Dono de uma obra singular e de inquestionável qualidade musical, João Bosco é autor e intérprete de várias canções que estão eternizadas no inconsciente coletivo nacional. Traduzindo em crônicas melodiosas os diversos sentimentos que rodeiam o povo brasileiro, o cantor, compositor e violonista mineiro chega a Londrina neste final de semana com a turnê comemorativa de seu meio século de dedicação à arte. A apresentação acontece no sábado (11), às 20 horas, no Teatro Mãe de Deus.

De forma intimista, acompanhado de seu fiel companheiro: o violão, João Bosco passeia por um repertório marcado por músicas que se tornaram clássicos na voz de Elis Regina na década de 70 até chegar a canções presentes no seu álbum mais recente, “Abricó de Macaco”. Canções emblemáticas como “O Bêbado e a Equilibrista” “Incompatibilidade de Gênios”, “Linha de Passe”, “Coisa Feita”, “Corsário” e muitas outras fazem parte do repertório do show que celebra cinco décadas de carreira artística.

A estreia de Bosco no mercado discográfico nacional se deu em 1972, quando o cantor e compositor teve sua primeira música lançada pela série Disco de Bolso, projeto do jornal O Pasquim. Naquela época o periódico trazia encartado em sua edição semanal um single duplo de vinil que reunia do lado A uma gravação inédita de um grande ídolo da MPB e no lado B apresentava um artista até então desconhecido. João surgia com a gravação de “Agnus Sei”, que dividia as atenções com nada menos que “Águas de Março”, de Tom Jobim.

“Há 50 anos, um “tal de João Bosco” era apresentado ao Brasil. Seu violão barroco, mineiro andaluz, encontrara o bardo do Rio profundo, de nome Aldir. E esse encontro mudaria a história da música brasileira. A estreia, Agnus sei, com sua melodia misteriosa, de divisões surpreendentes, e sua letra profana e irônica, prefigurava as obras-primas por vir”, escreveu o filósofo Francisco Bosco nas redes sociais em texto alusivo ao meio século de carreira de seu pai.

GRANDES PARCEIROS

Sobre a brilhante parceria de João Bosco e Aldir Blanc, Francisco ainda destacou que no disco seguinte, "Caça à Raposa" a dupla atingiu a perfeição. "Melodias contagiantes, sem serem vulgares; versos extraordinários, porém ao rés-do-chão. Crônica, crítica, humor, violência – o Brasil dos anos de chumbo estava ali cantado e decantado em forma máxima”, descreveu ao elogiar o talento do pai. “É grande compositor (ao lado de diversos parceiros), grande violonista e grande cantor – ao mesmo tempo. Intuitivo e construtivo. Lírico e engenheiro. Muitas de suas canções se tornaram patrimônio cultural e individual dos brasileiros. Morou a vida inteira dentro da casca do seu violão, de onde mudou a música brasileira”, ressaltou.

Nas palavras de Francisco, seu filho, João Bosco "morou a vida inteira dentro da casca de seu violâo, de onde mudou a música brasileira"
Nas palavras de Francisco, seu filho, João Bosco "morou a vida inteira dentro da casca de seu violâo, de onde mudou a música brasileira" | Foto: Flora Pimentel/ Divulgação

Embora tenha Aldir Blanc como seu parceiro mais constante, João Bosco também compôs músicas com outros grandes letristas. Dentre eles Vinicius de Moraes, Chico Buarque, Capinam e Martinho da Vila. Marcado pela invenção e arranjos equilibrados entre a forma da canção e a elaboração instrumental, o artista possui uma produção variada que passeia entre o samba, o bolero, e as baladas. “João tensionou por dentro a forma canção, implodindo-a, fazendo as palavras regressarem a seu estado primal de fonemas e o ritmo tomar conta de tudo”, salienta o filho filósofo.

Nascido em Ponte Nova, cidade do interior de Minas Gerais, João Bosco se aproximou da música ainda na infância quando começou a cantar em missas e a estudar violão. No início da década de 1960, mudou-se para Ouro Preto para estudar mineralogia e, depois, engenharia civil. Em 1967, compôs três canções com Vinícius de Moraes (1913-1980): “Rosa dos Ventos”, “Samba do Pouso” e “O Mergulhador”.

Foi alçado ao primeiro time da MPB logo após lançar sua primeira música em disco. Encantada com “Agnus sei”, Elis Regina passou a gravar músicas da dupla Bosco & Blanc, de quem interpretou “Bala com Bala”, “Transversal do Tempo”, “Caça a Raposa” e “Dois pra lá, dois pra cá”. Também fizeram sucesso na voz da Pimentinha canções de cunho político, como “Mestre-Sala dos Mares” (1974) - homenagem a João Candido (1880-1969), marinheiro negro, líder da revolta da Chibata em 1910; e “O Bêbado e o Equilibrista” (1979), considerada um hino de combate à ditadura militar.

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Em mais de 30 discos lançados, João também deu voz a diversos hits românticos, como “Papel Marchê”, “Jade”, “Desenho de Giz” e “Quando o amor acontece”. A enciclopédia Itaú Cultural descreve a obra de Bosco como difícil de atribuir-lhe um estilo, pois sua vasta produção mistura e experimenta diversas sonoridades e faz referência a diferentes gêneros musicais do século XX. "Em suas canções, percebe-se a influência do choro de Ernesto Nazareth; do samba carioca dos anos 1930; e dos boleros de Ravel. Outra característica marcante é a divisão rítmica e harmônica das canções, que o aproxima do jazz estadunidense”, diz o texto.

Serviço:

Show João Bosco – 50 anos de carreira

Quando - Sábado (11), às 20 horas

Onde - Teatro Mãe de Deus (Av. Rio de Janeiro, 670)

Quanto – A partir de R$ 143

Ponto de venda - Disk Ingressos

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