Murilo Benício vive cenas de ação no Calçadão de Londrina
"Assalto à Brasileira", que estreia este ano, leva o ator a uma história de 1987 na pele do repórter Paulo Ubiratan, um quase herói
PUBLICAÇÃO
segunda-feira, 27 de janeiro de 2025
"Assalto à Brasileira", que estreia este ano, leva o ator a uma história de 1987 na pele do repórter Paulo Ubiratan, um quase herói
Walkiria Vieira

Em dezembro de 2024, durante seis dias, uma parte do Calçadão de Londrina voltou ao ano de 1987, quando o local tornou-se cenário daquele que foi considerado o maior assalto da história no País com repercussão internacional.
As gravações de 'Assalto à Brasileira', longa-metragem dirigido por José Eduardo Belmonte, inspirado na obra homônima do premiado escritor Domingos Pellegrini, são o motivo de Londrina voltar no tempo e fazer os olhos e a memória de tantas pessoas se voltarem para o prédio onde funcionou a agência do banco Banestado, na avenida Paraná.
No último dia de gravações no Calçadão, havia mais de 300 pessoas em ação para compor as cenas em que os reféns são conduzidos pelos bandidos para dentro de um ônibus. Elenco, figurantes, diretores e técnicos concentrados e comprometidos com a produção cinematográfica.
Nada passa despercebido em uma captação de imagens de uma produção de alto nível. Equipamentos de última geração, olhos e ouvidos atentos, um feeling para perceber que é hora de recompor a personagem com maquiagem ou ainda fazer brotar suor, lágrimas ou sangue.
Um trabalho minucioso, sendo que uma cena de segundos assistida na telona, demanda a habilidade de dezenas de pessoas quando se trata de uma longa-metragem, neste caso no sexto dia de filmagens de ' Assalto à Brasileira', realizadas em Londrina. O clima instável exigiu jogo de cintura de todos e, nas breves pausas da chuva, cada segundo era aproveitado de modo distinto.
Na oportunidade, o elenco contou um pouco da experiência nesta obra tão aguardada e que tem previsão de estreia para o segundo semestre de 2025.
Com roteiro de L. G. Bayão, o filme é uma produção da Galeria Distribuidora, Santa Rita Filmes e Grupo Telefimls, que conta com o apoio da FOLHA que cedeu os arquivos da cobertura do assalto para a pesquisa. A história já serviu também de inspiração ao documentário "Isto (não) é um Assalto", do cineasta londrinense Rodrigo Grota.
Como um dos protagonistas do filme, Murilo Benício disse à FOLHA que o livro de Domingos Pellegrini é uma grande escolha para tomar como referência. "Quando a gente começou a fazer o filme, pensei muito na história das pessoas porque na realidade não estamos contando a história do Paulo Ubiratan (repórter da Folha de Londrina que ele interpreta), mas a história dos ladrões e o grande protagonista é o assalto."
Diante do público que não saia do Calçadão e de toda repercussão das gravações, ele entende que por ter sido há menos de 40 anos, a história está presente para grande parte da população. "Muitas pessoas que a viveram estão aqui".
Para a composição de seu personagem, revela: "Pensei muito e, ao invés de compor, fui pelo outro lado e preferi descompor e ser o mais humano que eu pudesse ser, principalmente em respeito as pessoas que viveram a história real e pelo fato dessas pessoas estarem aqui, eu achei que o melhor caminho era esse da sinceridade, uma coisa mais humana. O Paulo tem essa coisa, que é quase de um herói brasileiro. Existe a coisa heróica e ao mesmo tempo existe um risco, meio inconsequente, mas é assim, porque a realidade é diferente do filme. A realidade é mais doida ainda: ele estava do lado direito, na rua, e quis entrar na agência e participar daquilo. Então, o Paulo é uma figura muito interessante, dessas figuras que parecem ter uma visão do que vai acontecer, um líder", pensa. "Ele tem a visão do desfecho e consegue ir guiando a movimentação para que exista esse final de que temos conhecimento. Por sorte, ninguém morreu e só uma pessoa ficou ferida", pontua.

