“Pulp Fiction” tem muito a ver. Qualquer um que se lembre da legião de imitações de Tarantino que aquele filme gerou terá uma pontada de nostalgia entrando para ver “Bullet Train” – este filme em lançamento mundial que pretende ser um novo clássico cult. Não vai conseguir. Misturando acenos para filmes de Guy Ritchie, desenhos animados japoneses, “John Wick” e “Deadpool 2”, o diretor David Leitch (que fez John Wick e Deadpool 2...) oferece um retrocesso estridente dos anos 90 com um toque moderno bastante confuso.

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“Trem-Bala” não é tão divertido quanto quer ser. Assim como “Pulp Fiction”, “Bullet Train” é a história de uma maleta. Ao contrário de “Pulp Fiction”, esta história está atravessando o interior do Japão no trem mais rápido do mundo. Brad Pitt é Ladybug, o assassino quase aposentado contratado para roubar dois gângsteres britânicos, Tangerine (Aaron Taylor-Johnson) e Lemon (Brian Tyree Henry). Depois, há O Príncipe (Joey King), O Lobo (Bad Bunny) e O Filho (Logan Lerman) – todos os passageiros enredados na mesma trama sinuosa envolvendo estudantes britânicas, assassinos mexicanos e senhores da guerra russos.

Há também um cara japonês, aliás britânico (Andrew Koji), que não faz o suficiente para encobrir as primeiras e maiores críticas ao filme – que Hollywood pegou um famoso romance japonês, ambientou-o no Japão e o escalou quase inteiramente com não-atores japoneses. Quase tão estranho, metade do elenco “britânico” é na verdade americano, o que nos presenteia com o sotaque londrino hilariantemente específico de Tyree Henry - apenas uma das muitas coisas em “Bullet Train” que parecem ser tiradas diretamente de “Jogos, Trapaças e Dois Canos Fumegantes”, o divertido policial de Guy Ritchie de 1999.

'Trem Bala', dirigido por David Leitch, pretende ser um novo clássico cult
'Trem Bala', dirigido por David Leitch, pretende ser um novo clássico cult | Foto: Divulgação

Quando não está tentando ser Tarantino ou Ritchie, o diretor Leitch prova que ele é bom sendo ele mesmo – ampliando a ação que já aperfeiçoou em “John Wick” e “Deadpool 2” para entregar uma série de cenas de luta entre todas as brincadeiras irônicas. Ele mantém um tom leve e solto, às vezes em detrimento do filme, que termina apenas levemente engraçado e evoca outros que são muito melhores.

Exagerado desmesuradamente em tudo, e filmado como um desenho animado de matinês, o filme melhora quando parece que está sendo horrível. À medida que as reviravoltas acontecem (e ainda mais rostos famosos continuam aparecendo), o “Bullet Train” começa a perder velocidade e força. E tromba de frente com um final desleixado feito de imagens graficas de computador. Há um retrocesso que deixa as revelações óbvias, e então o filme fica fora dos trilhos muito tempo antes de parar de se mover.

Por outro lado, é quase impossível não curtir cada momento de Brad Pitt na tela. Roubando o filme com seja lá que elemento de cena deram a ele (uma garrafa de água, um chapéu como balde, um banheiro automático…), ele visivelmente está se divertindo muito. E com o tempo esticado que surrupiaram dele naquela aventura recente e ruim

com Sandra Bullock. É uma sorte para o público que pelo menos aqui e agora ele possa se espalhar à vontade.

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