Semana passada a Austrália se tornou o primeiro país no mundo a aprovar uma lei que proíbe menores de 16 anos a terem contas em redes socias. Em nosso país, em outubro, avançou no Congresso Nacional o projeto de lei que proibi o uso de celulares em escolas e ambientes escolares.

Leis semelhantes estão sendo discutidas em diversos países com o objetivo de reduzir o uso de celulares e redes socias por crianças e adolescentes. A motivação reside no grande aumento de casos de transtornos mentais como depressão, ansiedade, automutilação e suicídio em crianças e adolescentes que passam horas e horas diariamente imersos na tela de seus celulares.

O psicólogo social norte-americano Jonathan Haidt passou os últimos anos pesquisando o assunto e escreveu “A Geração Ansiosa: Como a Infância Hiperconectada Está Causando uma Epidemia de Transtornos Mentais”. Lançado recentemente no Brasil pela editora Companhia das Letras, o livro já está nas listas de livros mais vendidos.

Para Jonathan Haidt, vivemos um fenômeno que ele nomeia de a Grande Reconfiguração da Infância. Nos últimos 20 anos, a “infância baseada no brincar” foi substituída pela “infância baseada no celular”. E as consequências dessa substituição estaria levando a um colapso da saúde mental de crianças e adolescentes.

A transição de uma infância à outra, nas palavras do autor, teria provocado um declínio de experiências. E os smartphones se converteram em inibidores de experiências nas mãos das crianças: “Conforme avançou a transição da infância baseada no brincar para a infância baseada no celular, muitas crianças e adolescentes se mostram perfeitamente felizes em ficar dentro de casa, na internet, mas, no processo, deixam de se expor aos desafios físicos e de experiência social que todos os mamíferos jovens precisam para desenvolver habilidades básicas, superar medos inatos e se preparar para depender menos dos pais. Interações virtuais com pares não compensam totalmente a perda dessas experiências.”

BRINCAR É O TRABALHO DA INFÂNCIA

Em “A Geração Ansiosa”, o autor demonstra que o brincar livremente, com o corpo e em espaços abertos, pode ser considerado o “trabalho da infância”: “O brincar com algum grau físico é essencial, porque ensina as crianças a cuidar de si próprias e uma das outras. Elas só podem aprender a não se machucar em situações em que poderiam se machucar, como lutando com um amigo, brincando de espadachim ou negociando o uso da gangorra com outra criança – se o fracasso da negociação puder causar dor ou constrangimento. Quando pais e professores se envolvem, a atividade se torna menos livre, menos benéfica. Em geral os adultos tendem a dirigir e proteger.”

A tese de Jonathan Haidt é de que pais e professores estão superprotegendo as crianças e adolescentes do mundo real, do mundo físico. Ao mesmo tempo não estão protegendo as crianças e adolescentes do mundo virtual (celulares, internet, games, redes sociais, etc.). E crescer em um mundo virtual pode “promover ansiedade, anomia e solidão”.

O autor demonstra, baseado em dezenas de pesquisas científicas e trabalhos acadêmicos norte-americanos que as meninas são as mais vulneráveis e vítimas das doenças mentais provocadas pelo uso excessivo do celular e das redes sociais. Entre os diversos fatores está a motivação: “As duas categorias importantes de motivação são a agência (o desejo de se destacar e produzir um efeito no mundo) e a comunhão (o desejo de se conectar e vivenciar uma sensação de pertencimento). Meninos e meninas contam com ambas, porém uma diferença de gênero é visível nas brincadeiras infantis: os meninos escolhem atividades ligadas à agência e as meninas escolhem atividades ligadas à comunhão. As redes sociais apelam ao desejo de comunhão, embora muitas vezes o acabem frustrando.”

“A Geração Ansiosa” não apenas investiga e revela o problema, mas também oferece soluções. Uma parte do livro é voltada ao que o autor chama de “ações coletivas para uma infância mais saudável”, onde apresenta uma série de práticas para tentar reverter a “pandemia de colapso mental de crianças e adolescentes”. Práticas, ações e condutas que envolvem pais, professores, escolas, governos, instituições e empresas de tecnologia.

Nascido em Nova York, em 1963, Jonathan Haidt é considerado um dos grandes nomes da psicologia social dos Estados Unidos da atualidade. Com várias pesquisas no campo da psicologia moral e da psicologia política, é autor de “A Mente Moralista” publicado no Brasil pela editora Alta Cult em 2020. Uma obra que investiga o motivo que leva as pessoas a serem segregadas pela política e pela religião.

Imagem ilustrativa da imagem Livro mostra o invisível sofrimento da infância conectada
| Foto: Divulgação

SERVIÇO:

“A Geração Ansiosa: Como a Infância Hiperconectada Está Causando uma Epidemia de

Transtornos Mentais”

Autor – Jonathan Haidt

Editora – Companhia das Letras

Tradução – Lígia Azevedo

Páginas – 440

Quanto – R$ 79,90 (papel) e R$ 39,90 (e-book)