LIDERANÇA
Sobre a comunicação com os bandidos, os reféns, todos aflitos do lado de fora e o respeito que conquistou, ele acredita que a cada entrada e saída do banco, começou a se desenvolver entre o Paulo e os bandidos essa noção de liderança. "Os bandidos entenderam que ele era uma liderança e poderiam usar o Paulo até como escudo, por isso que ele vai na frente e acredito que na sua cabeça tudo foi feito em busca de uma solução rápida e pacífica. Isso é ingênuo, porque ele descobre no final que eles não vão deixar os caras irem embora com trinta milhões sem acontecer nada. Então penso que tem um pouco essa vontade meio ingênua de que tudo vai dar certo, eles vão pegar o dinheiro, eles vão embora e acabou. Mas não é isso, porque quando eles saem, quando ele sai do ônibus, começa um outro drama", explica.
Benício afirma que desde o início gostou do personagem. "Sim, eu trouxe pra mim a sinceridade de ser humano, quis trazer ele bem próximo". O ator considera também que história de assalto a banco rende. "É sempre interessante, sempre tem uma coisa engraçada, uma coisa que não dá certo e esse olhar fascina a gente. A ideia do Moreno, as dificuldades pessoais, o período de superinflação, o descontentamento com o governo e todo aquele momento da década de 80 culminam no assalto, que não é um ato revolucionário, mas um ato de revolta. Revolta do Moreno e seus amigos, acredito que tem um momento em que o Paulo entende tudo isso".

CHRISTIAN MALHEIROS, O MORENO
"Tivemos um contato com a história real e desde a primeira conversa com o diretor isso já impressionava e estou vivendo essa oportunidade como algo muito especial porque eu participei do teste e vivi uma expectativa". Pausa.
No saguão reservado ao elenco, Christian Malheiros é reconhecido, cumprimentado e elogiado. "Viver toda essa vibração do público é muito rico desde o momento em que fui aprovado. Mandei o teste e demorou, achei que não tinha passado mas aí, para a minha surpresa, um bom tempo depois chegou a resposta e descobri que foi com todo mundo assim, então teve essa ansiedade até o resultado", divide"
O ator conta que começou a fazer um processo de trabalho da primeira leitura com todo o elenco e isso foi bastante diferenciado até para dar coesão ao grupo. "Depois fizemos um trabalho mais específico com o Belmonte que nos apoiou desde o início do processo e isso é muito raro no cinema", valoriza. "Já fiz alguns bons filmes e essa é a primeira vez que o diretor está presente desde o primeiro momento ali com todos os atores, fazendo esse trabalho de preparação". Muito satisfeito com a personagem, resume Moreno: "Ele tem uma complexidade muito legal".
FERNANDA DE FREITAS, A ESPOSA DE UBIRATAN
Atuar em um filme inspirado em um situação real é um prazer para atriz Fernanda de Freitas. Durante sua estadia em Londrina, ela interagiu com os fãs e conquistou mais admiradores. "É uma grande prazer para mim e esta é a segunda vez que estou contando uma história que já existiu: a primeira foi num filme sobre a Zuzu Angel, eu fazia a Ana Cristina, uma de suas filhas na história sobre a ditadura, sobre o filho que ela perdeu pra ditadura. Mas eu não conheci a Ana. Já nas filmagens do 'Assalto' eu preferi conhecer mais da Tânia, a esposa do Paulo à época, e senti que cada personagem deste filme é único. Fizemos um trabalho muito importante de estudar o filme em conjunto e coloquei na personagem a energia da Tânia, comecei a pensar na embocadura dela pra falar, na sua voz, e tentei me encaixar, claro, com as minhas características, mas tentei me encaixar no que de fato a Tânia verdadeira era e estou amando fazer meu primeiro trabalho com o Murilo que é um um ator que eu sempre admirei e apesar de termos feito a novela 'Pé na Jaca juntos, éramos de núcleos opostos".
O casal da história real é para a atriz um ponto que dá bastante sentido ao filme. "O fato de ela estar grávida traz esse lado tão forte e também delicado da maternidade".

PAULO MIKLOS, O COMANDANTE FONSECA
O ator Paulo Miklos observa que o assalto realmente marcou a cidade. "Noto que as pessoas estão muito felizes por lembrar dos acontecimentos e também pela possibilidade de trabalhar no filme e tem sido muito intenso e apesar da chuva, do cancelamento das filmagens, estamos todos aqui e lutando", fala com bom humor diante de todo o elenco e os mais de 300 figurantes qua aguardavam o tempo melhorar no dia das gravações do assalto.
Ao menor sinal de trégua, ação: " Essa é a saída reféns", narra nas filmagens.
"A cidade abraçou o filme e por onde passo é uma energia especial. Há figurantes que estiveram dentro da agência no dia do assalto e agora veem isso transformado em arte", comenta.
"Participar da feitura do filme deixou todo mundo animado, há muito respeito por essa produção e essa postura positiva torna tudo divertido e estou me divertindo muito", sorri.
Como comandante da operação, Miklos conta que na ficção há uma tensão a mais. "Estou à frente das negociações e o jornalista Paulo Ubiratan atua como porta-voz dos assaltantes e algo mal resolvido entre eles traz um tempero para a história", adianta.

