O estilo do caos é o objetivo de 'Trem-Bala', a estreia da semana
Exagerado em tudo e filmado como um desenho animado, o filme tem Brad Pitt roubando a tela
PUBLICAÇÃO
quinta-feira, 04 de agosto de 2022
Exagerado em tudo e filmado como um desenho animado, o filme tem Brad Pitt roubando a tela
Carlos Eduardo Lourenço Jorge/ Especial para a FOLHA
“Pulp Fiction” tem muito a ver. Qualquer um que se lembre da legião de imitações de Tarantino que aquele filme gerou terá uma pontada de nostalgia entrando para ver “Bullet Train” – este filme em lançamento mundial que pretende ser um novo clássico cult. Não vai conseguir. Misturando acenos para filmes de Guy Ritchie, desenhos animados japoneses, “John Wick” e “Deadpool 2”, o diretor David Leitch (que fez John Wick e Deadpool 2...) oferece um retrocesso estridente dos anos 90 com um toque moderno bastante confuso.
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“Trem-Bala” não é tão divertido quanto quer ser. Assim como “Pulp Fiction”, “Bullet Train” é a história de uma maleta. Ao contrário de “Pulp Fiction”, esta história está atravessando o interior do Japão no trem mais rápido do mundo. Brad Pitt é Ladybug, o assassino quase aposentado contratado para roubar dois gângsteres britânicos, Tangerine (Aaron Taylor-Johnson) e Lemon (Brian Tyree Henry). Depois, há O Príncipe (Joey King), O Lobo (Bad Bunny) e O Filho (Logan Lerman) – todos os passageiros enredados na mesma trama sinuosa envolvendo estudantes britânicas, assassinos mexicanos e senhores da guerra russos.
Há também um cara japonês, aliás britânico (Andrew Koji), que não faz o suficiente para encobrir as primeiras e maiores críticas ao filme – que Hollywood pegou um famoso romance japonês, ambientou-o no Japão e o escalou quase inteiramente com não-atores japoneses. Quase tão estranho, metade do elenco “britânico” é na verdade americano, o que nos presenteia com o sotaque londrino hilariantemente específico de Tyree Henry - apenas uma das muitas coisas em “Bullet Train” que parecem ser tiradas diretamente de “Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes”, o divertido policial de Guy Ritchie de 1999.
Quando não está tentando ser Tarantino ou Ritchie, o diretor Leitch prova que ele é bom sendo ele mesmo – ampliando a ação que já aperfeiçoou em “John Wick” e “Deadpool 2” para entregar uma série de cenas de luta entre todas as brincadeiras irônicas. Ele mantém um tom leve e solto, às vezes em detrimento do filme, que termina apenas levemente engraçado e evoca outros que são muito melhores.
Exagerado desmesuradamente em tudo, e filmado como um desenho animado de matinês, o filme melhora quando parece que está sendo horrível. À medida que as reviravoltas acontecem (e ainda mais rostos famosos continuam aparecendo), o “Bullet Train” começa a perder velocidade e força. E tromba de frente com um final desleixado feito de imagens graficas de computador. Há um retrocesso que deixa as revelações óbvias, e então o filme fica fora dos trilhos muito tempo antes de parar de se mover.
Por outro lado, é quase impossível não curtir cada momento de Brad Pitt na tela. Roubando o filme com seja lá que elemento de cena deram a ele (uma garrafa de água, um chapéu como balde, um banheiro automático…), ele visivelmente está se divertindo muito. E com o tempo esticado que surrupiaram dele naquela aventura recente e ruim
com Sandra Bullock. É uma sorte para o público que pelo menos aqui e agora ele possa se espalhar à vontade.
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