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A Cozinha

Direção: Johnny Massaro (Disponível no Globoplay)

Ótima estreia na direção para um longa que combina a delicadeza e a brutalidade que o tema merece.

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Lúcia Monteiro - Crítica de cinema

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Nossos Corpos

Direção: Claire Simon

Realizado em um hospital de Paris que se dedica ao cuidado com as mulheres nas diferentes fases da vida, é um primor do documentário de observação - com uma revelação que surge no final e que Claire Simon aborda com delicadeza e precisão.

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Mato Seco em Chamas, com direção de Joana Pimenta, Adirley Queirós, disponível para compra e aluguel no streaming
Mato Seco em Chamas, com direção de Joana Pimenta, Adirley Queirós, disponível para compra e aluguel no streaming | Foto: Divulgação

Mato Seco em Chamas

Direção: Joana Pimenta, Adirley Queirós (Disponível para compra e aluguel no Apple TV e Google Play)

A mistura peculiar de documentário e ficção que caracteriza o trabalho do cineasta do Distrito Federal ganha contornos ainda mais espetaculares nesta trama sobre as mulheres que comandam uma refinaria clandestina de petróleo.

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Pedágio

Direção: Carolina Markowicz (Em cartaz nos cinemas)

A relação precisa entre os personagens e a paisagem industrial de Cubatão já coloca o filme entre as melhores realizações do ano. Para completar, tem atuações magistrais e consegue tratar com humor e firmeza os absurdos da "cura gay".

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Para'í

Direção: Vinicius Toro

Com simplicidade, a história de duas crianças que tentam plantar o milho colorido ancestral dos guarani serve de pretexto para abordar a luta pela terra e o avanço da religião na aldeia.

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Eami

Direção: Paz Encina (Disponível no Filmicca)

É uma história de luto e de luta, que a realizadora paraguaia filma junto aos ayoreo, aproximando-se do olhar e da memória dos indígenas do Chaco.

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