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CARNAVAL DO RIO DE JANEIRO 5m de leitura

Na Sapucaí, Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz e centenário da Portela

Homenagens aos dois dos principais sambistas da atualidade e 100 anos da maior vencedora do Carnaval são destaques dos desfiles do RJ

ATUALIZAÇÃO
17 de fevereiro de 2023

Diego Prazeres
AUTOR

Imagem ilustrativa da imagem Na Sapucaí, Zeca Pagodinho, Arlindo Cruz e centenário da Portela

O centenário da maior vencedora do carnaval do Rio de Janeiro e homenagens a dois dos maiores sambistas da era moderna são os destaques dos desfiles que as escolas de samba fluminenses vão levar à Marquês de Sapucaí neste ano. Nada mal, já que é a primeira vez desde a pandemia da Covid-19 que a folia retorna ao Sambódromo nos dias de Carnaval, que neste ano caem neste domingo (19) e na segunda-feira (20). Em 2021, pela primeira vez na história o "Maior Espetáculo da Terra" não rolou - por causa do vírus -, e no ano passado os desfiles foram realizados no mês de abril.

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Vinte e duas vezes campeã - a última em 2017, quando dividiu o título com a Mocidade Independente de Padre Miguel -, a Portela quer mostrar por que o azul que vem do infinito é mais bonito em Madureira. Ao contar seu centenário, que será celebrado em 11 de abril, a Águia promete voar alto e emocionar além de seus torcedores. O enredo parte da trajetória de quatro baluartes - Paulo da Portela (1901-1949), um de seus fundadores; a lendária porta-bandeira Dodô (1920-2015); o compositor David Corrêa e o eterno presidente Monarco (falecido ano passado) - para enaltecer o passado e projetar o futuro da agremiação, que também fica em Oswaldo Cruz, bairro colado a Madureira. 

"São vozes de alguns dos nossos principais baluartes que vão contar para as novas gerações esses 100 anos de história e os que ainda virão", afirma Mauro Sérgio Farias, do departamento cultural da Azul e Branca, em entrevista ao RJTV. Portelenses famosos, como Paulinho da Viola, Marisa Monte e Zeca Pagodinho, certamente darão o ar da graça no desfile. 

E por falar no Zeca, o sambista que reinventou o pagode do subúrbio carioca - ou no mínimo o popularizou a partir dos anos 80 - será o tema da atual campeã, a Acadêmicos do Grande Rio. A tricolor de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, usou como inspiração o samba "Zeca, cadê você?", composto por ele em parceria com Jorge Aragão, para "procurá-lo" em lugares que fizeram parte de sua história, como o bairro de Irajá, onde iniciou a carreira, a lendária quadra do Cacique de Ramos, berço do grupo Fundo de Quintal, até chegar a Xerém, o distrito de Duque de Caxias (RJ) onde Zeca fincou raízes e não cansa de cantar.

 

"A Beth Carvalho falou num show que o Zeca é um grande poeta da vida, e isso acaba inspirando a gente na criação do enredo. É um andarilho pela cidade e é isso que ele gosta de cantar e de compor. Então, quando a gente pensa no enredo, pensa nisso: a Grande Rio como esse personagem que vai procurar o Zeca, e aí começa na Alvorada da Madrugada até o Quintal de Xerém", explica o carnavalesco da escola, Gabriel Haddad. 

Outro sambista de primeira que terá a vida e obra contadas na avenida é Arlindo Cruz, um dos principais parceiros do próprio Zeca Pagodinho. A homenagem vem de sua escola do coração, Império Serrano, que está de volta ao Grupo Especial. É um reconhecimento necessário ao artista autor (e coautor) de clássicos absolutos como "O show tem que continuar" e "Meu lugar", além de diversos sambas de enredo da agremiação Verde e Branca de Madureira. Uma pena que Arlindo não poderá curtir a festa como gostaria - e merecia. Desde que sofreu um AVC, em março de 2017, ele perdeu os sentidos cognitivos e usa cadeira de rodas. A família promete levá-lo ao desfile. Tomara. 

MANGUEIRA CELEBRA AS ÁFRICAS

"A escola de samba mais querida do planeta", como seus integrantes gostam de dizer, a Estação Primeira de Mangueira vai falar sobre as Áfricas que a Bahia canta. Uma exaltação aos blocos musicais afro que ganharam o mundo, como o Ilê-Ayê, e à cultura afro tão presente especialmente em Salvador, a cidade mais preta do Brasil. Será o primeiro desfile da Verde e Rosa sem a assinatura do carnavalesco Leandro Vieira, campeão em 2016 e 2019 com a escola de Cartola e que neste ano defende a Imperatriz Leopoldinense. "A gente mostra essas Áfricas que a Bahia recebe e fala de uma África pouco abordada no Carnaval. Falamos de diferentes nações que vieram para o Brasil e ficaram em Salvador e fizeram toda essa festa que é um grito de liberdade em forma de arte", afirma a carnavalesca Annik Salmon, que estreia na função junto com Guilherme Estevão. Segunda maior vencedora do carnaval fluminense, com 19 campeonatos, a Mangueira espera se redimir da edição do ano passado, quando não chegou nem ao desfile das campeãs. 

Por falar em tradição, a Beija-Flor de Nilópolis leva para a Sapucaí o grito dos excluídos. A Azul e Branca da Baixada Fluminense usa como mote a data de 2 de julho de 1823, que marcou a independência da Bahia, para refletir sobre os 200 anos da libertação de quem sempre esteve à margem da sociedade. A escola de Neguinho da Beija-Flor é a maior vencedora da era Sambódromo, iniciada em 1984, quando o espaço projetado por Oscar Niemayer foi inaugurado como a Passarela do Samba. São nove títulos na avenida. 

"Nem melhor nem pior, apenas uma escola diferente", a Acadêmicos do Salgueiro aposta num enredo que defende a liberdade de expressão para buscar um título que já não conquista desde 2009. A inspiração não podia ser melhor: Joãozinho Trinta (1933-2011), carnavalesco que além de ser bicampeão pela própria Vermelha e Branca do Andaraí (1974/75) promoveu desfiles antológicos, como o de 1989 pela Beija-Flor, quando levou à avenida mendigos esfarrapados e um Cristo Redentor coberto por um saco plástico preto após a Arquidiocese do Rio de Janeiro proibir o uso original da escultura.  

As demais escolas do Grupo Especial são Unidos do Viradouro, campeã em 2020 e vice no ano passado, Unidos de Vila Isabel, Unidos da Tijuca, Mocidade Independente de Padre Miguel, Paraíso do Tuiuti, e Imperatriz Leopoldinense. Lembrando que cada desfile tem 70 minutos de duração e são divididos em dois dias (seis escolas se apresentam no domingo e as outras seis, na segunda, em ordem definida por sorteio pela Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro). A campeã e as demais cinco melhores colocadas na apuração da Quarta-Feira de Cinzas (22) voltam a desfilar no Sábado das Campeãs (24). A última colocada será rebaixada. 

 

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