No imaginário da cidade, José Hosken de Novaes (1917 – 2006) detém a aura de um dos melhores políticos que Londrina produziu em seus 87 anos de existência. Considerado um dos raros homens que saiu da política mais pobre do que entrou, Hosken acaba de ganhar uma biografia escrita pelo jornalista e escritor londrinense José Antonio Pedriali: “José Hosken de Novaes – O Homem Que Não Se Corrompeu.”

Lançada pela editora Casa Itália, a obra apresenta um panorama da vida e das realizações do advogado que exerceu os cargos de prefeito de Londrina e governador do Paraná de maneira diferenciada. Nascido em Carangola, pequena cidade de Minas Gerais, fixou residência em Londrina 1940, com 23 anos. Na cidade atuou como advogado, procurador e professor. Como prefeito, exerceu mandato de 1963 a 1968, quando criou a Sercomtel e as primeiras casas populares cidade. Faleceu em 2006, em sua residência situada na Rua Purus, na Vila Nova.

Na biografia, José Pedriali apresenta muitas das histórias que cercam Hosken de Novaes e estruturaram sua imagem de honestidade, simplicidade, cordialidade, competência e eficiência. A principal novidade do livro está em trazer a reprodução de artigos escritos e discursos proferidos por Hosken ao longo de sua atuação como advogado, político e cidadão.

A seguir, José Antonio Pedriali fala sobre o livro e as particularidades de Hosken de Novaes.

No livro você apresenta Hosken de Novaes como um homem virtuose em honestidade. Um dos raros homens que saiu da política “mais pobre do que entrou”. Como ele conseguiu essa façanha inacreditável para os dias de hoje?

De fato, nos dias de hoje é praticamente inconcebível que alguém que se dedique à vida pública não seja apenas honesto como também se prejudique financeiramente exercendo essa atividade. Pois a vida pública converteu-se em sinônimo de corrupção, mamatas, vantagens indevidas, etc. E não é à toa. Foge ao objetivo do livro explicar porque isso acontece na atualidade, e qual foi o processo que nos conduziu a esse estado, mas a história brasileira é pródiga em homens públicos que se sacrificaram para o bem público. Getúlio Vargas é um deles, um entre muitos. No caso de Londrina, tivemos uma sucessão de prefeitos competentes e probos, e o mesmo se aplica ao governo estadual. Hugo Cabral, Milton Menezes, Antônio Fernandes Sobrinho, Hosken de Novaes, prefeitos da velha guarda, honraram o mandato que obtiveram. O caso de Hosken é emblemático porque, para se manter como prefeito, no período no qual se afastou de seu escritório de advocacia, teve de vender três imóveis de sua propriedade para sobreviver. Quando no governo estadual, primeiro como vice, depois como governador, também se licenciou do escritório, dependendo integralmente do salário.

Você apresenta uma série de ações de Hosken pouco conhecidas. Quais realizações de Hosten, como prefeito e advogado, você apontaria como as mais importantes para a história da cidade?

Como prefeito, Hosken investiu em infraestrutura, abertura de avenidas, pavimentação asfáltica das já existentes, estradas rurais, ampliação da rede de água e esgoto e construção do Sercomtel. Como advogado, foram milhares de causas, começando pela resolução dos conflitos entre proprietários de terras e arrendatários no início da colonização do Norte do Paraná e a solução dos conflitos fundiários no Sudoeste, causa que chefiou, gratuitamente, por encomenda do governador Bento Munhoz da Rocha.

José Hosken de Novaes: artigos e discursos regastados no livro documentam sua cultura e espírito público
José Hosken de Novaes: artigos e discursos regastados no livro documentam sua cultura e espírito público | Foto: Reprodução

O grande elemento inédito do livro está na reprodução de artigos e discursos proferidos por Hosken ao longo de sua carreira de político e advogado. Como você resgatou esse material?

