Tudo começou com uma capelinha de peroba no meio da terra vermelha, no meio do chão batido. Uma humilde capela construída na Vila Nova como promessa de graça recebida de Nossa Senhora Aparecida. Tudo começou há mais 70 anos e hoje o lugar recebe milhares e milhares de devotos de Nossa Senhora Aparecida, a padroeira do Brasil. Para contar essa história de fé, o jornalista londrinense Fábio Luporini está lançando o livro “Trajetória de Fé – Da Capelinha ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida”. O lançamento acontece nesta quarta-feira (14), no próprio Santuário, às 20 horas.

A obra narra a história do Santuário de Nossa Senhora Aparecida do Norte do Paraná localizado na Vila Nova, construído em 1940. Um centro de orações que passou por diversas transformações ao longo das décadas. Uma história que se embaraça com o cotidiano dos habitantes da Vila Nova, bairro pioneiro de Londrina. Uma história que também se embaraça com o dia a dia da própria cidade ao longo de seus 88 anos de existência.

No processo de pesquisa para escrever o livro, Luporini realizou várias descobertas. Mas uma ele aponta como a principal: “Me surpreendi com a força de uma comunidade que atravessou gerações e, embora oficialmente comemore 70 anos como paróquia, tem mais de oito décadas de vida e de história.”

Autor de obras como “Adma – Uma História de Fé” (2016), “Sonia Secco – De Volta à Vida” (2019) e “Enfermagem UEL – 50 anos de Muitas Histórias Para Contar” (2022), Fábio Luporini, a seguir, fala sobre seu novo livro.

No livro você revela que a história do Santuário de Nossa Aparecida se entrelaça tanto com a história da Vila Nova como com a história de Londrina. Como isso aconteceu?

A primeira capelinha construída na Vila Nova data de 1940, então, Londrina tinha poucos anos quando os pioneiros do bairro “abaixo da linha do trem” começaram a viver a fé e a devoção na padroeira do Brasil. Com o tempo, a participação dos moradores do bairro foi crescendo e aumentando, até que a capelinha foi elevada à paróquia, transformando-se na segunda paróquia de Londrina, atrás apenas da matriz, hoje Catedral. Então, nesse sentido, o hoje Santuário nasceu, cresceu e se desenvolveu acompanhando o nascimento, crescimento e desenvolvimento de Londrina. É como se a vida religiosa na então paróquia fosse um retrato da própria cidade.

Em seus 70 anos de existência, o Santuário passou por várias etapas. Nasceu como capela, se transformou em paróquia e se tornou santuário. Como foi esse processo?

Londrina nasceu ligada à diocese de Jacarezinho. Então, quando o bispo de Dom Geraldo Sigaud decidiu criar uma nova paróquia em Londrina, a segunda da cidade, a comunidade da Vila Nova já tinha construído a capela e já tinha uma vivência comunitária. Além disso, a Vila Casoni, onde inicialmente seria construída uma nova igreja, enfrentou problemas de urbanização que impediam a construção imediata de um novo templo. Por isso a escolha pela capelinha da Vila Nova. Isso impulsionou a comunidade, que passou a se desenvolver ainda mais e construiu um templo de alvenaria. O trabalho dos padres e das pessoas foi crescendo e se ampliando. E isso chamou a atenção do arcebispo Dom Albano Cavallin em 1997, quando ele elevou a paróquia à Santuário, sendo o primeiro dedicado à padroeira do Brasil no Paraná. Então, tudo isso é fruto do trabalho, da fé e da devoção dos pioneiros e da comunidade.

Foto da capela de 1940 na Vila Nova que deu origem ao Santuário
Foto da capela de 1940 na Vila Nova que deu origem ao Santuário | Foto: José Oncela/ Acervo pessoal

Em “Trajetória de Fé” você mostra que realmente a comunidade teve um papel primordial em toda a história do Santuário. A que você atribui essa atuação da população?

A história de Londrina se constrói na base de muito trabalho e muita luta. Não foi diferente na Vila Nova, embora a história oficial seja negligente com a comunidade. Há muito pouco registro das pessoas e das atividades ali no bairro. Apesar disso, a comunidade tinha uma vivência paroquial: a capelinha, depois a paróquia e agora o Santuário sempre foram um lugar do encontro das pessoas. Tanto que até hoje as quermesses são famosas – já no dia da inauguração da capelinha, em 1940, foi realizada uma quermesse. Então, as pessoas participam ativamente. Ainda há pioneiros participantes e muitos filhos e netos de pioneiros que vivem e convivem no Santuário. Sem a comunidade, sem as pessoas, não haveria história para contar.

Em seu processo de pesquisa para escrever “Trajetoria de Fé”, você descobriu elementos que desconhecia e que surpreenderam?

Eu descobri um bairro vivo e pulsante, uma comunidade ativa e empenhada, um pioneirismo dedicado e fundamental para a construção de uma Londrina, mesmo estando “abaixo da linha do trem”. Eu descobri as raízes de uma comunidade intensa, recheada de história e cheia de vida. Mas, descobri e confirmei os motivos que levaram à construção da capelinha, personagens que estiveram frente a frente com João Paulo II, relatos de medo e angústia em um latrocínio testemunhado por um dos padres. Mas, sobretudo, descobri e me surpreendi com a força de uma comunidade que atravessou gerações e, embora oficialmente comemore 70 anos como paróquia, tem mais de oito décadas de vida e de história.

Nossa Senhora Aparecida recebe a devoção de grande parte da população brasileira, tanto dos católicos como dos não católicos. Por que Nossa Senhora Aparecida arrebata multidões? De onde vem essa toda essa fé?

Nossa Senhora Aparecida é uma figura que sempre esteve ao lado do pobre, do povo sofredor, ao lado da pessoa humana. Foi assim que sua imagem “apareceu” nas águas do rio e foi assim que sua devoção se inicia, em Guaratinguetá. Nossa Senhora

esteve na casa dos pescadores e, com o tempo e com sua devoção ampliada, levou até a família imperial brasileira (Dom Pedro II e, depois, a Princesa Isabel) a se “curvar” aos seus pés, pedindo-lhe bênçãos e milagres. Então, até hoje, Nossa Senhora Aparecida é uma figura religiosa que se coloca ao lado das pessoas que mais sofrem, que mais necessitam, que estão carentes material e espiritualmente. Nossa Senhora Aparecida é uma mulher e mãe do povo. Além disso, essa figura materna é acolhedora. No caso do Santuário, por exemplo, é, literalmente, a Casa da Mãe, que acolhe todos seus filhos, independentemente de quem seja.

Imagem ilustrativa da imagem Livro de Fábio Luporini traz uma história de fé
| Foto: Divulgação

Serviço:

“Trajetória de Fé – Da Capelinha ao Santuário de Nossa Senhora Aparecida”

Autor – Fábio Luporini

Editora – Kan

Páginas – 244

Quanto – R$ 50

Lançamento: quarta-feira (14), às 20h, no Santuário de Nossa Senhora Aparecida de Londrina (Vila Nova, Rua Grajaú, nº 257)