Nascido em Oriente, no interior paulista, mas radicado em Curitiba, no Paraná, Edilson Pereira é um dos melhores escritores de romances policiais da atualidade, com mais de uma dezena de livros publicados. Um dos mais recentes, “Mi Puerto Viejo Querido”, é um dos mais primorosos. Nele, o autor, além de fazer uma radiografia caprichada da ditadura civil-militar brasileira, sugere que, por trás do machismo fardado, há muito homossexualismo enrustido e cruel.

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Acompanhamos pela obra de Edilson Pereira, lançada em agosto deste ano, a trajetória de Policrates Villela de Almeida, um carioca de 29 anos, branco, culto, bonito e forte. Era capitão do exército e homem de poucas palavras que foi pego transando com um subalterno. Por essa “indisciplina”, quase que imperdoável na caserna, sofreu um corretivo: a transferência do Rio de

Janeiro para Manaus.

Sucedia que a capital do Amazonas era um lugar distante e isolado, e, mesmo que fosse para dar seu sangue pela pátria, para lá, o militar charmoso e em ascensão na carreira, não queria ir de jeito nenhum.

Aí, veio o golpe de Estado, e o capitão Policrates Villela de Almeida, sujeito culto, cabelos lisos e de um 1,73 de altura, sofreu outro castigo: foi enviado de Manaus, para ser o interventor de Rondônia, e passou a morar em Porto Velho.

O livro de Edílson Pereira tem 221 páginas. Com virtuosismo, o autor reconstituiu ficcionalmente, por meio de relatos orais, parte da carreira de um capitão já falecido, no qual seu personagem foi inspirado. Consta que nos arquivos oficiais sumiram com todos os registros da passagem do capitão opressor que viveu na região amazônica.

Em Porto Velho, ele prendeu e destituiu autoridades. Impôs o medo e forçava detidos, em nome do regime de exceção, a fazer sexo com ele. E foi um desses presos que conseguiu escapar das garras libidinosas do capitão e revelar que ele era pederasta. Bastou uma pessoa abrir a boca, para várias outras histórias lascivas - e que repousavam submersas nas águas do rio Madeira - começassem a emergir.

Artistas, militantes de esquerda, servidores públicos e estudantes sofreram com as prisões políticas do capitão do exército, que tomou, também, medidas moralizadoras “em nome da ordem e do progresso”, proibindo, por exemplo, bailes e brincadeiras dançantes em Porto Velho.

Quando os seus serviços de intervencionista não interessavam mais ao regime militar, Policrates Villela de Almeida, nome fictício dado por Edílson Pereira a um personagem real - foi mandado de volta a Manaus e, em seguida, para o Rio de Janeiro. Dizem que até a fotografia do capitão sumiu da galeria dos ex-governantes de Rondônia.

De retorno à Cidade Maravilhosa, não ganhou promoção. Na verdade, foi colocado a escanteio, pelos superiores, indo precocemente para a reserva remunerada. E o mais cruel: acabou covardemente morto por um parceiro da noite. Morava sozinho, foi encontrado quase nu na cama, com a barriga para baixo, tinha apenas 42 anos.

UM AUTOR PREMIADO

Edilson Pereira, além de escritor, é dramaturgo e jornalista. Trabalhou em O Diário do Norte do Paraná, Agência Folhas, Folha de Londrina, O Estado do Paraná e Tribuna do Paraná. Entre os seus principais livros destacam-se “Tua morte será minha vingança”, “O perfume de Lorena Maldini” e “Sangue na sessão noturna do cine Maringá”. Foi laureado com o Prêmio Paraná de Jornalismo em 1985 e 1986. E com o Prêmio Funarte de Dramaturgia em 2003 e 2004.

Imagem ilustrativa da imagem Livro aborda a glória efêmera de um capitão
| Foto: Divulgação

SERVIÇO

“Mi Puerto Viejo Querido”

Autor – Edílson Pereira

Editora – Selo Cartagena das Índias/ Editora Baskerville.

Páginas – 221

Quanto – R$40,00

Onde encontrar – pelo e-mail [email protected]

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