Os artigos e discursos do Hosken documentam sua cultura e espírito público. Os artigos foram publicados em sua maioria pelo “Paraná Norte”, primeiro jornal da região, no início da década de 1940, quando ele chegou a Londrina. E os discursos, feitos de improviso e transcritos pela assessoria do Palácio Iguaçu, foram preservados pelo ex-chefe da Casa Civil Francisco Borsari Neto, que os entregou ao jornalista Antônio Claret de Rezende. Londrinense radicado em Curitiba, Claret, falecido em 2018, conservou o maior acervo de documentos e fotos de Hosken, indispensáveis para a elaboração do livro. O acervo foi doado ao Museu Histórico de Londrina.

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Apesar de escrever artigos e discursos, de ser um leitor voraz de literatura e história, de ter uma das maiores bibliotecas particular da cidade, Hosken não deixou nenhum livro escrito. Qual seria a razão para isso?

Como registro em meu trabalho, Hosken não escreveu nenhum livro, mas sua vida merece uma enciclopédia, tamanha a sua cultura, competência profissional, abnegação e respeito à coisa pública. Talvez ele não escreveu por falta de tempo. Hosken foi professor pioneiro do curso de Direito de Londrina, e suas aulas de Direito Civil ficaram na memória dos alunos por sua capacidade didática e conhecimento profundo do que ensinava. Como advogado, dificilmente perdia uma causa, e como administrador, além de competente, era rigoroso ao extremo com o dinheiro público. Cito no livro, por exemplo, o episódio em que ele expulsou de seu gabinete na prefeitura um vendedor de cimento que ofereceu propina.

Hosken está enterrado no Cemitério Padre Anchieta, situado no Jardim Ideal, um cemitério criado por ele mesmo em sua gestão como prefeito da cidade. Hoje seu túmulo pode ser chamado de “túmulo desconhecido” pois não possui nenhuma lápide com seu nome. A lápide de bronze foi roubada há um bom tempo. Como um ex-prefeito de Londrina, ex-governador do Paraná, conseguiu ficar completamente invisível e insignificante?

É lamentável o vandalismo praticado na sepultura dele, na qual repousa também o corpo de sua esposa Adelina Castaldi, assim como na maioria das sepulturas de Londrina. Mas, ao mesmo tempo, o anonimato a que foi submetido após a morte corresponde ao vaticínio que fez ao deixar o Palácio Iguaçu, em 1983, e que resume a sua modéstia: “Vou me recolher à minha insignificância”.

Na biografia você demonstra que Hosken possuía uma ideologia liberal e, ao mesmo tempo, defendia os direitos dos comunistas. Como é essa história?

Militante da União Democrática Nacional (UDN) quando se elegeu prefeito, Hosken foi chamado ao Palácio Iguaçu pelo governador Ney Braga em 31 de março de 1964 para redigir o manifesto de apoio ao golpe militar. E, dias depois, liderou, com o então bispo dom Geraldo Fernandes, uma gigantesca manifestação pública no centro de Londrina em solidariedade às Forças Armadas. Isso, no entanto, jamais o impediu de defender, muitas vezes gratuitamente, quem quer que seja, o que incluía os opositores do regime. Um dos casos que cito no livro é do médico comunista que perdeu clientela depois do golpe e Hosken o empregou num posto de saúde. Ele foi o último governador do Paraná indicado pelos militares. E se recusou a usar a máquina pública para favorecer o candidato do regime, que era o engenheiro Saul Raiz. O vencedor foi José Richa, opositor do regime.

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. | Foto: Reprodução

Serviço:

“José Hosken de Moraes – O Homem Que Não Se Corrompeu”

Autor – José Antonio Pedriali

Editora – Casa Itália

Páginas – 290

Patrocínio – Promic

Quanto – R$ 40

Onde Encontrar – Sebo Capricho (Rua Mato Grosso, 211 e Praça 7 de Setembro, 50) e

Estante Virtual (www.estantevirtual.com.br)