Toda vez que começo a escrever essas linhas gastronômicas, a cada semana, pesa na minha consciência que, enquanto falamos da alta gastronomia, de ingredientes, de pratos diferentes e típicos, há inúmeras pessoas passando fome e sede por aí. Nos últimos dois anos, as consequências da pandemia do coronavírus potencializaram uma situação de negligência estatal que leva muitas pessoas em situação de rua a empunharem cartazes pedindo ajuda, seja em dinheiro ou seja em forma de comida. Quando é que nós falhamos como sociedade?

Expoente da Escola de Frankfurt, o filósofo Walter Benjamin dizia que “Deus é quem nutre todos os homens, e o Estado é quem os reduz à fome”. De fato, o Estado é capaz de solucionar esse problema, mas, em vez disso, prefere destinar recursos para outras finalidades, desde o orçamento secreto, as emendas parlamentares, os investimentos eleitoreiros. Quer um exemplo dessa negligência? O programa Alimenta Brasil tinha, em 2012, R$ 586 milhões para combater a fome. Em 2021, foram R$ 58, 9 milhões e, até maio de 2022, apenas R$ 89 mil.

Por outro lado, multiplicam-se por aí iniciativas que fazem arregaçar as mangas para oferecer um prato de comida a quem precisa. Outro dia, vi um motorista de um veículo, parado no semáforo, oferecer um pacote de salgadinho a um pedinte. Além disso, a amiga Hellen Mazzei compartilho nas redes sociais uma ideia importante: deixar no carro alguns pacotes de bolacha para oferecer a quem pede ajuda. Assim, sempre teremos como ajudar a quem precisa. Fora tudo isso, acompanho a amiga Receba Ribeiro que participa de um projeto que prepara marmitas e sai pelas ruas distribuindo alimentos.

Quando o Estado não faz a parte dele, é preciso que voluntários o façam. Mahatma Gandhi já dizia que “cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência. Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário, não haveria pobreza no mundo e ninguém morreria de fome”. Então, é preciso valorizar o esforço das pessoas que gastam tempo, energia e recursos para saciar a fome de quem precisa, uma necessidade imediata. Mas, também, é preciso que a gente cobre das autoridades, dos políticos e dos governos constituídos, seja quem for e em qualquer tempo, que não fechem os olhos para essa realidade.

Ao que me parece, em vez de evoluirmos como sociedade, no pós-pandemia, andamos alguns passos para trás. Entretanto, sempre tenho esperanças de podermos ser melhores. Quando vamos encarar a fome como um verdadeiro problema social e buscaremos soluções reais para isso?

...

A opinião do colunista não reflete, necessariamente, a da Folha de Londrina.

...

Receba nossas notícias direto no seu celular, envie, também, suas fotos para a seção 'A cidade fala'. Adicione o WhatsApp da FOLHA por meio do número (43) 99869-0068 ou pelo link