No palco, o espetáculo “Karaíba - Um Musical Originário” propõe ao público um exercício de imaginação sobre como seria a vida nas terras brasileiras antes da invasão dos portugueses e suas caravelas. Dando voz à cultura indígena, o espetáculo é uma odisseia sonora teatral que dialoga com todos os públicos, assim como o livro “O Karaíba: Uma História do pré-Brasil”, de Daniel Munduruku, em que foi baseado.

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A produtora e idealizadora Juliana Gonçalves relata que o trabalho envolvendo o espetáculo começou em 2020, durante a pandemia da Covid-19. Ela, que também é historiadora, estava pesquisando a história do Brasil a partir da ótica de pesquisadores indígenas. “E aí me deparei com o livro do Daniel e entrei em contato com ele, no desejo de transformar esse livro em um espetáculo teatral”, diz. O autor topou o projeto e eles começaram a conversar sobre a adaptação.

No ano seguinte, a partir de um edital de fomento à cultura da cidade do Rio de Janeiro, o espetáculo começou a ser realizado. A equipe foi montada a partir de uma parceria com a Aldeia Maracanã, que é uma aldeia urbana do Rio, o que possibilitou que 17 dos 27 profissionais envolvidos na produção sejam descendentes de povos originários.

A história de "Karaíba" [nome que os indígenas dão aos brancos] é uma adaptação do livro homônimo e narra como três aldeias lidam com a profecia de um sábio itinerante. A partir de um sonho, o personagem relata que fantasmas estrangeiros vão chegar a essas terras e que a união dos povos é necessária. “Mas as aldeias interpretam essa profecia de forma diferente e o Perna Solta, que é o protagonista dessa história, é o encarregado de corrigir o erro de interpretação para que eles não entrem em guerra entre si”, conta Gonçalves, acrescentando que a obra também traz, em seu segmento final, um apanhado da situação dos povos originários no Brasil.

"Karaíba" : adaptado de um livro homônimo de Daniel Munduruku, espetáculo narra como três aldeias lidam com as profecias de um sábio
"Karaíba" : adaptado de um livro homônimo de Daniel Munduruku, espetáculo narra como três aldeias lidam com as profecias de um sábio | Foto: Brigiti Bandini/ Divulgação/ FILO 2023

A produtora diz que “Karaíba” possibilita espalhar as palavras de Munduruku, já que muitas pessoas não sabem ler ou não têm condições de comprar o livro. Assim, ela acredita que essa “é uma oportunidade de acessar o conteúdo do livro sem necessariamente ter o livro”, e que o teatro é importante para discutir temas que “às vezes são difíceis de debater em uma roda de conversa”.

“Ultimamente o diálogo tem sido muito agressivo, desde o último governo [do ex-presidente Jair Bolsonaro], que era muito ‘anti-diálogo’. Acho que o teatro possibilita assistir a uma coisa, refletir sobre essa coisa e você ir debatendo e entendendo isso aos poucos, ao longo das conversas”, acrescenta.

Gonçalves convida o público do FILO (Festival Internacional de Londrina), que poderá acompanhar Karaíba na quarta (28) e quinta-feira (29), no Espaço Villa Rica, a ir “aberto, leve e disponível para a troca”, já que ao mesmo tempo que esse é um espetáculo musical e lúdico, também é sensível e profundo. O público pode esperar emoção.

“O FILO veio como uma surpresa muito grande. Quase não acreditei quando veio o convite. É um festival muito importante, muito renomado, com uma visibilidade incrível. É uma honra dividir esse mesmo festival com tantos grupos e obras que tocam em temas tão sensíveis”, diz.

DEMOCRATIZAR

A produtora de Karaíba também afirma que é importante democratizar o teatro, e cita a experiência positiva que o espetáculo teve em sua primeira temporada, entre dezembro de 2021 e janeiro de 2022, quando indígenas não precisaram pagar para ver a montagem. “O que nós vimos é que muitas pessoas indígenas foram de fato nos assistir, não só pela gratuidade, mas principalmente porque elas estavam se vendo em cena e vendo uma história importante”, ressaltando que o teatro ainda é elitizado e que são necessários esforços para facilitar o acesso.

O OLHAR DA PRODUTORA

A produtora Juliana Gonçalves fala sobre o significado de “Karaíba”

Juliana Gonçalves: "Karaíba significa a possibilidade de fazer teatro de forma mais comunitária"
Juliana Gonçalves: "Karaíba significa a possibilidade de fazer teatro de forma mais comunitária" | Foto: Gustavo Paixão/ FILO 2023

“Como ‘Karaíba’ começa na pandemia, eu acho que para mim significa a superação de um momento muito difícil. Significa a realização de um processo muito longo, mas que precisou de ter acreditado até em momentos que não dava para acreditar em nada. Ele representa pra mim a possibilidade de fazer teatro de uma forma mais comunitária, porque a gente só conseguiu nosso elenco e nosso grupo da ficha técnica através da Aldeia Maracanã. Karaíba pra mim significa rede, superação e muitas outras coisas.”

SERVIÇO

FILO 2023

Karaíba – Um Musical Originário

Local: Espaço Villa Rica (rua Piauí, 211)

Datas: quarta (28) e quinta-feira (29), às 19h

Ingressos: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia-entrada) no site do Filo (www.filo.art.br) ou na plataforma Sympla (https://www.sympla.com.br/evento/karaiba-um-musical-originario-rio-de-janeiro-rj/1996123).

Patrocínio: Prefeitura de Londrina / Secretaria Municipal da Cultura / Programa Municipal de Incentivo à Cultura (Promic).

Apoio: Universidade Estadual de Londrina – Casa de Cultura, Espaço Villa Rica, Fecomércio/Sesc-PR, Kery Grill, Rádio UEL FM, EJ Rosa Amarela, Folha de Londrina, Laboratório de Cenografia e Cenotécnica, Sanepar/Governo do Estado do Paraná, Canto do Marl e Vila Triolé Cultural. Realização: Associação dos Profissionais de Arte de Londrina.