A roupa faz a pessoa, conforme o ditado português, e pensei nisso revendo foto de quando vesti o primeiro paletó e me senti um homenzinho. Mas lembro que, saindo do estúdio fotográfico, voltei pra casa correndo e pulando molecamente, roupa não veste coração.

Paletó faz lembrar o de Jânio Quadros, onde sua magreza folgava quando, depois de comer banana em palanque, alardeava que com sua vassoura ia varrer as sujeiras do Brasil.... Seu adversário na eleição era Adhemar de Barros, que tinha um barrigão e usava camisa enfiada nas calças.

Hoje, para esconder o barrigão e parecer jovem, Ciro Gomes usa camisa comprida fora das calças. Já Lula evita gravata, que põe no portador um carimbo de elite. Mas Moro continua de gravata, a indicar que não se vexa do juiz que foi.

Gravata lembra o colarinho duro do garganteiro Chamberlain, o primeiro-ministro inglês que acreditou nas boas intenções de Hitler mesmo depois de ele invadir vários países. Para parar o maníaco, foi preciso Churchill assumir o comando e, com seu chapéu, sua bengala e seu charuto, tornar-se símbolo da democracia.

Mas foi sem gravata e sem paletó que Ghandi derrotou o Império Britânico, indo às conferências de paz com os ingleses, em Londres, a pé e de sandálias, transformando cada caminhada num comício ambulante, onde nem precisava falar nada, seu manto e suas sandálias falavam tudo.

Aí não há como não lembrar de Nelson Mandela, a dançar nos comícios com camisa florida fora das calças, como a prenunciar um tempo de políticos que chegam ao poder, servem o povo e depois vão para casa sem procurar se reeleger, o que ainda é utopia.

Antes de Mandela, o primeiro-ministro Trudeau, pai do atual primeiro-ministro do Canadá, causou espanto ao usar tênis com paletó, a simbolizar um tipo de político menos servil aos velhos e carcomidos costumes.

Enquanto isso, a Rainha Elisabeth continuou com roupas cerimoniais tão coloridas mas quase sempre de uma só cor, como tótem da realeza britânica.

As vivas cores da rainha ressaltam que Putin, ora como presidente, ora como primeiro-ministro, está há décadas no poder, já conseguiu mudar as leis para poder ser reeleito até 2036... e só usa roupas escuras, tão adequadas para os ofícios da morte.

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Na Roma antiga, os candidatos ao Senado desfilavam pela cidade vestidos de branco, a cor cândida em Latim (e daí vem a palavra “candidato”), a mostrar que eram homens puros e sem manchas de caráter.

Agora o ucraniano Zelenski, presidente de um país em luta contra invasores, deixa a barba crescer, assim sinalizando que só voltará à normalidade depois de vencer a provação, e fala ao mundo pelo celular, como todo mundo, e de camiseta, como a dizer que é só mais um na luta, assim convocando o povo a lutar sem precisar de palavras.

E eis que, de repente, vem à lembrança o maior influenciador de todos os tempos, que nada escreveu mas teve suas palavras escritas por quatro biógrafos e, assim, teria o poder de mudar tantos corações, e entretanto, quando foi crucificado, estava quase despido.

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